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A NOVA FORÇA DA ECONOMIA DE NAVEGANTES

Vice-presidente do Sindicato das Indústrias da Construção Civil da Foz do Rio Itajaí de Navegantes, Jamile Vargas, fala sobre o bom e os desafios no setor.

Por Rogério Pinheiro

A economia de Navegantes deu um salto nos últimos 16 anos. A instalação da Portonave, em 2007, foi o pontapé inicial e estimulou diversos setores da cadeia logística de transporte e de armazenagem de cargas. Junto com a atividade portuária, outros setores também cresceram, como a construção naval e pesca. Um setor que também ganhou espaço na economia de Navegantes foi a construção civil, que aparece como uma nova força da economia do município, liderando a geração de empregos e estimulando novos negócios. O setor foi o que mais contratou em 2022 e continua em ascensão em 2023.  

— Um fator que ajudou bastante Navegantes a melhorar esta área foi a 470 (BR). A duplicação criou esse acesso mais rápido entre as cidades. Gaspar e Blumenau sempre tiveram uma cultura muito de ir para área de litoral, entre Navegantes e Penha, do que propriamente Balneário. Como têm indústrias vindo para a cidade, vieram mais pessoas, que precisam morar em algum lugar. Moradia e aluguel também são algumas áreas que estão crescendo muito — avalia a vice-presidente do Sindicato das Indústrias da Construção Civil (Sinduscon) da Foz do Rio Itajaí de Navegantes, Jamile Vargas.

Jamile conta que o boom da construção civil em Navegantes começou em 2022.

— No ano passado, a construção civil deu um boom vindo contra a maré na questão da pandemia. A procura de imóveis, vendas, revendas e trocas foi tudo muito aquecido. O mercado evoluiu muito a questão de valores também e fez que fossem desenvolvidos muitos projetos nessa época. Em 2021 e 2022, muitos construtores compraram terrenos, começaram a evoluir porque tinha gente querendo comprar de todas as formas, da planta foi muito forte essa tendência e gerou muitos lançamentos nesses anos. Em 2023, a gente continua com essa onda de procura de clientes, apesar da questão política e tudo mais. O que a gente pensou que poderia impactar um pouco, na verdade, continua essa onda crescente — complementa.

Construção Civil é o setor da economia que mais cresce em Navegantes. Crédito: Jornal nos Bairros. 

Plano Diretor 

Com a entrada em vigor do novo Plano Diretor de Navegantes, a expectativa é que o setor cresça ainda mais. O Plano Diretor não era atualizado desde 2008.

— O grande marco de 2023 para Navegantes foi a alteração do Plano Diretor. Navegantes estava com um plano muito desatualizado e já não conduzia mais com a cidade que está em pleno desenvolvimento. A renovação dele fez com que se conseguissem desenvolver mais a construção, abriu algumas áreas específicas. A cidade estava limitada e a Meia Praia era um bairro muito mais limitado por causa de pavimentos, tanto pelo aeroporto, mas o próprio Plano Diretor restringia até mais do que o próprio aeroporto. A regra do aeroporto continua a mesma, mas os gabaritos e as alturas mudaram porque agora o Plano Diretor é mais livre — explica.

Segundo a vice-presidente do Sinduscon de Navegantes, a mudança vai ajudar a destravar muitos investimentos no setor.

— Havia muita gente esperando o plano sair porque não estava comprando ou estava comprando em outras cidades porque o plano aqui estava incerto. A gente acredita que já vai ter investimentos de construtoras de outras cidades. Essas alterações e atualizações vão fazer com que algumas áreas que antes não eram atrativas para construção se tornem atrativas iguais às outras áreas como o Gravatá. A ideia para 2023 e 2024 é que esse destrave do plano faça evoluir ainda mais. Como viabilizou mais terrenos na cidade, provavelmente o aumento da metragem quadrada e de lançamentos vai dar continuidade — completa.

Pandemia

O crescimento da construção civil veio depois de um período em que o setor foi fortemente impactado pela pandemia.

— O impacto foi muito grande. Está estabilizando a questão de insumos agora, tanto custos quanto estoque. O Sinduscon fez uma parceria para compra coletiva de aço porque as empresas não conseguiam atender por um ano. Não tem obra sem aço. A gente conseguiu fazer uma parceria e importar para que as obras não parassem, mas foi muito impactado. Os insumos voltaram à normalidade nos últimos meses — esclarece.

Jamile disse que a pandemia fez com que o setor investisse mais em sustentabilidade.

— Hoje a gente fala que não tem mais empresas que não estejam olhando para essa questão da sustentabilidade, não tem mais como ser ignorado. O próprio aumento de custos da área da construção civil vindo da pandemia, que foi muito alto, fez as empresas repensarem essa questão de reúso de madeira. Como o custo está muito elevado, isso é um fator que às vezes obriga as empresas a trabalharem mais, além é claro que todas as exigências estão mais rígidas — pontua.

Mercado de trabalho

O setor foi o que mais criou vagas de trabalho em 2022, mas muitas dessas vagas não foram preenchidas. O motivo, segundo Jamile, é falta de qualificação profissional.

— Falta gente para trabalhar em todas as áreas, desde o trabalho mais profissionalizado, de carpintaria, armação ou algo nessa área. Também faltam pessoas para nível de servente, ou meio oficial e aprendiz. Mesmo com pessoas com experiência, a gente tem dificuldade de contratação. O que nos limita ainda mais é que no litoral existem diversas vagas de emprego em áreas diferentes. A construção civil acaba ficando um pouquinho menos atrativa para vagas de emprego — lamenta.

Mão de obra qualificada é o principal desafio da construção civil. Crédito/Divulgação

Ela adiantou que o Sinduscon já tem projeto para qualificar os futuros profissionais da construção civil.

— Nós temos projeto. Como é um programa em comum, a gente está discutindo para que seja feita para algumas áreas específicas, como ceramistas e carpinteiros. São profissões muito difíceis de se encontrar no mercado. A ideia é buscar pessoas que nunca trabalharam nessa área, mas que teriam interesse. A ideia do projeto é que as próprias empresas arquem com uma parte dos custos para que tenham trabalhadores, pelo menos com base no entendimento dessas profissões — explica.

Segundo a vice-presidente do Sinduscon, muitas construtoras já possuem escolas de qualificação profissional.

— Têm muitas construtoras que fazem escolas internas de aprendizado. A pessoa entra como servente e aí ela vai aprendendo com o pedreiro, tendo uma migração para meio oficial, pedreiro. Buscando uma carreira para esse profissional para que ele tenha um valor adequado, já que o nosso custo no litoral é um pouco mais elevado — ressalta.

Pesquisa para conhecer o mercado

O Sinduscon vai contratar pesquisas para monitorar o mercado da construção civil em Itajaí, Navegantes, Penha e Balneário Piçarras. O objetivo é coletar dados sobre volume de vendas, lançamentos, metragem em construção e oferta final.

— A ideia é entender o que o consumidor está procurando no mercado. O cliente precisa de apartamentos maiores ou menores? O que ele tem necessidade de comprar, dois quartos ou três quartos? Ele precisa de apartamentos mais na região central, ele gostaria mais do Gravatá? Isso serve para que as construtoras consigam adequar seus projetos para áreas que têm mais necessidade. Não adianta todo mundo construir apartamentos de três quartos se o cliente precisa de dois quartos. Isso serve para que a gente consiga acompanhar o mercado — ressalta.

Desafios

Para que a construção civil de Navegantes continue com o atual ritmo de crescimento, Jamile cita, além de qualificar a mão de obra, melhorar também o atendimento para as construtoras e a BR-101.

— Uma é a mão de obra. Eu colocaria ela como primeiro problema. A gente tem um déficit muito grande de mão de obra, tanto a especializada quanto a não especializada estão em falta. A questão de atendimento a alguns fornecedores da cidade. Como não temos uma usina de concreto, faz com que a gente precise das cidades vizinhas. Isso é um problema, principalmente no verão a gente tem problema de atendimento. O concreto não é uma coisa que possa ser programada com vários caminhões em um dia. Tem a situação da BR-101. Como eu disse, na BR-470 a fluidez do trânsito melhorou muito, mas a 101 piorou muito nos últimos anos — critica.

Apesar de aprovado e sancionado pelo prefeito Liba Fronza, a adequação do setor com o novo Plano Diretor de Navegantes vai ser outro grande desafio para a construção civil.

— Agora vai ser um desafio a alteração do Plano Diretor até nos adequarmos novamente. As cidades vizinhas são concorrentes de Navegantes. Estava tão atrasado que Navegantes não conseguia ter empreendimentos no mesmo patamar e acompanhar o mesmo ritmo de crescimento. Um exemplo disso é Piçarras, que teve um pico muito grande de crescimento nos últimos anos e aproveitou o crescimento da pandemia, que Navegantes não conseguiu porque estava travado. O destrave dele (Plano Diretor) vai fazer com que a gente fique competitivo. É claro que o aeroporto nos trava em altura, essa é outra briga, mas já melhorou muito e a questão dos destraves de algumas áreas, como a Meia Praia — destaca.

Em Navegantes, o Sinduscon busca também mudar o cone de aproximação dos aviões estabelecido pelo Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo (Cindacta). No entorno dos aeroportos, o Cindacta impõe restrições para edificações na zona de aproximação e decolagem dos aviões.

— A próxima busca é uma coisa que a gente quer trabalhar, é com a atualização do plano do Cindacta. Hoje a gente sabe que Itajaí é tão próximo quanto a alguns bairros de Navegantes, mas não tem essa limitação de altura lá como tem aqui — observa.

Uma das alterações feitas no Plano Diretor de Navegantes foi com relação à quantidade de pavimentos, que em algumas partes do município pode chegar a 40. A mudança, segundo a vice-presidente do Sinduscon, beneficiará também moradores de Navegantes.

— O Gravatá peculiarmente tem a questão do veraneio, mas o centro vem se desenvolvendo muito para moradia. Hoje o pessoal tem um ritmo de trabalho mais acelerado e está procurando muito mais apartamentos. A verticalização não foi construída para veranistas, mas também para moradores de Navegantes. O centro está com vários lançamentos e também é claro a orla, frente mar como a gente chama. São apartamentos com os custos mais elevados, o maior metro quadrado de Navegantes — informa.

Bairro Gravatá Navegantes
A construção Civil avançou no Bairro Gravatá em Navegantes. Foto Jornal nos Bairros

Para manter o crescimento, Jamile defende que o município se torne também mais atrativo. 

— A gente tem uma cidade em evolução muito grande. Comprar um apartamento aqui é como comprar há alguns anos na praia Brava (Itajaí), por exemplo. Você compra hoje, daqui há um ano já vende mais caro, pode comprar outro e revender, isso é muito atrativo. Outro quesito que é atrativo é o aeroporto no centro da cidade, às vezes ele trava na questão de altura, mas ele traz muitas pessoas para cá. O principal desafio é ser competitivo no meio de cidades muito atrativas também para investimentos.

A gente acredita que trazendo mais empreendimentos, a cidade vai se desenvolver, com mais restaurantes bons, com mais áreas de lazer, com mais atratividades para o cliente ficar aqui. Não adianta a gente só ter praia, temos que ter uma infraestrutura — concluiu a vice-presidente do Sinduscon em Navegantes.


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