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A PROFESSORA QUE DEDICOU SUA VIDA À EDUCAÇÃO DE NAVEGANTES

Foi na sua casa que Paulina construiu seu mundo e transformou a vida dos outros moradores de Navegantes. Crédito: Prefeitura de Navegantes

COLUNA Outros Quinhentos, por Rogério Pinheiro.

Na varanda da casa situada na rua Aníbal Gaya, nº 13, uma professora observa o movimento de pedestres e de vez em quando um veículo ou uma carroça passar. Sentada, ela cumprimenta um conhecido, que provavelmente já foi seu aluno. Do alto da escadaria de sua casa, a velha professora pega um pouco de fumo de corda e começa a mascar. Um gato corre para dentro de casa, enquanto outro se espreguiça e pula no quintal. A tarde cai e mais um dia passou para a professora Paulina Gaya entre seu fumo de corda e seus gatos.

A imagem da professora sentada na varanda da casa mastigando o seu fumo de corda é uma lembrança ainda viva para os moradores antigos de Navegantes. Uma personagem da história do município que dedicou toda a sua vida a ensinar. Apesar da fama de rígida e disciplinadora, a professora Paulina sempre foi uma figura querida e respeitada. Seus alunos a admiravam por sua dedicação ao magistério e em muitas ocasiões sem receber. Ela era um exemplo de que a educação pode transformar vidas e construir um futuro melhor.

Paulina nasceu no dia 28 de março de 1890 em Navegantes. Um dos seus irmãos, João Gaya, também foi chefe escolar e fiscal do ensino público municipal de Itajaí nos anos de 1920. O irmão de Paulina foi por muitos anos Procurador da Fazenda de Itajaí, vereador, presidente da Câmara Municipal de Itajaí e um dos incentivadores da Colônia de Pescadores de Navegantes.

Por trás da postura firme, existia outra Paulina Gaya, que também não escondia o amor que dedicava aos seus alunos. Crédito: Desenho de Daniel Manfredini 

Paulina Gaya foi aluna de Maria Carlota Vieira, conhecida como Sinhá Mestra, uma das primeiras professoras de Navegantes. Paulina já se destacava nos estudos e desde pequena sabia que um dia substituiria a velha Sinhá Mestra. Em 1907, Paulina terminou seus estudos na Escola Pública de Itajaí. Por muitos anos trabalhou em escolas de Itajaí e Navegantes, tendo como colega a professora Júlia Miranda de Souza, que hoje dá o nome a maior escola pública de Navegantes.

Segundo a professora Didymea Lazzaris de Oliveira em seu livro “O Navegantes que eu conto”, entre os navegantinos que Paulina alfabetizou estavam Aníbal Gaya, Francisco Manoel Couto, Manoel Ezidio, Francisco Marcelino Vieira, Ewaldo Reiser e Maria da Piedade Couto. Conforme a professora Didymea, Paulina ajudou a criar quatro sobrinhos. Almira Gaya, a Miroca, João Adriano, o Biele, Manoel Felício Adriano e Ovídio eram tratados como os filhos que ela nunca teve.

Uma escola improvisada

Construída em 1907, pelo pai de Paulina, o português de Vila Nova de Gaia, cidade vizinha do Porto, Manoel dos Santos, a casa onde viveu Paulina Gaya sobreviveu ao tempo e guarda muitas lembranças de seus moradores. Foi na casa que Paulina construiu também seu mundo e transformou a vida dos outros moradores de Navegantes sem nunca ter saído do seu cantinho.

Sem ter as mesmas tecnologias de hoje, como internet, computadores, inteligência artificial, a professora conseguiu fazer uma revolução no ensino navegantino. Por muitos anos, a residência serviu de escola para muitas crianças e depois para jovens que se preparavam para ingressar na Marinha Mercante.

Com uma vara de marmelo na mão e uma palmatória na mesa, Paulina colocava ordem na sua escola improvisada, principalmente para os alunos mais bagunceiros. A imagem da vara de marmelo e a palmatória nunca saiu da memória de seus alunos, que a temiam ao mesmo tempo que admiravam a força de vontade para transformar vidas por meio da educação. Por trás da postura firme, existia outra Paulina Gaya, que também não escondia o amor que dedicava aos seus alunos.

Em 2011, entrevistei a dona Nazi Rodrigues Rebello (in memoriam), que na época tinha 82 anos. A lembrança da professora sempre preocupada com a formação de seus alunos nunca saiu da memória da dona Nazi.

“Dos 7 aos 9 anos eu estudei na casa da Paulina Gaya. Ela era rígida e às vezes precisava usar a palmatória e a vara de marmelo. A vara era dada nas pernas, mas só quando o aluno aprontava. Como a escola era na casa, alguns alunos brincavam na cama dela e isso não era permitido.”

Outra moradora entrevistada em 2011 foi Isolete Rebello, que naquele ano tinha 77 anos. Isolete foi sobrinha-neta de Paulina Gaya. O avô dela era irmão de Paulina, o conselheiro João Gaya. Ela se orgulhava da tia-avó e da maneira que se dedicou para ensinar.

“Ela mesma sem sair da sua casa conseguiu ensinar tantas pessoas e sempre com muita dedicação. Da maneira dela, ela amou seus alunos e esse amor não se encontra hoje.”

Paulina morou na residência até a sua morte por derrame cerebral às 4h do dia 26 de outubro de 1961. Três anos após a sua morte, uma nova escola foi criada e recebeu seu nome. A homenagem surgiu depois que as escolas municipais São Domingos e Sudan se uniram para formar apenas uma unidade de ensino. No dia 19 de setembro de 1964 foi criada a Escola Estadual Básica Professora Paulina Gaya. A unidade de ensino da rede estadual começou a receber os primeiros alunos no dia 1º de março de 1965 e segue até hoje.

Casa de Paulina Gaya será preservada

A casa nº13 da rua Aníbal Gaya foi tombada em 2009 pela Fundação Cultural de Navegantes e não pode ser demolida. A residência onde morou a família Gaya pode ser até vendida, mas o futuro comprador vai precisar também restaurar e preservar o imóvel. A Prefeitura de Navegantes tem a intenção de comprar o imóvel para transformá-lo em museu, mas as negociações não avançaram.

Além de escola, a casa também foi sede da Prefeitura na década de 1960. Em 1969, a residência foi adquirida pelo marítimo Joaquim Thiago Alves (Quinca). Na mesma entrevista de 2011, a viúva de seu Joaquim, Maria Coelho Alves, então com 78 anos (in memoriam), disse que havia recebido muitas propostas para vender o imóvel, mas recusou todas ao saber que os futuros proprietários tinham a intenção de derrubar a casa.

“Já recebi propostas de venda e não fiz porque os interessados queriam demolir a casa. Não quero vender e não quero também que a casa seja demolida.”

Além da casa da rua Aníbal Gaya, o casarão do bairro Escalvados, que pertenceu ao comerciante Bernardino Müller, também já foi tombado como Patrimônio Histórico de Navegantes. O Casarão de Escalvados foi erguido em 1890 por Bernardino Müller. Em 2019, a residência começou a ser restaurada por meio de financiamento da Lei Federal de Incentivo à Cultura. Um ano depois, o restauro prosseguiu com recursos do Edital Vilma Mafra da Fundação Cultural de Navegantes.


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