História sem título

ACADEMIA DE LETRAS DO BRASIL DE SANTA CATARINA – SECCIONAL NAVEGANTES

Acadêmico: Professor Omar Azevedo, cadeira n. 2

A rotina de acordar, engolir o café, trabalhar, voltar pra casa, tomar banho, comer, relaxar e dormir, por vezes não deixava tempo pra pensar na vida. Ou será que isso, afinal, era a vida?
Nos últimos mais de dez anos essa era a sua vida. Quase chegando aos quarenta, separado, pai de dois filhos, que via a cada duas semanas quando, dominado pela rotina, levava-os à casa e assistiam desenhos juntos, intercalado aos celulares nunca largados.

Às vezes, olhando os filhos absortos em seus celulares, se pegava lembrando da própria adolescência, dos dias felizes com a família, os amigos… Lembrava do primeiro porre, do primeiro amor, de seu destaque na escola em crônicas e poesia, de ser um tremendo perna-de-pau no futebol, embora gostasse muito de jogar com os amigos, na escola ou na praia.

Trabalhando como técnico em IA – que tudo faz por nós, inventa histórias, cria cenários e situações com poucos e precisos comandos no computador, permite que se interaja com quem se imaginar, desde Batman, lorde Voldemort, van Gogh ou até com Deus, a suprema criação humana, lembrava de como era difícil, ‘no seu tempo’, criar essas coisas e de como essa dificuldade era instigante, que era bom, dava para se divertir quebrando a cabeça.

Num dia de um calor horroroso de se suar igual um porco, Ops!, que porco não sua, suar como um cavalo, chega em casa e, enquanto no banho, recebe um telefonema de um amigo de outrora, seu primo e melhor amigo, com quem já passara por altos e baixos, mas que agora raramente via, apenas uma ou outra ligação ou mensagem de novidade ou perrengue, pois que não tinham tempo de se encontrar devido à rotina de trabalho ou porque, sempre cansado e sem ânimo, marcavam encontros que não aconteciam, por vezes desmarcados em cima da hora com qualquer desculpa ou até sem uma.

Nessa conversa, marcaram de se encontrar em tal lugar, no final de semana. E o final de semana chegara num piscar de olhos, deixando-o excitado e feliz, pelo finalmente encontro ao vivo. Avistou o amigo do outro lado da rua, acenando pra ele e logo atravessando a via, afoito, sem perceber o carro, enorme conversível que surge do nada, desrespeitando o sinal vermelho e que batendo nele, lança longe seu corpo.

Em choque, enquanto observava os drones que nessas situações surgiam, e o acionamento automático com o característico barulho de roldanas e engrenagens se abrindo na pista metálica para recolher o corpo e lavar a via, a fim de liberar o trânsito normal da vida corrida, acordou suando do pesadelo quando o despertador soou, coração aos pulos, passando a mão sobre a testa úmida e tentando se convencer, mais uma vez, de que tudo fora apenas um sonho, levantando para mais um dia…

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