fbpx

NOSSO PLANO DE AUTOFAGIA

Coluna Daniele Lisandro

Por Daniele Lisandro

A cada nova notícia que nos chega, a impressão é a de que estamos a passos largos da autodestruição, e ao contrário do processo de autofagia celular, não estamos trilhando um caminho para nos renovarmos ou sairmos melhor ao final.

Parece que assistimos filmes de terror, sem que sejamos os participantes ativos, como se não fossemos os autores e a história se passasse completamente alheia a nossas ações, talvez porque de fato algumas delas se passam longe de nossas casas.

Na maioria das vezes não nos sensibilizamos com a dor alheia, não sentimos por aqueles que sofrem o dano efetivamente, porque a fome esta abatendo pessoas que não conhecemos, a água esta levando lares que não são os nossos, os corpos levados na correnteza não foram dos nossos parentes.

Ficamos no máximo aborrecidos com as notícias, mas seguimos nossas vidas, não nos consideramos nada responsáveis pela onda de acontecimentos ruins, afinal o problema é do outro, sempre do outro, até que um dia sejamos atingidos da mesma forma. 

Ao apoiarmos projetos que afetam o meio ambiente, por exemplo, acabamos afetando nossas vidas, ainda que indiretamente, qualquer ação que vise a destruição de espaços de conservação, que interfira no processo natural das praias, matas, rios  e afins, acabará nos acertando.

Mas a sanha em obter lucro, cegam aqueles que empreendem e aqueles que desejam desfrutar de espaços exclusivos,  áreas que deveriam permanecer intocadas viram atrações para afortunados, que estão apenas preocupados com a suas taças de champanhe.

Vamos seguindo num fluxo, de pouco ou quase nenhuma consciência, nem sobre os espaços que habitamos, nem sobre o que pretendemos deixar , vamos dizimando tudo o que nos cerca, tudo virou mercadoria a ser comprada e descartada.

Proteger o meio ambiente não deveria ser “papo de ambientalista”, mas uma preocupação constante de todos, afinal, degradação ambiental leva ao esgotamento de recursos dos quais todos necessitamos para sobrevivência, inclusive.

A proposta de Emenda à Constituição (PEC), sobre a privatização das praias, acaso seja aprovada, abrirá espaço para o mercado imobiliário avançar com construção de hotéis, resorts e condomínios que pouco ou nada preservam das restingas para construção de tais empreendimentos.

A oceanógrafa e mestranda da Unifesp, Mariana Amaral, listou ( ao G1) uma série de impactos que podem ser ocasionados pela proposta referida, entre elas: a remoção dos manguezais e restingas que servem para combater alterações climáticas e no aumento do nível do mar, a expulsão dos povos ribeirinhos que vivem nessas áreas, e o acesso livre às praias.

Parece que caminhamos numa espécie de “pulsão de morte” (Freud), embora a teoria tenha se desenvolvido em outro contexto, também procuramos repetir padrões que consequentemente nos farão mal, não aprendemos com os erros já cometidos, precisamos sempre avançar mais e novamente no mesmo erro, numa tendência autodestrutiva do ser humano.

Nossa “autofagia” nos consumirá, sem nos darmos  conta.


ATENÇÃO: Você não pode copiar o conteúdo
Direitos reservados ao Jornal nos Bairros