Construídos pela Companhia de Mineração e Metalurgia Brasil, a Cobrasil, os molhes sul (Itajaí) e norte (Navegantes) foram importantes para o início da atividade portuária em Itajaí nas primeiras décadas do século XX. Antes dos molhes, as condições de navegabilidade da barra do rio Itajaí-Açu eram precárias e com constantes encalhamentos de navios. Um exemplo foi o navio Victória, encalhado em 1906.
A construção dos molhes começou na década de 1920 e se estendeu até a década de 1950. Uma estrada de ferro foi montada para transportar blocos de pedras até a praia do Pontal. O material era extraído da localidade de Queimadas (bairro Pedreiras), em Navegantes. Para fazer esse trabalho, a Cobrasil contratou centenas de trabalhadores de Navegantes, Itajaí e região.
O trabalho era considerado insalubre e perigoso, com diversas queixas por parte dos trabalhadores. Não demorou muito para que os primeiros acidentes acontecessem. O primeiro deles foi registrado no dia 4 de janeiro de 1929. Um acidente com vagões que transportava pedras para o molhe de Navegantes quase terminou em tragédia, como noticiou o Jornal Pharol de 5 de janeiro de 1929.
“Registrou-se ontem no molhe do Pontal da Barra um sério desastre que por pouco não produziu graves consequências. De manhã, quando eram transportadas as pedras para prosseguir aquele entroncamento, os dois vagões dianteiros, soltando-se do comboio, foram, em vertiginosa disparada, em direção à ponta do molhe onde se assentava o guindaste que fazia ali a descarga das pedras.
Sendo impossível suster a marcha dos carros estes foram abalroar o guindaste que, impelido pelo forte choque, soltou-se das amarras, ameaçando cair ao mar.
Ante a iminência do desastre os que ali trabalhavam trataram de escapar, evitando assim serem esmagados. Infelizmente o senhor João Bornhausen, que fiscalizava os trabalhos não teve a sorte dos demais, vindo a receber ligeiras contusões em um joelho. O guindaste não caiu no mar por haver uma pedra o sustendo na queda”.
Um ano e meio depois, no dia 23 de agosto de 1930, um trabalhador morreu e 11 ficaram feridos depois que o vagão em que estavam colidiu com outro ao fazer uma curva. A tragédia foi noticiada pelo Jornal O Pharol de 27 de agosto daquele ano.
“Um desastre de gravíssimas proporções ocorreu na tarde de sábado último, nos Navegantes, na pequena linha férrea ali existente para o transporte de material da pedreira das Queimadas para os molhes em construção, linha esta que também é utilizada para a condução dos trabalhadores.
Cerca das 17 horas do referido dia largaram do molhe norte e da pedreira, simultaneamente, as locomotivas conduzindo vagões repletos de trabalhadores que regressavam do serviço e se dirigiam à passagem (Ferry Boat) a fim de regressar aos seus lares. Os comboios vinham com a precipitada velocidade reclamada pelos que, após um dia de intenso trabalho, anseiam pelo descanso no lar.
Ao atingir uma curva rápida os maquinistas, ou por precipitação, ou porque se houvessem habituado a esse descuido, não deram o sinal de aviso, do que resultou defrontarem-se os dois comboios sem que houvesse mais tempo de evitar o desastrado encontro, que foi de tal modo violento que os vagões dianteiros se espatifaram, ficando vários operários feridos entre os escombros.
Após a perturbação do primeiro momento foi verificada a gravidade do acidente. Cerca de doze, era o número dos operários feridos, cinco dos quais gravemente. Chamados imediatamente os clínicos locais Srs. Drs. Menescal do Monte e Agenor Lopes de Oliveira foram prestados os primeiros socorros, sendo as vítimas transportadas incontinenti para o Hospital Santa Beatriz, onde se encontram em tratamento, sendo desesperador o estado de uma delas.
O trabalhador Theodoro Floriano dos Santos não resistiu à gravidade dos ferimentos vindo a falecer no dia seguinte, domingo. Ao que fomos informados os maquinistas que dirigiam as locomotivas não dispunham da carta exigida por lei, devendo-se, portanto, às suas imperícias e a seus descuidos o lamentável desastre que veio atirar ao leito de dor vários chefes de famílias que se entregavam ao trabalho, julgando que as suas vidas eram dispensadas o máximo cuidado”.
No dia 16 de abril de 1940 aconteceu outra tragédia. Um operário que trabalhava na retirada de pedras para construção dos molhes de Navegantes e Itajaí morreu após ser esmagado, como noticiou o Jornal do Povo de 24 de abril de 1940.
“Terça-feira última, ocorreu lamentável desastre na Cia. Cobrasil, nesta cidade. Quando se entregavam ao trabalho em Queimadas, no transporte de pedras em caçambas, foi atingido por uma enorme pedra, que lhe caiu sobre o peito, o operário Manoel Felippe Santana. Retirada imediatamente por seus companheiros, o infeliz não resistiu aos ferimentos recebidos, muito embora os esforços empregados para salvá-lo, falecendo cinco minutos após.
A mesma pedra, que vitimou o operário Santana, atingiu também o operário Pedro Paulo que teve o pé esquerdo esmagado, sendo recolhido ao Hospital Santa Beatriz, onde se encontra em tratamento”.