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UM BLOCO COM CARA E CORAGEM

Desfile Cara e Coragem por Eder Nascimento

A partir desta edição, a coluna “Outros quinhentos” conta a história dos blocos carnavalescos de Navegantes. O primeiro deles é o “Cara & Coragem”, que por 30 anos movimentou o carnaval da região. Uma trajetória com cinco títulos e um enredo cheio de histórias, como o leão de circo que desfilou em 1991 e as polêmicas apurações.


A história do Cara & Coragem começa em 1985, quando os casais Manoel e Sônia, José Aroldo e Rosilene e José Xavier e Maria Ivanir decidiram criar um grupo para brincar o carnaval. No primeiro ano, 15 casais e mais três jovens solteiras fizeram parte do grupo. Na época, além do Cara e Coragem, Navegantes contava com os blocos da Amizade, Estrelinha do Mar e a escola de samba Unidos de São Domingos.
– Foi na casa do José Aroldo, meu irmão.

A gente estava conversando e já estava próximo do carnaval. Surgiu a ideia de fazer um grupinho para participar do carnaval de Navegantes e desfilar nos clubes. Aí surgiu a ideia e o primeiro passo foi colocar o nome. Estava em cima da hora, de imediato tínhamos que pensar em um nome e aí surgiu “Cara & Coragem” – explica Sônia Maria Costa Demétrio, uma das fundadoras do bloco.
Como bloco, o Cara & Coragem surgiu em 1987 e com uma novidade, o primeiro carro alegórico do carnaval navegantino.

Bloco Cara e Coragem foi fundado em 1985 por três casais de Navegantes. Foto Éder Nascimento.


– O carro alegórico era um barco. Nós fizemos esse barquinho e o destaque era a minha filha. A fantasia dela era toda branca. Depois doamos esse barquinho para a igreja colocar a imagem de Nossa Senhora dos Navegantes – conta.
Depois de 1987, o bloco cresceu e quatro anos depois o Cara & Coragem já contava com 520 integrantes e sete carros alegóricos. O ano 1991 registrou também o primeiro título, de campeão do carnaval de Itajaí.
– O carnaval de 1991 foi o auge. Em 1991, o Cara & Coragem saiu com 520 componentes e sete carros alegóricos. Foi o ano que ganhamos o primeiro título – reforça.

Segundo a fundadora, naquele ano, o bloco foi prejudicado por sua posição política em Navegantes.
– Eu sempre fui filiada do PP (Partido Progressista) e a gente tinha uma administração do PMDB (Partido Democrático Brasileiro). Tinha essa questão política também. Esse ano de 1991, quando terminou o desfile, ninguém tinha dúvida que o Cara & Coragem seria campeão. Aí perdemos para o Amizade por sete pontos. Antes de acontecer a apuração, chegou uma pessoa lá em casa e disse que perdemos o carnaval por sete pontos. No mesmo ano fomos campeões em Itajaí – disse.

Em 30 anos, o Cara e Coragem foi campeão cinco vezes, quatro em Navegantes e uma em Itajaí. Foto Arquivo Sonia Demétrio.


Em 1992, o desfile saiu da avenida João Sacavém e foi para a avenida Conselheiro João Gaya. Em 1993, o Cara & Coragem não desfilou em Navegantes. As apresentações aconteceram em Itajaí e Balneário Camboriú. Com o tempo, a rivalidade com o bloco da Amizade só aumentou.
Na década de 1990, boa parte dos recursos que financiava o bloco partiu de iniciativas próprias como cobrança de uma taxa para integrantes, venda de rifas e eventos, por exemplo, a “tainhada”, que contava com um público expressivo de Navegantes e região.

Outro recurso que ajudou bastante veio da antiga Exponave (Exposição Industrial e Comercial de Navegantes), que foi realizada no município entre 1989 e 1996.
– Nós fomos convidados a participar, na época o prefeito era o Manoel Evaldo. O Cara & Coragem foi convidado a montar uma barraca na Exponave. Como a gente tinha uma diretoria grande, a gente montou uma barraca grande e a gente se revezou. Todas as noites ficavam dois casais na barraca. Foi bem legal.
O Cara & Coragem vendeu por todas as barracas e o pavilhão. Além da Exponave, teve também a “Cavalhada”, que aconteceu atrás onde é hoje o antigo fórum. O dinheiro arrecadado também ajudou muito – enfatiza.

LEÃO JUBA
Entre os integrantes que desfilaram pelo Cara & Coragem, o que mais chamou atenção do público foi um leão chamado Juba. O animal, que era uma das atrações do famoso circo Orlando Orfei, foi o destaque do carnaval de 1991.

O lendário domador e proprietário do circo,  o italiano Orlando Orfei, com seus leões. Um deles chamado Juba desfilou em Navegantes em 1991. Crédito: Circo Orlando Orfei/Divulgação

– A história do leão foi assim. Eu estava em Balneário Camboriú para fazer uma radiografia no hospital Santa Inês, eu e meu marido. Quando a gente estava passando eu vi o circo Orlando Orfei. Aí eu disse para o Manoel, vamos entrar nesse circo e vê se a gente consegue alugar um leão para gente. Entramos e conversamos com o pessoal e eles disseram que sim. O nome do leão era Juba – lembra. Como o circo tinha apresentação no sábado de carnaval, o leão foi levado até Navegantes e colocado em uma jaula feita pelo bloco. A jaula fazia parte do carro alegórico chamado “Leão Real”, que tinha uma domadora, integrante do bloco.
Segundo Sônia, Juba se comportou muito bem para admiração do público que lotou a avenida João Sacavém. No domingo, o leão Juba desfilou em Itajaí.

Bateria nota 10 do Cara e Coragem (2013) – Foto Éder Nascimento

De 1997 até o ano 2000, o Cara & Coragem saiu sozinho por motivos políticos. Os outros blocos se recusaram a desfilar em Navegantes. Foi em um desses desfiles solitários que aconteceu um fato que marcou a trajetória de Sônia no bloco.
– Uma coisa que me marcou, que eu me emocionei também foi aqui em Navegantes. Na época que o Luiz Gaya (in memoriam) foi prefeito, o Cara & Coragem desfilou os quatro anos sozinho. A avenida cheia, cheia, aquilo me emocionou. Quando nós entramos na avenida era um coro só. Era muita gente cantando “Cara e Coragem cadê você, estamos aqui só para te ver”. Chovia muito, o povo ali na chuva e todo mundo cantava – recorda.

O ÚLTIMO DESFILE
Os altos custos, a falta de apoio e a não profissionalização de outros blocos, estão entre os fatores que contribuíram para o fim do Cara & Coragem. O último desfile foi realizado em 2015, ano também do último título. Foram cinco no total, quatro em Navegantes e um em Itajaí. – O bloco passou a ser mais caro e com carros alegóricos caros. Não havia retorno e o dinheiro que a prefeitura repassava era o mínimo. Tirávamos dinheiro do próprio bolso. Eu comecei a terceirizar. A coisa foi profissionalizando e com isso encarecendo.

Bloco chegou a ter 520 integrantes e 7 carros alegóricos. Crédito: Mimi Fotografias

O Cara & Coragem chegou a um patamar, sem falsa modéstia, que não tinha mais concorrentes. A gente resolveu parar. Aí acabou o carnaval de Navegantes – esclarece.

Sônia disse também que o Cara & Coragem chegou a ser convidado para desfilar no carnaval de 2023, mas divergências com a organização do carnaval de Navegantes fizeram o bloco se manter afastado pelo oitavo ano seguido. No entanto, ela acredita que o Cara & Coragem pode retornar um dia.
– No dia que o carnaval de Navegantes se organizar, no dia que eles cumprirem tudo que é determinado, tudo que é colocado em ata, pode ser. Mas do jeito que está aí não dá – concluiu.


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