Em entrevista, governador de Santa Catarina defende modelo de combate à pandemia e destaca retomada econômica.
Santa Catarina foi um dos primeiros do país a adotar medidas de isolamento social, qual é a situação atual da evolução da Covid-19?
Carlos Moisés da Silva – O Estado faz um trabalho de atendimento e prevenção para salvar o maior número de pessoas. Tão logo soubemos do primeiro caso de transmissão comunitária estabelecemos medidas de distanciamento social para que fosse possível achatar a curva de contágio. Enquanto isso, reforçamos a infraestrutura e implementamos medidas seguras para permitir uma retomada econômica com responsabilidade. Neste período, nós mais que dobramos a capacidade de leitos de UTI SUS adulto, que antes eram 547 e hoje são 1.183. Destinamos recursos aos hospitais filantrópicos de aproximadamente R$ 10 milhões por mês além do pactuado. Além disso, o povo catarinense compreendeu as medidas e agiu com responsabilidade. Quando os catarinenses se unem, não há obstáculo que não possa ser superado. Isso tudo foi fundamental para que Santa Catarina fosse considerado o Estado com a melhor gestão da pandemia.
E como funcionou o diálogo com os municípios? Neste momento quem está com as rédeas da situação: o Estado ou os municípios?
Moisés – Nesta fase atual, estamos fazendo uma gestão compartilhada com municípios. Disponibilizamos às prefeituras a base de inteligência de dados que utilizamos para monitorar a propagação do vírus em Santa Catarina. Essa ferramenta apresenta dados oficiais, atualizados e monitorados em tempo real para que as autoridades locais possam tomar medidas com embasamento científico. Estamos aportando recursos e equipamentos para os hospitais. O contágio da doença ainda é um desafio e, por isso, seguimos tomando decisões que priorizam a vida. Mas também precisamos ter equilíbrio com as ações econômicas.
O que o Governo fará para recuperar a economia no nosso Estado?
Moisés – Durante o primeiro ano de governo nos dedicamos a fazer a gestão financeira do Estado e arrumar a casa. Alguns dizíam que iríamos atrasar a folha, que não teríamos condições de investir. É a torcida do contra, que de vez em quando aparece para atrapalhar. Mas tratamos de economizar recursos, rever contratos e colocar as contas em dia em uma força-tarefa que gerou o melhor resultado da década na prestação de contas do TCE. Hoje é muito claro que tudo isso deixou o Estado muito mais preparado para enfrentar a pandemia. Tomamos as medidas certas na hora certa e isso nos permitiu a retomada das atividades rapidamente.
A classe empresarial foi incluída neste processo?
Moisés – Desde o início da pandemia mantivemos o diálogo com as lideranças empresariais. No dia 20 de março, apenas três dias após as primeiras medidas de isolamento, o Governo apresentou uma série de medidas para ajudar os cidadãos e as empresas a fazerem a travessia nesse momento difícil, com foco nas famílias de baixa renda.
Há indicativos de que isso surtiu efeito? Já existem sinais de retomada?
Moisés – Temos diversos indicativos. O Índice de Atividade Econômica Regional calculado pelo Banco Central mostra que crescemos 4,8% em julho. Nossa indústria teve um crescimento acima da média nacional pelo segundo mês consecutivo, 9% em junho e 6,1% em maio. No agronegócio, tivemos aumento da exportação de carne de frango, que faturou US$ 122,5 milhões em julho, um crescimento de 24,5% em relação a junho. Também tivemos neste primeiro semestre um saldo de novas empresas 11,8% maior que em 2019.
O desemprego no Estado preocupa?
Moisés – A economia de uma forma geral é uma preocupação hoje não só em Santa Catarina, mas no mundo inteiro. Sabíamos que a pandemia aumentaria índices de desemprego, mas mantivemos a menor taxa de desocupação do Brasil e temos o menor percentual trabalhadores na informalidade. Seguimos trabalhando firme para passar por esta crise da melhor forma possível.
Quais as ações que estão sendo implementadas para melhorar a infraestrutura das rodovias estaduais?
Moisés – No início de 2019, o Estado estava com 70% da malha viária ruim ou em péssimas condições, e trabalhamos para mudar essa realidade. O programa Novos Rumos contempla a retomada ou início de obras de infraestrutura em todas as regiões do Estado, com previsão de investimentos de mais de R$ 377 milhões, sendo boa parte desses investimentos com recursos próprios. Nos primeiros seis meses deste ano, aplicamos R$ 42 milhões em diversas obras por todas as regiões.
Qual sua avaliação sobre o desfecho da CPI dos Respiradores?
Moisés – Desde o início desse problema específico e pontual da compra dos respiradores, chamei a Polícia Civil para que investigasse, determinei a abertura de procedimento interno para apurar responsabilidades e orientei a PGE a buscar o ressarcimento desses valores pagos antecipadamente. Mudamos a cultura de jogar os erros para baixo do tapete. Isso não existe mais. Há transparência. Quando a CPI foi instalada, imaginei que pudesse ser uma aliada do Governo do Estado nesse esforço para apurar e corrigir, mas não foi bem isso que vimos. O relatório final traz ilações desconectadas da realidade, faz um contorcionismo argumentativo para envolver pessoas e tirar a credibilidade do governo do Estado.
Alguns deputados cobram mais diálogo. Como você avalia essa cobrança?
Moisés – O conhecimento que os parlamentares têm das regiões é importantíssimo. Conhecem detalhes de cada uma das demandas do cidadão. Eu gosto de ouvi-los e usar as informações para direcionar as ações de governo. Não tem nada mais produtivo para mim na política do que receber um deputado para tratar de demandas das regiões.