Incêndio em navio carregado de gás quase provocou uma catástrofe. FOTO: Umbelino Cidral/Arquivo
No dia 2 de fevereiro de 1965, a população de Itajaí e Navegantes testemunharam um incêndio que entraria para a história das duas cidades. Um navio da Petrobrás carregado com gás liquefeito de petróleo pegou fogo e gerou pânico entre a população. A coluna “Outros quinhentos” conta como ocorreu o incêndio, que por muito pouco não se transformou em uma catástrofe.
O navio Petrobrás Norte atracou no terminal marítimo do bairro Cordeiros, em Itajaí, no dia 2 de fevereiro de 1965, uma terça-feira, feriado municipal em Navegantes e na época também em Itajaí. A embarcação transportava mil toneladas de gás liquefeito de petróleo. O gás seria distribuído para os tanques da Liquigás e Heliogás.
O incêndio começou por volta das 18 horas. Naquele dia, a procissão de Nossa Senhora dos Navegantes estava marcada para às 17h30. Segundo testemunhas, a primeira explosão aconteceu depois da passagem do último barco da procissão, que na década de 1960 tinha um percurso bem maior do que o atual.
Segundo o livro “Itajaí em chamas”, de Magru Floriano, após a explosão o incêndio atingiu dois tanques e a popa do Petrobrás Norte. As chamas alcançaram dezenas de metros de altura e sua fumaça podia ser vista a quilômetros de distância. Pequenas explosões também foram ouvidas em Itajaí e Navegantes durante a noite. Bombeiros de Florianópolis e Blumenau ajudaram a controlar o fogo e evitar que a tragédia fosse maior.

O navio foi rebocado para fora do cais. O risco era que o fogo se espalhasse para outros navios que estavam próximos. Um desses navios, segundo o livro “Itajaí em chamas”, era o Petrobras Paraná, que descarregava gasolina e óleo diesel no terminal da Shell. Contando com apenas três tripulantes, o comandante do Petrobrás Paraná conseguiu tirar o navio do terminal a tempo.
No mesmo livro, o autor defende a tese de uma tragédia sem precedentes caso o navio explodisse e o fogo se espalhasse e atingisse os tanques da Liquigás e Heliogás. Outra possibilidade, seria o vazamento de toneladas de óleo diesel marítimo no rio, que desceria até a foz “incendiando tudo que encontrasse às suas margens: barcos de pesca, trapiches, grandes madeireiras, residências e até navios atracados no porto de carga geral.” No dia seguinte, as válvulas de segurança dos tanques foram fechadas e o fogo foi controlado.
Um herói chamado Odílio Garcia
Pelo menos 64 pessoas estavam no cais do terminal marítimo na hora do incêndio. Várias delas foram encaminhadas ao hospital Marieta Konder Bornhausen. Cinco tripulantes do Petrobrás Norte morreram: o bombeador Odílio Garcia, o marinheiro Jonas Tenório Cavalcante, o contra-mestre João de Melo, o maquinista Sebastião Wanderley Cordeiro e o chefe de cozinha Antônio Alves de Oliveira.
Na lista dos mortos estava um herói, Odílio Garcia, que conseguiu fechar as válvulas que davam vazão ao gás, evitando assim que o navio explodisse. Com o corpo em chamas, Odílio se jogou no rio. Ele foi levado para o hospital Marieta e faleceu no dia seguinte. Odílio nasceu em Porto Belo, no dia 25 de julho de 1930, mas a família morava em Itajaí. Uma de suas irmãs residia em Navegantes.
Uma nota da Frota Nacional de Petroleiros (Fronape), publicada no jornal “A Tribuna” do dia 4 de fevereiro de 1965, informou que a causa do incêndio foi “algum fogo de artifício disparado durante a festa de Nossa Senhora dos Navegantes.” Parte da população que havia abandonado a cidade com medo de uma grande explosão, retornou conforme a reportagem da mesma edição do jornal paulista.
Construído em um estaleiro alemão em 1955, o Petrobrás Norte tinha capacidade para levar até 2.239 toneladas de gás. Ele entrou em operação em 1958. Além de gás liquefeito de petróleo, o navio podia transportar também amônia. Em 1962, o jornal Correio Braziliense noticiou que o navio tinha passado por reformas, sendo substituídos os motores. A troca foi feita para que o navio pudesse trazer gás da Argentina.
No dia 14 de fevereiro de 1965, um rebocador da Marinha de Guerra do Brasil levou o navio para o Rio de Janeiro, onde virou sucata.
One thought on “Os 60 anos do incêndio que quase riscou Itajaí e Navegantes do mapa”