Por Rogério Pinheiro
— General, tem bandeira branca, é revoltoso. É o Pallas que nos vigia — gritava Poeta.
O general calmo, toma o binóculo e examina.
— O que é isto, Poeta?
— É o Pallas, general, não vê a bandeira branca?
— Vamos, meus senhores, não é nada.
A conversa entre o coronel da Guarda Nacional, Carlos Napoleão Poeta e o general Francisco de Paula Argollo, aconteceu na praia da Juréia, no dia 10 de outubro de 1893, segundo registrado no “Diário Militar” de 1897. Eles estavam no litoral paulista para iniciar uma expedição militar até Santa Catarina para identificar navios que participavam da Revolta da Armada, entre eles o Pallas.
Na tarde daquele dia, quando se preparavam para embarcar, o coronel observou um navio, mas ele estava muito longe e ninguém teve certeza de que se tratava do Pallas. O navio, que pertencia à Companhia Frigorífica e Pastoril Brasileira, foi tomado por oficiais da Marinha na madrugada de 18 de setembro de 1893.
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A Revolta da Armada começou no dia 6 de setembro de 1893. Os oficiais se rebelaram após o presidente da República, Floriano Peixoto, fechar o congresso e cancelar as eleições presidenciais. No dia 18 de setembro, o Pallas, o navio frigorífico Marte e o cruzador República foram tomados pelos marinheiros rebeldes. Quando os três navios tentaram sair do porto do Rio de Janeiro, foram alvos da artilharia da fortaleza de Santa Cruz.

O Pallas, o Marte e o cruzador República conseguiram escapar da artilharia e saíram do Rio de Janeiro. Eles se juntaram às torpedeiras Iguatemi e Marcílio Dias. A divisão naval era comandada pelo capitão de Mar e Guerra, Frederico Guilherme Lorena. A frota seguiu para o Rio da Grande do Sul.
No dia 19 de setembro, o Pallas chegou em Ilhabela. Os oficiais destituíram o delegado local e extinguiram a linha de telégrafo. A população, assustada, fugiu para o mato. Por ser um navio de guerra adaptado, era a função da tripulação do Pallas tornar inoperantes as linhas telegráficas das cidades que eles invadiam. Isso impossibilitava a comunicação com o comando da Marinha.
Mesmo assim, a notícia da invasão de Ilhabela se espalhou e causou pânico entre os moradores das cidades litorâneas que estavam no caminho da frota. Santos foi uma delas e para proteger seu porto, aproximadamente 1.200 soldados foram mobilizados.
No dia 20 de setembro, o República bombardeou a fortaleza da Barra, em Santos, com mais de 100 tiros de canhão. O Pallas e a torpedeira Marcílio Dias deram cobertura ao ataque. Houve resistência dos soldados nas fortalezas santistas e os navios desistiram de tomar o porto.
No dia 21 de setembro

O jornal Estado de São Paulo anunciou que o Pallas já estava no litoral de Santa Catarina. No dia 26 de setembro, o “Diário de Santos” confirmou que o Pallas e o República foram vistos em São Francisco do Sul, mas não entraram na cidade e decidiram seguir até Florianópolis.
Depois de saquearem a mesa de rendas em Canasvieiras, os dois navios tentaram atacar a fortaleza de Santa Cruz. Mais uma vez o Pallas e o República tiveram que fugir dos tiros da artilharia pesada da fortaleza. Os dois navios foram alvejados.
No dia 1º de outubro, o jornal “Correio de Notícias” noticiou que o Pallas estava ancorado em São Francisco do Sul. Cerca de 50 praças foram até Joinville, onde inutilizaram a linha telegráfica. Além disso, o Pallas e o República aprisionaram pequenas embarcações que foram usadas para bloquear a entrada do porto.
O ataque mais violento que o Pallas participou aconteceu em São Sebastião, conforme anunciou o jornal “O Comércio”. Por volta das 19h, do dia 3 de outubro de 1893, o Pallas bombardeou a cidade. Além do ataque, os tripulantes do Pallas entraram na cidade e destruíram a linha telegráfica. No dia 5, a torpedeira Marcílio Dias continuou o bombardeio a São Sebastião. Os alvos foram a cadeia pública e a casa do delegado.

No dia 12 de outubro, o jornal “A República de Curitiba” informou que o Pallas passou por Paranaguá, mas não entrou no porto devido a forte artilharia de uma das fortalezas. A população assustada ameaçou deixar a cidade.
Já dia 14 de outubro, às 3h30, a fortaleza da Ilha de Villegagnon, no Rio de Janeiro, foi atacada pelo Pallas. Segundo o que informou os soldados ao jornal “O País”, edição do dia 15 de outubro, o Pallas foi danificado pelos tiros.
Na noite do dia 25 de outubro de 1893, já bastante avariado, o navio bateu em rochas na entrada da barra, em Navegantes. Em seguida, o Pallas foi encalhado propositalmente em um banco de areia. Toda a tripulação do Pallas conseguiu se salvar e os marinheiros rebeldes fugiram.
A fama do Pallas era tanta que inspirou uma propaganda da chapelaria carioca Castro & Filho. O anúncio foi publicado no jornal “O País” de 1º de janeiro de 1894.
“Depois que naufragou o Pallas. Esta casa não tem medo das balas.”
Muito boa a história do navio Pallas contanto sua participação na revolta da armada, pouco conhecida da maioria do público.