Nas semanas que antecedem o Natal, as cidades se iluminam para uma das datas mais esperadas do ano. Uma realidade bem diferente do Natal de 1922 na maioria das cidades catarinenses. As ruas eram iluminadas com lampiões e as casas com lamparinas e velas, que eram acesas só quando necessárias..
Há cem anos, Navegantes vivia literalmente na escuridão. As coisas só começaram a mudar a partir de 1928, quando o então bairro de Itajaí recebeu o serviço de energia elétrica. A novidade foi destaque no jornal “O Pharol” de 10 de outubro daquele ano.
O semanário itajaiense aproveitou também para criticar a usina hidrelétrica Salto Weissbach, em Blumenau, responsável pelo fornecimento de energia elétrica. A usina que pertenceu à Empresa Força e Luz de Santa Catarina foi incorporada pela Celesc em 1966.
Crédito: Reprodução/Arquivo Público de Itajaí
“Navegantes, o bairro fronteiro à cidade vai ter depois de amanhã inaugurada a sua rede de iluminação elétrica. Recebe assim esta parte da cidade separada do Centro pelo curso correntoso do Itajaí-Açu este benéfico influxo da civilização a que nós os do lado de cá há muito estamos habituados, embora nos vejamos em luta com as trevas com que a força maior da Empresa do Salto, com irritante regularidade nos mimoseia.”
A inauguração da luz elétrica de Navegantes aconteceu no dia 12 de outubro de 1928 e teve a presença do governador de Santa Catarina, que na época era denominado presidente. O registro mais uma vez é do jornal “O Pharol” de 13 de outubro de 1928. Além da luz elétrica de Navegantes, o presidente do Estado de Santa Catarina, Adolpho Konder, inaugurou uma escola e a nova rede de abastecimento de água de Itajaí.
“Com a presença dos senhores Adolpho Konder, presidente do Estado, Henrique Fontes, secretário da Fazenda, Bulcão Viana, presidente do Congresso Estadual, desembargador Tavares Sobrinho, presidente do Superior Tribunal de Justiça, Américo Nunes, procurador-geral do Estado, autoridades locais e representantes da imprensa tiveram lugar ontem as cerimônias da inauguração da nova rede de abastecimento de água, sede da Escola Estadual Lauro Müller na Vila Operária Pereira Oliveira e luz elétrica nos Navegantes.”
Às 10 horas, teve lugar a primeira dessas solenidades, a inauguração do novo abastecimento de água, realizada no edifício da Prefeitura, no salão das sessões do Conselho. Às 4 horas da tarde, realizou-se a inauguração do edifício da Escola Estadual Lauro Müller, na Vila Operária Pereira Oliveira. Àquela hora era considerável o número das pessoas que ali se reuniam a fim de assistir à solenidade.
Crédito: Acervo Memória da Eletricidade
Às 6 horas, realizou-se em Navegantes a inauguração da luz elétrica naquela localidade, sendo o senhor presidente Konder saudado à chegada pelo conselheiro municipal, senhor Lindolpho Vieira. Em seguida, dirigiu-se a comitiva para o transformador de energia elétrica, onde falou o prefeito Marcos Konder, que proferiu o discurso oficial da inauguração, sendo a corrente elétrica ligada nesta ocasião por um engenheiro da Empresa Salto.”
Embora inaugurada no dia 12 de outubro de 1928, a novidade não chegou na casa de todos os moradores. Apenas as residências das famílias mais ricas receberam iluminação elétrica. A luz só chegou nas casas das famílias mais humildes de Navegantes muitos anos depois.
Na edição de 26 de agosto de 1945, o Jornal do Povo noticiou as melhorias que estavam sendo realizadas em Navegantes para aumentar a potência da energia elétrica.
“O bairro de Navegantes está merecendo da atual administração municipal, cuidados e atenções especiais. É que ao Prefeito Abdon Fóes – justiça se lhe faça – não escapa nenhum assunto nem nenhum problema que diga respeito ao bem-estar de seus munícipes.
Assim é que, tendo observado que a luz elétrica em Navegantes estava ultimamente reduzida na sua potência, o prefeito empenhou-se com ânimo decidido junto da diretoria da Empresa Força e Luz para melhorar a rede que serve aquele aprazível bairro.
E o conseguiu. Tanto assim que, a empresa já iniciou os serviços de reforma da rede área de Navegantes, orçada em Cr$ 11.893,60 que virá aumentar consideravelmente a voltagem e assim regularizar o fornecimento de energia elétrica para aquele arrabalde.”
Com o tempo, o serviço de energia elétrica foi alvo de reclamações dos moradores de Navegantes. Alguns deles procuraram o Jornal do Povo, que publicou a queixa na edição de 7 de maio de 1961.
“Estão os moradores dos Navegantes extremamente revoltados com a situação reinante em torno da luz em nosso bairro. Acontece que diariamente às 6 horas da manhã, a mesma é desligada, e, exatamente numa hora em que todo o trabalhador está se aprontando para vencer o seu trabalho.
Como não podemos encontrar justificativa para essa atitude do nosso particular amigo e ilustre vereador Nilton Kucker, vimos pelo presente apelar aos seus bons sentimentos para escolher outra hora para desligar a luz, pois o mesmo deve convir conosco de que 6 horas da manhã, no inverno, ainda é escuro.
Nestas circunstâncias ficamos aguardando uma providência do sr. Nilton Kucker, uma vez que toda a população está desgostosa com tal situação. Sabemos que fundamentalmente deve haver razões técnicas para tal procedimento, porém no que diz respeito à hora é que não podemos concordar. Aguarda, pois, o povo de Navegantes uma providência a respeito do assunto.”
Parece que o pedido dos moradores foi atendido, mas as reclamações com o serviço de energia elétrica de Navegantes continua até hoje.
