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COLUNA OPINIÃO: CATÁSTROFE E DOR

Coluna Daniele Lisandro

Por DANIELE LISANDRO

Diante da catástrofe no Rio Grande do Sul, todos os outros assuntos se tornaram irrelevantes, pois diante do sofrimento daqueles que tudo perderam, as notícias e as distrações do cotidiano não fazem sentido algum.

A indiferença é algo que não faz parte dos meus sentimentos, me comovo sempre, sinto com choro ao acompanhar a dor alheia, em 2008 fui testemunha da catástrofe que atingiu SC (trabalhei no aeroporto de Navegantes que serviu de base para receber toda ordem de ajuda) sofri ao ver pessoas próximas sofrendo, e não sofro menos agora, mesmo estando distante.

Se os últimos dias não foram fáceis para todos nós que lastimamos o ocorrido, é quase impossível descrever a dor daqueles que foram de fato atingidos, que olham ao redor e não encontram mais suas casas, seus bens, ou o que é mais insuportável: um membro da família ou um amigo que foi arrastado pelas águas.

Existe um luto sobre os ombros dos que foram atingidos pela tragédia, mesmo para aqueles que não perderam um ente querido, existe um luto difícil de suportar, afinal perderam também o seu “mundo presumido”: Parkes (psiquiatra britânico) criou esse conceito para o o mundo que era conhecido e previsível e que oferecia segurança, e que diante da sua perda ou ameaça, passa a ser desconhecido e ameaçador.

Ou seja, todos os planos que haviam feito, tudo aquilo que imaginavam do amanhã foi desfeito, não terão para onde voltar, seus locais de trabalho, sua cama quentinha onde repousavam, seus animais (companheiros) de estimação, os que serviam para o sustento, todos consumidos pela correnteza.

Todos os sobreviventes saem destroçados, é impossível não ser, ainda que indiretamente, afetado pela devastação ao redor, todos saem com suas “feridas abertas”, que precisarão de cuidados para que possam suportar o retorno as demandas da vida.

Afinal os impactos são inúmeros, como cita um artigo da revista exame: “Afetados por catástrofes climáticas ou naturais, de enchentes à terremotos, são expostos a inúmeras fontes de sofrimento, que podem vir na forma de trauma e choque devido a lesões pessoais, perda de entes queridos, dano a bens pessoais ou mesmo a perda de meios de subsistência, como um pescador que se vê impossibilitado de acessar o rio de costume por causa do rompimento de uma represa, apenas para citar um exemplo”.

Levantar e refazer a vida sobre os escombros, não é tarefa fácil, a sensação de mutilação para muitos persistirá por longo período, o olhar por vezes se perderá na tristeza, porque como humanos nunca estamos prontos para perder, e perder de maneira trágica é certamente ainda mais desolador.

Mas em meio a tanta dor existe a esperança de reconstrução, ela se encontra no abraço que acolhe, no cobertor trazido de algum lugar que aquece, na comida quentinha compartilhada, no esforço empenhado por um “herói” desconhecido. E ainda que lentamente, um dia os campos voltam a florir, que possamos todos contribuir para isso.

“…Se um torrão de terra for levado pelas águas até o mar, a Europa fica diminuída, como se fosse um promontório, como se fosse o solar de teus amigos ou o teu próprio; a morte de qualquer homem me diminui, porque sou parte do gênero humano. E por isso não perguntai: Por quem os sinos dobram; eles dobram por vós” John Donne 


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