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O CIRCO NOS TEMPOS DAS TELAS

ACADEMIA DE LETRAS DO BRASIL DE SANTA CATARINA – SECCIONAL NAVEGANTES

Acadêmica Bárbara Kristensen, cadeira nº 5

Desde criança eu e minha irmã sempre fomos apaixonadas pelo circo. Somos da época do show das águas dançantes de Orlando Orfei. Dos circos maiores ao menores, encantei-me toda a minha vida pela arte que via sob as lonas e até hoje me lembro do cheiro do picadeiro, de uma época (felizmente inexistente) em que os animais eram muitas vezes maltratados a favor do entretenimento.

Este ano celebro quarenta anos, mas não deixei de me encantar pela arte circense. Tive a oportunidade de assistir a famosos espetáculos e ver a maravilha que as pessoas (agora sem animais) podem fazer com seu esforço, dedicação, trabalho e coragem. Quanta coragem demanda ser artista circense!

Este fim de semana mais uma vez me rendi ao “Senhoras e Senhores!” e assisti ao espetáculo de um reconhecido circo brasileiro.

A magia, para mim, ainda estava ali, mas percebi algo que me intrigou e que me fez refletir: centenas de pessoas, reunidas para ver seres humanos fazendo coisas extraordinárias num ritual mais que centenário, que, pela primeira vez na humanidade, já não precisam mais do circo para deleitar-se com as maravilhosas capacidades dos seres humanos. Explico-me: quando criança, onde tínhamos a oportunidade de ver pessoas penduradas, trapezistas voando, contorcionistas desafiando os limites do corpo e sermos bombardeados pelo humor? No circo, que aguardávamos ansiosamente. E as crianças de hoje, onde podem ver isso tudo? Na palma das suas mãos, através de milhares de vídeos que retratam o segundo exato de uma acrobacia perfeita, que passa em replay, em câmera lenta, seguida de outro vídeo mostrando praticantes de parkour saltando sem dispositivos de segurança pelas ruas da cidade, seguida de vídeos de comédia dos mais variados tipos, que vão se alternando com um simples deslizar de dedos.

Saí do espetáculo pensativa, refletindo sobre o futuro da arte circense em tempos de telas. O que terão que mostrar, nos picadeiros do futuro, para que ninguém deslize o dedo para cima em busca da próxima atração?


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