Ao longo do tempo muitas profissões foram extintas. Acendedor de poste, leiteiro, pianista de cinema, arrumador de pinos de boliche, fotógrafo lambe-lambe e operador de mimeógrafo são algumas delas. Outra profissão que deixou de existir há muito tempo foi a de radiotelegrafista, que durante as primeiras décadas do século XX desempenhou um papel importante para as obras do molhe Norte de Navegantes. A coluna “Outros quinhentos” traz a história de um desses radiotelegrafistas, o itajaiense Abércio Werner.
Filho de Alberto Pedro Werner e Ambrosina Leite, Abércio nasceu no dia 21 de setembro de 1908, no bairro Carvalho, em Itajaí. Ele foi um dos 13 filhos que o casal teve. Além de comerciante, Alberto Werner assumiu a Prefeitura de Itajaí na década de 1930. Abércio estudou no Grupo Escolar Victor Meirelles. A escola funcionava onde é hoje a Casa da Cultura Dide Brandão.
No dia 3 de fevereiro de 1933, segundo o jornal “O Estado”, edição de 6 de fevereiro, Abércio e mais 11 candidatos prestaram exame para radiotelegrafista. O exame foi realizado na Diretoria Regional dos Telégrafos, em Florianópolis. A prova consistia em questões de português, caligrafia, radiotelegrafia, transmissão e recepção.
Abércio passou no exame e em 1934 foi contratado pela Companhia de Mineração e Metalúrgica Brasil (Cobrasil). A empresa ficou responsável pela construção dos molhes Norte (Navegantes) e Sul (Itajaí). As obras no molhe Norte começaram em 1919, mas ficaram paralisadas até 1927, quando o contrato foi assinado entre o Ministério da Viação e a Prefeitura de Itajaí para as obras de melhorias do porto.
Com a revolução de 1930, as obras foram paralisadas novamente. O novo governo suspendeu todos os contratos que a Cobrasil tinha depois de uma investigação apontar irregularidades nas licitações. Após quatro anos, a Cobrasil continuou a construção dos molhes de Itajaí e Navegantes.
A construção dos molhes foi importante para o desenvolvimento da atividade portuária em Itajaí nas primeiras décadas do século XX. Antes deles, as condições de navegabilidade da barra do rio Itajaí-Açu eram precárias e com constantes encalhamentos de navios.
No escritório da Cobrasil, em Navegantes, o radiotelegrafista Abércio Werner escutava com atenção tudo que captava nos transmissores de válvulas. Seu lápis percorria o papel assim que recebia algum telegrama. A comunicação era feita entre o escritório da Cobrasil, no Pontal, e o local da extração de pedras para o molhe Norte, nas Queimadas, hoje o bairro Pedreiras.
O trabalho de Abércio não consistia em ficar apenas no escritório a receber ou enviar mensagens. Ele tinha que fazer a manutenção dos postes da linha telegráfica entre o Pontal e as Pedreiras. Desde 1910, Navegantes já possuía postes telegráficos. Os primeiros foram instalados na extensão da praia e faziam a comunicação entre Itajaí e Joinville.
A construção do molhe Norte foi marcada por muitos acidentes de trabalho e Abércio quase morreu em um deles. O acidente foi registrado no jornal “O Pharol”, edição de 2 de maio de 1936.
“Quarta-feira, quando trepado em um poste da linha telefônica que liga os escritórios da Cobrasil em Navegantes com a Pedreira, procedia o senhor Abércio Werner, radiotelegrafista daquela companhia, as reparações nos fios, sucedeu entrar um desses, em contato com a linha de energia elétrica de alta tensão, do que resultou o senhor Werner, que se manteve preso ao referido fio por largo tempo, receber queimaduras no braço, caindo desfalecido sobre o leito da linha férrea. Na ocasião que terminou contato, o que ocorreu naturalmente, sem intervenção de qualquer espécie, pois os gritos da vítima não foram ouvidos.”
Apesar do acidente, Abércio continuou na Cobrasil. No final da década de 1940, o radiotelegrafista abriu um bazar na rua Hercílio Luz, em Itajaí. Abércio Werner faleceu no bairro Carvalho, em Itajaí, no dia 10 de setembro de 1961. Ele era casado com Maria Fisher Werner.
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