Em 1989, uma moradora de Itajaí procurou o então secretário de Turismo de Navegantes, Solon Damásio da Costa, o Bilo, e sugeriu que ele realizasse uma festa no município. A ideia agradou o secretário, que resolveu tirar do papel ainda naquele ano. Surgia assim a Exponave ou Exposição Industrial e Comercial de Navegantes.
– A Josiane (moradora de Itajaí) deu a ideia e isso me despertou o interesse de fazer a festa. Como não tinha muita prática, ela abandonou tudo, mas resolvi seguir. Com ajuda da Reni, do Manequinha e da Isolete, funcionários da Secretaria de Turismo, fiz o projeto da 1ª Exponave – conta o ex-secretário de Turismo de Navegantes.
Bilo e sua equipe foram em busca de recursos. Com um orçamento baixo para fazer eventos em Navegantes, o jeito foi procurar empresas para bancar a festa.
– Para pegar recursos, a gente tinha que dar alguma coisa em troca. A ideia foi vender publicidade e pedir ajuda nas empresas para fazer a festa. O grande forte nosso foi a feira industrial e comercial – explica.
Irmãs Galvão
A primeira edição da Exponave aconteceu em agosto de 1989 e fez parte da programação do 27ª aniversário do município, comemorado no dia 26 daquele mês. Além de uma exposição com produtos produzidos ou comercializados em Navegantes, a festa contou também com barraquinhas que vendiam comida e bebidas, além de atrações culturais diárias.
O auge dessa primeira edição foi o show das Irmãs Galvão. A dupla sertaneja formada pelas irmãs Meire e Marilene levou um público recorde de aproximadamente 2.500 ao Ginásio de Esportes.
A partir do sucesso da primeira edição, a Exponave continuou em 1990, com exposições, rodeios, folclore, gincana de pesca, parque de diversões, bailes e principalmente os shows nacionais. Já no primeiro dia, 17 de agosto de 1990, teve show com Wanderley Cardoso no Pavilhão de Eventos e do trio Los Angeles em um palco montado na rua.
A festa acontecia em frente ao Ginásio de Esportes Domingos Angelino Régis e reunia milhares de visitantes não só de Navegantes, mas de cidades como, Penha, Piçarras, Itajaí, Brusque e até Blumenau. A Exponave chegou a ter um público aproximado de 50 mil pessoas em uma única edição, o dobro da população do município na época.
– A Exponave começou a ser uma festa cara, mas as barraquinhas, onde vendia bebidas e comida eram comercializadas. A gente só dava as barraquinhas para os três blocos de carnaval para eles arrecadarem recursos. Também tinha a feira industrial e o parque de diversões, que repassava 20% da arrecadação. A festa dava lucro ou no máximo empatava, mas nunca deu prejuízo – garante Bilo.
Os shows atraiam uma multidão para o Pavilhão de Eventos. Nas oito edições da festa, dezenas de cantores, cantoras e bandas que marcaram a música brasileira se apresentaram na Exponave.
Ângelo Máximo, Martinho da Vila, Gaúcho da Fronteira, Wanderléa, Odair José, Luiz Ayrão, Alcione, Paulinho da Mocidade, TNT, Jair Rodrigues, RPM, Engenheiros do Havaí, Ira, Garotos da Rua, Jorginho do Império, Carmem Silva e as alas das escolas de samba da Mangueira e Império Serrano foram apenas alguns desses artistas e bandas que estiveram em Navegantes.
Segundo Bilo, o maior público presente em um show da Exponave, também foi de uma dupla sertaneja feminina.
– Eu sempre pegava uma dica com uma pessoa que se chamava Sérgio e ele dizia: “contrata fulano que vai estourar”. Contratamos “As Marcianas” e foi o maior público da festa. Depois teve outros grandes shows da Wanderléa e Martinho da Vila, mas nenhum bateu o show das Marcianas. O Pavilhão teve lotação máxima, 2.800 pessoas – lembra.
Além dos artistas famosos na época, Bilo disse que a Exponave foi pioneira em dar oportunidade para cantores que não estavam mais nas paradas de sucesso.
– Trouxemos artistas que estavam esquecidos como Ângelo Máximo, Wanderléa, Carmem Silva e tiveram shows concorridos. Até mesmo Luiz Ayrão andava esquecido na época. O show da Wanderléa foi um sucesso – ressalta.
A última Exponave aconteceu em 1996. Com a posse do prefeito Luiz Gaya em 1997, a festa mudou de nome e virou Exponafest, mas sem o mesmo sucesso de antes. Apesar de Gaya ter sido oposição ao governo anterior, Bilo não acredita que a mudança foi uma escolha política.
– Eles trocaram de nome porque acreditavam que eu iria cobrar royalties pela festa. Não iria cobrar nada. Nunca me procuraram para conversar. Talvez tivesse cunho político, não sei. Ele (prefeito) mudou tudo, fez a primeira, a segunda e acabou. Tinha que dar continuidade para o que tava dando certo – lamenta o idealizador da Exponave.
Esquisitices e drogas
Além dos cachês altos, por exemplo, das cantoras Alcione, Wanderléa e do palhaço Tiririca, Bilo teve trabalho para lidar com as esquisitices de alguns artistas ou até mesmo com o consumo excessivo de drogas e bebidas antes dos shows.
– O maior cachê foi pago para a Alcione e ela fez uma série de exigências. Ela queria frutas da estação, como goiaba e manga. Eu não consegui e ela não comeu nada. Além disso, a Alcione tinha um funcionário da equipe que pulava na cama do hotel antes dela dormir. Não sei, talvez ela tivesse caído da cama antes e ficou com trauma. Outra mania que tivemos que lidar foi quando colocamos toalhas marrons no camarim da banda Ira. Eles gostavam de todas as cores, menos marrom. Tivemos que trocar – recorda.
Bilo conta que o uso de drogas e bebidas antes dos shows era uma preocupação constante para a organização da festa.
– Integrantes de bandas como Ira e Garotos da Rua usavam drogas, como cocaína, por exemplo, o tempo todo. Os Garotos da Rua pediram para comprar drogas para eles. Não fiz isso. Outro problema foi com bebidas. O Luiz Ayrão chegou a beber um litro de natu nobilis (whisky) sozinho. Eu não sei como ele conseguiu fazer o show. Quem bebia bastante também era o Martinho da Vila. Em compensação, o Jair Rodrigues só bebeu água no show que fez em Navegantes – relata.
Outro problema que ele enfrentou foi a exigência de pagamento antecipado por alguns artistas.
– O Tiririca ameaçou não fazer o show se não pagasse antes. Tivemos que correr até a prefeitura e fazer o pagamento. A cantora paraguaia Perla também fez o mesmo e tivemos que atender – revelou Bilo, que hoje está com 77 anos.
Frequentador assíduo
Entre os moradores, lembranças da Exponave não faltam. Flávio Gadas Diana, 75 anos, esteve em todas as edições da festa.
– Eu comprava o passaporte e ia em todas as atrações. Eu não perdi uma edição, fui em todas. A Exponave era muito bom, tinha muitos shows – recorda.
Flávio gostou de todos os shows, mas em particular do Martinho da Vila.
– Todos foram bons. Muitos, eu já conhecia do Rio de Janeiro, onde morava antes. O show do Martinho da Vila não foi o que teve mais gente, mas eu gostei – conta.
Ele lamenta que Navegantes não tenha mais uma festa igual a Exponave.
– O Bilo foi o melhor secretário de Turismo que Navegantes já teve. Ele criou a Exponave que movimentava a cidade e trazia turistas. Hoje, o turismo em Navegantes está morto – critica o morador.