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 UM PASSEIO POR NAVEGANTES E ITAJAÍ EM 1909 

Excursionistas de Joinville visitaram Navegantes em 1909 . Crédito: Arquivo Público de Itajaí

O verão no calendário começa nesta sexta-feira (22) e com ele a temporada 2023/2024. Cidades do litoral já se preparam para receber os turistas. Mas isso nem sempre foi assim. Ir ao litoral a passeio é um hábito que teve início a partir da década de 1960. Antes disso, os passeios à beira-mar eram raros. Um desses passeios raros aconteceu há 114 anos, quando um grupo de excursionistas de Joinville visitou Navegantes, então bairro de Itajaí. A coluna “Outros quinhentos” conta essa aventura que aconteceu em 1909 e foi registrada no jornal “O Pharol” do dia 15 de outubro daquele ano.

A viagem dos excursionistas de Joinville começou na madrugada de uma sexta-feira, dia 8 de outubro de 1909. Sem rodovias naquela época, o trajeto terrestre até Navegantes era feito pelas praias e alguns caminhos abertos pelos índios. Um deles deu origem à BR-101 entre os anos de 1950 e 1970. Os cerca de 50 excursionistas vieram em 10 carruagens de aluguel, puxadas por quatro cavalos cada. Uma viagem que hoje leva aproximadamente 30 minutos, em 1909 durava entre 6 a 8 horas.

Praia de Navegantes foi um dos pontos visitados pelos joinvilenses. Crédito: Arquivo Público de Itajaí 

Perto das 13 horas daquele dia 8 de outubro, os joinvilenses chegaram em Navegantes. O tempo estava nublado e a temperatura agradável. As carruagens estacionaram onde fica hoje a praia Central. Quando a notícia se espalhou, os moradores do então bairro de Itajaí correram até a praia para ver a novidade, afinal, não era todo dia que Navegantes recebia tanta gente de fora. Os alunos da Sociedade Escolar (a primeira escola de Navegantes), junto com o diretor da escola João Gaya e o secretário escolar Emygdio da Silva recepcionaram os visitantes.

As meninas Lavínia Medeiros e Yasinha, alunas da Sociedade Escolar, em nome do povo navegantino e de suas colegas cumprimentaram os visitantes. Elas ofereceram ramalhetes de flores em sinal de boas-vindas. Ignácio Bastos, líder dos excursionistas, agradeceu a recepção. Todos caminharam até a sede da Sociedade Escolar. Os estudantes, acompanhados da banda dos excursionistas de Joinville, cantaram o hino nacional.

A convite da comissão de boas-vindas foi servido café e doces na residência do senhor Adolpho da Luz. Depois do lanche, às 14h30, os visitantes seguiram debaixo de uma chuva fina e persistente até o cais. Na estação de embarque e desembarque da Asseburg & Cia, aguardaram para fazer a travessia para Itajaí. Enquanto esperavam pelo rebocador Itajahy, a banda musical Santa Cecília tocou músicas da época.

A espera levou 30 minutos. Às 15 horas, o rebocador Itajahy conduzindo uma grande lancha atracou na estação. Ao desembarcarem do outro lado, os excursionistas foram recebidos por moradores, estudantes e integrantes de uma comissão do Conselho Municipal (Câmara de Vereadores) de Itajaí. A aluna da 1ª escola pública Cassia Liberato, cumprimentou a todos em nome dos itajaienses.

Depois de saírem da estação de embarque e desembarque em Itajaí, os visitantes seguiram pelas ruas Lauro Müller, 11 de Junho (rua Cônego Tomás Fontes) e 15 de Novembro. Pelo caminho, os moradores saíam de suas casas para ver e cumprimentar os  joinvilenses. A caminhada pelo centro de Itajaí terminou na rua da Matriz, hoje a rua Hercílio Luz, precisamente em frente da sede da prefeitura, atual Museu Histórico de Itajaí.

Visitantes foram recebidos com festa e homenagens pelos moradores de Itajaí e Navegantes. Crédito: Arquivo Público de Itajaí 

O superintendente (prefeito) de Itajaí, o médico baiano, Pedro Ferreira, deu as boas-vindas aos excursionistas de Joinville. Pedro Ferreira agradeceu em nome da população, Ignácio Bastos, pela escolha por Itajaí e Navegantes. Após o discurso emocionado do superintendente, que foi acompanhado por um salva de palmas, todos seguiram para o auditório. No local, serviram uma quantidade generosa de cerveja produzida em Itajaí. Na época, o município possuía algumas das cervejarias artesanais mais conhecidas de Santa Catarina.

Quando saíram da sede da prefeitura, a chuva fina e fria continuava. Isso fez que uma parte dos excursionistas procurassem abrigo mais cedo em hotéis e residências do centro de Itajaí. Já os mais corajosos continuaram a caminhada pelas ruas e seguiram até a Sociedade Estrela do Oriente, que nasceu quase na mesma época da hoje conhecida Sociedade Guarani.

A Estrela do Oriente tinha seu foco carnavalesco no começo, mas ao longo dos anos ficou conhecida por ser ponto de encontro de outros entretenimentos como teatro e principalmente o cinema. Depois da Sociedade Estrela do Oriente, houve tempo ainda para visitar a imprensa local e as obras de melhoramentos da barra. Em 1909, os molhes Norte (Navegantes) e Sul (Itajaí) ainda não tinham sido construídos. As obras só começaram 20 anos depois.

Na sexta-feira, às 22 horas, a Sociedade Guarani ofereceu junto com a Sociedade Estrela do Oriente, um baile em homenagem aos excursionistas. No salão de festas caprichosamente ornamentado, a banda joinvilense executou uma versão orquestrada da ópera “O Guarani”, de Carlos Gomes, e a banda Santa Cecília uma variação Catarinense. Eles dançaram até o meio da madrugada. No fim, Ignácio Bastos, pelos excursionistas de Joinville, Júlio Barreto, pela Sociedade Guarani, e pela Sociedade Estrela do Oriente, João Guedes da Fonseca, agradeceram a todos pela noite.

No sábado, dia 9 de outubro de 1909, o grupo visitou outros bairros de Itajaí pela manhã e à tarde a banda dos excursionistas de Joinville fez uma apresentação na praça perto do rio, hoje a Praça Vidal Ramos, o Marco Zero, em frente a Igreja Imaculada Conceição (Igrejinha Velha). À noite, lá pelas 20 horas, na Sociedade Estrela do Oriente, a menina Carmem Seara fez um pequeno discurso de boas-vindas e presenteou o senhor Ignácio Bastos com um buquê de flores. Em seguida, integrantes das sociedades Estrela do Oriente e Guarani fizeram uma apresentação artística em homenagem à cidade de Joinville. A noite na Sociedade Estrela do Oriente terminou com um baile até meia-noite.

No domingo, 10 de outubro de 1909, às 10 horas, os excursionistas começaram a sua viagem de volta a Joinville. Antes de partir, eles visitaram a redação do jornal “O Pharol”, onde seus integrantes contaram suas aventuras contidas neste texto. Acompanhados pelos lenços de seda dos moradores de Itajaí, eles atravessaram o rio.

Em Navegantes, uma multidão esperava para se despedir dos joinvilenses. Entre eles, estava o futuro governador de Santa Catarina, o itajaiense Adolfo Konder, que naquele ano de 1909, começava a sua carreira política. Da estação de embarque e desembarque Asseburg & Cia, todos seguiram em direção à praia. Foi na praia de Navegantes, que os excursionistas se despediram e retornaram para Joinville.


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