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OS DESAFIOS DO SETOR PESQUEIRO PARA OS PRÓXIMOS 10 ANOS

Investir em pesquisa e aumentar o consumo de pescado no Brasil são os dois grandes desafios do setor pesqueiro para os próximos 10 anos. Em entrevista exclusiva para o Jornal nos Bairros, o novo presidente do Sindicato dos Armadores e das Indústrias da Pesca de Itajaí e Região (Sindipi), Agnaldo Hilton dos Santos, falou sobre as prioridades para o setor pesqueiro, a relação com o Ministério da Pesca e Aquicultura, sustentabilidade e a suspensão da pesca industrial da tainha em 2023.

Associado do Sindipi há 15 anos, Agnaldo Hilton dos Santos já foi delegado, coordenador da Câmara Setorial do Cerco, secretário de Pesca de Itajaí e atualmente é vice-presidente para assuntos relacionados à pesca da Associação Empresarial de Itajaí.

JB – Na sua gestão, como será o trabalho para o próximo triênio?

Agnaldo – Na minha gestão, vou fazer uma parceria com o Sebrae para que a gente possa ter uma estimativa da pesca daqui há dez anos. Vamos fazer um planejamento estratégico e observatório para ter dados específicos de como é que vai ser a pesca. Vamos coletar dados nós mesmos, já que o governo não cumpre a parte dele. A gente vai falar o que é real, não no chutômetro, nada de achismos.

JB – Como será feito esse investimento em pesquisa?

Agnaldo – A Pesquisa é fundamental e por isso nós temos estas parcerias. O que nos aproxima muito mais é a academia. A Univali hoje é uma grande parceira nossa. Nós estamos fazendo observação de bordo, coletando dados para se manter estatisticamente seguros. A última estatística pesqueira feita pelo governo já faz dez anos. Então temos que nos atualizar. Hoje nós temos um imbróglio com a tainha, corvina, sardinha e tudo mais. Interessante é ter cada vez mais estas parcerias com os pescadores, com armadores e colocando a bordo observadores.

JB – O que o Sindipi espera com a volta do Ministério da Pesca e Aquicultura?

Agnaldo – O Ministério da Pesca é o nosso endereço. Então nós temos onde bater à porta. O que não podemos hoje é ficar à mercê, que lamentavelmente surgiu nos primeiros governos foram às gestões compartilhadas. O compartilhamento com o MMA (Ministério do Meio Ambiente) a gente não quer. O que a gente quer é uma gestão participativa. O Ministério da Pesca faz a demanda e pede um conselho do Ministério do Meio Ambiente.

JB – Em 2019, foi criada a Secretaria Especial da Pesca e com um representante de Itajaí ligado ao setor, hoje o senador Jorge Seif Júnior. Houve algum avanço nestes últimos quatro anos?

Agnaldo – Proporcionalmente a gente esperava muito mais. Também uma Secretaria que não tinha muito recursos. O setor abraçou, se colocou à disposição, só que não houve muita contrapartida da Secretaria. Esperamos agora com o Ministério conseguir alinhar com as nossas demandas e quem sabe montar uma estrutura forte para que possamos desenhar outro setor.

JB – Na sua fala de posse, o novo ministro da Pesca e Aquicultura, André de Paula, pregou a promoção do desenvolvimento sustentável da pesca. Como é que o Sindipi trabalha com a questão da sustentabilidade e os defesos?

Agnaldo – Na questão dos defesos, eu acho que a gente tem se comportado dentro da demanda que os defesos são respeitados. Isso é bom até mesmo para o recrutamento. Na questão da sustentabilidade, a gente tem que ver o seguinte. Nós, dentro do que foi feito nos últimos anos, pensamos numa pesca muito melhor, ou seja, pescar menos e ganhar mais. Só que a gente tem que ver que infelizmente nem tudo ocorre como a gente quer. Há incentivos por parte dos armadores perante os pescadores para que não se coloque lixo, plástico, material para fora. Na questão sustentável é não extrapolar o tamanho da biomassa. A gente tem que sempre pensar na pesca, como falei, para os próximos 10, 50 e 100 anos.

JB – Em 2023, a pesca industrial da tainha está proibida em todo o Sul e Sudeste do Brasil. A decisão foi divulgada em uma portaria publicada pelos Ministérios da Pesca e Meio Ambiente. A justificativa é tornar a atividade mais sustentável. O que o sindicato pretende fazer para reverter à decisão?

Agnaldo – Não sei se essa suspensão ou a portaria vai dizer se é sustentável ou não. Primeiro não se sabe o tamanho da biomassa. Nós estamos tentando respeitar o máximo possível o que foi determinado pelo governo. Como somos armadores, temos pescadores e temos apenas uma fatia de 10% a se capturar, vamos buscar nossos recursos para que possamos tentar ganhar na justiça a nossa fatia de mercado.

JB – O Sindipi apresentou ao Ministério da Pesca e Aquicultura um pedido para que a isenção de impostos sobre a importação da sardinha às indústrias seja proporcional à compra da produção nacional. Qual é o impacto das importações no setor pesqueiro?

Agnaldo – O Sindipi faz as parcerias com os associados, principalmente indústrias e armadores. As indústrias, por sua vez, as enlatadoras, são as principais do Brasil e também do mundo. Não somos contra a importação. O que a gente fica contra é com empresas que importam e que não tem responsabilidade com o setor. As indústrias da nossa região se esforçam e têm a prioridade de comprar o nosso produto interno, que a gente fala que a sardinha capturada na região. Só que não tem a concorrência digna de uma empresa do Rio de Janeiro e outra na região Nordeste que só importam. Consequentemente elas têm um benefício fiscal e não fazem a parceria no mercado como o nosso.  A gente está encaminhando um protocolo do Ministério da Pesca para quem for comprar sardinha no mercado interno, tenha o benefício fiscal para se comparar a igualdade de vendas. Nós não podemos hoje ser prejudicados.

JB – Ainda sobre a pesca da sardinha. No ano passado, o sindicato enfrentou uma greve dos pescadores, que reivindicaram um preço diferente por quilo do pescado. Como é a relação do Sindipi com o Sindicato dos Trabalhadores da Indústria da Pesca de Itajaí (Sitrapesca)?

Agnaldo – A relação sempre foi boa e sempre será. Se está bom para o armador, está bom para o pescador. Se está ruim para o pescador, está ruim para o armador. O que tem que ser é uma operação casada, onde ninguém quer ser melhor que ninguém. As duas entidades sempre se mantiveram muito parceiras e assim vai continuar. O que não pode é inventar que a roda é quadrada, a roda é redonda. Então vamos ser parceiros e tenha a certeza que esta construção sempre há um novo horizonte.

JB – O setor está estagnado há muitos anos. O que precisa ser feito para mudar esta realidade?

Agnaldo – Nós temos um grande legado, aumentar o consumo de pescado na questão per capita. O consumo de pescado no Brasil ainda é baixo comparando com outros países. Não podemos perder para um Chile ou Equador na questão per capita. Imagine nós com 220 milhões de brasileiros ter pelo menos 200 gramas de consumo por dia, daria quase 44 mil toneladas por dia. Isso durante um ano lá na frente nós conseguimos manter um consumo de 14 quilos per capita, que é muito bom. Saindo de 9 para 10 e depois 14 quilos per capita. O sindicato vai trabalhar muito e forte para que a gente possa aumentar o consumo. Isso vai melhorar no Brasil e na nossa economia.

JB – Como é que se faz para aumentar o consumo?

Agnaldo – Principalmente na questão de merchan. A gente pode fazer grandes parcerias, divulgando. Participamos agora com o nosso vice-presidente de uma feira recente e ele viu que o produto está disponível para crianças, adolescentes, casais novos e até grandes famílias. Isso envolve muito a questão cultural e em nome da questão cultural temos que fortalecer o nosso lado.

JB – Como será a participação do Sindipi na ExpoMar, feira que acontece no Centreventos de Itajaí em junho?

Agnaldo – O Sindipi é um grande apoiador e nós temos certeza que isso é bom para o setor. Vai ser um grande evento no cenário nacional e é o único da pesca. Tem muita feira de aquicultura, mas como a pesca industrial não tem outro lugar melhor que a nossa região. O que a gente espera é conseguir desenvolver, fazer grandes palestras, trazer o governo para esta feira e mostrar porque veio. Cabe a gente fazer um grande evento. Aumentar como falei a questão nossa de tecnologia, a questão de logística e principalmente falar das nossas indústrias.


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