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COLUNA OPINIÃO: “A CARNE “

Coluna Daniele Lisandro

No ano de 2002 Elza Soares, reinterpretou a música “a carne”, onde a letra diz: “A carne mais barata do mercado é a carne negra”, a mesma serve para denunciar o tratamento oferecido pela sociedade aos negros, chamar atenção aos abusos sofridos e suportados pelos mesmos.

Constantemente pode-se confirmar o sofrimento pelos quais são submetidos, basta acompanhar os noticiários para percebermos que os negros são na sua maioria afetados por diversos meios de discriminação e por conseguinte tem suas vidas subjugadas e desvalorizadas.

No ultimo dia 4, segunda-feira , um entregador foi baleado por um policial militar, situação motivada pelo fato do policial ter se recusado a buscar o pedido na portaria, e do entregador ter se negado a subir para entregar no apartamento (procedimento correto conforme app de entrega).

Ainda que o caso em tela não seja configurado como racismo, e que tenha sido mera “coincidência” a violência perpetrada sobre um jovem negro, ela serve de  base de para reflexão do papel exercido por aqueles que se encontram em posições privilegiadas.

O Brasil, como cediço, é um país historicamente racista, onde cenas violentas e discriminatórias são parte do cotidiano, e manifestada quase sempre por pessoas que carregam no seu imaginário a ideia de superioridade, formada por um entendimento medíocre, tacanho, construído por percepções distorcidas do que seriam “homens ideais”.

Ao longo da história construiu-se a ideia de que o homem branco, americano/ europeu carregam consigo a honestidade, são belos, inteligentes, virtuosos, e por outro lado os brasileiros/latinos, negros, pobres, são desonestos, mais propensos a cometerem crimes, e portanto, não são confiáveis.

Desse modo, para compreendermos a composição da sociedade como ela se apresenta, é necessário observarmos com atenção a forma que ela se estruturou, quais foram as bases que a formaram, que no caso do Brasil, teve na sua base a escravidão, que por conseguinte deixou marcas profundas e que se perpetuam, carregando o racismo como um representante fiel desse fato.

O sociólogo Jesse Souza, em seu livro “o Brasil dos humilhados”, faz uma análise bastante ampla, onde aborda os acontecimentos e influencias de determinados pensadores sobre a construção da imagem que os brasileiros fazem de si, bem como de uma ideologia elitista que culpa o próprio povo pela vida precária que leva.

Assim, as imagens devidamente criadas e propagadas por diversos modos de comunicação, manipuladas pela elite dominante, pelos donos dos privilégios,  nutrem a falsa ideia de mundo, o convencimento de que o oprimido é mesmo inferior, e exalta o mérito daquele que esta em posição de poder.

Ora, o que esperar de uma sociedade com estrutura tão carcomida pela escravidão, que teve a ideia criada por Sergio Buarque de Holanda de  “homem cordial” ( apenas os mestiços, pobres e negros) devidamente perpetuada, que tem uma elite e seus asseclas formada por canalhas, que convive com uma falsa “democracia racial”?

É um contexto desolador, sem dúvida, imaginar a transposição de ideias tão enraizadas, exige um esforço contínuo por parte de quem se importa com aqueles que são relegados pela maioria, exige uma coragem enorme de navegar contra a corrente, e o empenho imenso de tentar retirar dos olhos alheios a venda que os cobrem.


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