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PORK’S – A CASA NOTURNA QUE AGITOU NAVEGANTES NOS ANOS 90

Porks Bar Navegantes

No fim da década de 1990, um bar com a imagem de um porco esculpida em madeira chamava a atenção de quem passava pela Praça da Praia Central. No local, bandas e músicos animavam o público formado por jovens que poucas opções tinham de diversão. Com o nome de Pork’s Bar, a casa noturna, localizada na avenida Prefeito Cirino Adolfo Cabral, marcou uma geração e é lembrada até hoje em Navegantes.

A história do lugar onde começou o Pork’s é mais antiga que a própria casa noturna. Antes da emancipação político-administrativa de Itajaí em 1962, um clube já agitava as matinês da juventude da década de 1950, como conta o criador do Pork’s, o navegantino Lierte José Laurentino.

– Nos anos 50, no local onde funcionava o Pork’s Bar, surgiu o conhecido Salão do Figura, onde nas tardes de domingo aconteciam as famosas domingueiras e na época da Páscoa era realizada a Farra do Boi. Encerrando suas atividades no final dos anos 50 – explica.

O fechamento do Salão do Figura não decretou o fim do ponto de encontro dos jovens de Navegantes. Uma festa de aniversário mudou tudo e projetou o que viria a ser o Pork’s anos mais tarde.

– No início dos anos 60 o imóvel foi adquirido pelos meus pais, conhecidos como seu Alcebíades e dona Coca. Permaneceu fechado até o início dos anos 70, quando o meu irmão Zezé resolveu comemorar seu aniversário usando um toca discos de vinil Philips, onde a caixa de som era a tampa do aparelho muito conhecido na época. Foi um tremendo sucesso, fazendo com que ele viesse a abrir todos os sábados a pedido dos amigos. O pessoal levava suas próprias bebidas – lembra Lierte.

Depois da festa de aniversário do irmão Zezé, os encontros continuaram e a quantidade de pessoas aumentou ao ponto de ser cobrado ingresso.

– Com o sucesso e a quantidade de pessoas, passou a fornecer a bebida e também a controlar a entrada de pessoas cobrando um cruzeiro a entrada. Nesse momento nasceu o “Marvel Som”, mas o nome não caiu na graça do povo, onde ganhou o apelido de “Capim Gordura” e já era comentário não só em Navegantes, como em toda a nossa região. O encerramento das atividades aconteceu no ano de 1974, quando meus irmãos iniciaram seus estudos universitários. Lembro dos jovens da época indo na nossa casa implorando para que não fechasse.

Pork’s

Depois do Capim Gordura, outros bares e discotecas apareceram em Navegantes. Entre as décadas de 1970, 1980 e 1990, a diversão noturna ficou por conta do Zanzibar, Leca, Chapelão, Litoral’s Bar, Cataventos, Trem das Onze e Dinossauros. Igual ao antigo Marvel Som, essas casas noturnas também fecharam com o tempo.

Mais de 20 anos depois do fechamento, casa noturna de Navegantes é lembrada até hoje .

– Naquela época a área central de Navegantes era carente de casas noturnas. A juventude tinha que deslocar para o Gravatá, onde funcionava o Cataventos ou para as cidades vizinhas. O único divertimento era a praia e a Praça Central, sempre lotada de jovens para os xavecos.

A falta de opções de lazer foi o incentivo que Lierte precisava para começar algo novo e no mesmo lugar onde surgiu o Salão do Figura na década de 1950.

– Diante desta situação, no final do verão dos anos 90, já com a avenida Prefeito Cirino Adolfo Cabral, surgiu o Pork’s Bar, idealizado por mim e meus amigos de infância Aurélio Cirino Cabral (Lelo) e José Cláudio Pacheco (in memoriam) – conta Lierte.

O filme norte-americano “Pork’s – A casa do amor e do riso”, de 1982, inspirou o nome da casa noturna de Navegantes. O longa retrata um grupo de amigos do sul da Flórida, em 1954, durante seus últimos anos no colégio. No filme, eles estão mais preocupados em aproveitar a vida do que estudar. Eles procuram então o Pork’s, um bordel cujo dono se chama Porky.

– O filme Pork’s na nossa época fazia muito sucesso, levando os sócios por unanimidade batizar o local de Pork’s Bar. O monumento de entrada do Pork’s foi executado por um artista navegantino.

No primeiro ano, a casa noturna funcionou como um bar e oferecia um cardápio de porções e coquetéis diversos. O público se divertia na pista de dança e com as apresentações musicais. No palco do Pork’s passaram bandas regionais que marcaram gerações de navegantinos. Estatura Mediana, Asas de Verão e Grupo Pileque foram algumas delas.

– O Pork’s foi sucesso desde a sua inauguração até o seu encerramento. Não demorou muito para controlar o acesso do público, pois o espaço não suportava. Iniciou-se através de uma cobrança de ingresso.

Uma das inúmeras bebidas servidas no Pork’s era o Capeta do Lelo, que segundo Lierte ficou famosa na época. Ele cita também outra atração muito procurada pelos clientes.

– O Capeta do Lelo era muito solicitado. Capeta é uma batida que explodiu no carnaval da Bahia nos anos 1980 e desde então não saiu mais de moda, conquistando seu espaço em bares, baladas e praias de todo o Brasil. Sua mistura é composta basicamente por vodca, leite condensado e poupa de fruta. O povo adorava também os desfiles de lingerie e da camiseta molhada. O público era formado por todas as idades, dos 18 aos 60 anos.

Curiosidades

Durante os seis anos que funcionou, muita coisa aconteceu no Pork’s e curiosidades não faltam. Entre os fatos que marcaram a casa noturna, Lierte lembra o abandono de um baterista durante uma apresentação.

– Teve uma banda que pediu intervalo na primeira música, pois a bateria não parava no lugar. O pedal quebrou, fazendo que o baterista com raiva abandonasse o palco. Na confusão, o cantor não achava mais o microfone. Tivemos que encerrar a apresentação e voltar a nossa segunda opção que era o DJ. Continuamos sem prejuízo para o Pork’s.

Segundo Lierte, a sociedade terminou devido aos compromissos dele e dos sócios.

– E como aconteceu com o Capim Gordura, o encerramento das atividades aconteceu quatro anos após a inauguração, pois não conseguíamos mais conciliar nossos trabalhos de outras atividades com o Pork’s, ficando na saudade de todos os frequentadores – lamenta.

Eurodance, Axé e Pagode

Com o fim da sociedade, o Pork’s foi arrendado para o então DJ Sérgio de Souza, o Schultz. Ele administrou a casa noturna de 1999 até 2001, quando aconteceu seu fechamento em definitivo.

– No primeiro ano do Pork’s eram três casas noturnas que tinha ali colado. Tinha o Casca Grossa, o Convés e o Pork’s. No segundo ano, já não tinha mais o Convés. Eu toquei desde o primeiro ano no Pork’s. No terceiro ano, eu fui para o Casca Grossa e fiquei lá dois anos. Depois eu voltei para o Pork’s. Eu toquei mais um ano com o Lierte e mais dois anos como arrendatário – conta.

Na função de DJ, Schultz tocou por seis anos e recorda dos estilos musicais da época e do sucesso que fazia o Pork’s.

– Começou como um bar dançante e não se cobrava entrada Depois foi fechado e virou uma danceteria. Eu tocava nas sextas-feiras e sábados. Foi uma época que se tocava um pouco de eurodance, mas foi também que apareceu bastante axé. Foram ótimas temporadas, todas elas. No último ano é que ficou um pouco mais fraco – lembra.

Schultz cita dois momentos que marcaram sua vida no Pork’s. Um no réveillon de 1997 para 1998 e outro no carnaval do ano 2000.

– Eu tenho um do réveillon de 1997 para 1998, quando funcionava como bar e não era fechado. Os dois lados eram terrenos vazios e a gente colocou caixa de som para fora porque não cabia todo mundo. Não é que lotou 100%, lotou 300%. No dia desse réveillon tinha umas 3.500 pessoas. No carnaval do ano 2000, quando terminou o Navegay, o pessoal entrou no Pork’s e teve superlotação no estágio máximo. Para mim chegar e poder tocar eu passei muito trabalho. Quando abriu a porta, o povo invadiu, foi fantástico – finaliza o ex-DJ.

Sérgio Schultz
Grupo de pagode Pileque foi uma das bandas que tocou no Pork’s. Dois integrantes do grupo chegaram a arrendar a casa noturna

Além de Schultz, quem também arrendou o Pork’s, mas por pouco tempo, foi o ex-integrante do Grupo Pileque, David Costa. Cazuza como é popularmente conhecido, conta que o som eletrônico dominava as pistas do Pork’s.

– Nós pegamos no final, eu e o Rafael Sedrez. Ficamos quatro meses porque tínhamos o Pileque para tocar. O Pileque tocava de quarta a domingo. A gente só colocava som mecânico. O forte ali era os eletrônicos da época. A gente não tocava a noite toda pagode até porque o pessoal não ia aguentar – brinca.

Para Cazuza, o diferencial da casa noturna era a imagem do porco na entrada, além do ambiente e da música.

– Ali era diferenciado. Chamava atenção à entrada aquele porco. A gente passava por dentro dele. O porco era de madeira e ao redor dele tinha marquises, como camarotes, tudo de madeira. Tinha um estacionamento bom atrás e nos lados. O Pork’s era o point da gurizada. Naquela época a noite de Navegantes era muito forte – recorda Cazuza.

Depois do último arrendamento, o terreno onde funcionava o Pork’s foi vendido e no seu lugar erguido o Residencial Ilha de Santorini.


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