O cenário atual demonstra que a crença de uma superioridade de raça e de cultura é uma chaga que persiste ao longo dos séculos no Brasil, e influencia diretamente as escolhas políticas e o modo de enxergar a sociedade.
Para compreender como essa visão distorcida foi construída, temos que olhar para os fatos com atenção, pois, no Brasil, existiram elementos de sobra para se construir uma sociedade racista.
Se ampliarmos o foco, vamos notar que a história foi contada pelos invasores, com visões de mundo eurocêntricas, e que conseguiram incutir de forma permanente a ideia de que o branco, (especialmente europeu) estaria ligado a todas as formas de superioridade: (beleza, verdade, valores supremos) enquanto todos os outros, deveriam ser considerados seres inferiores (negros, indígenas, mestiços).
Afinal para que um povo seja subjugado, é necessário convencer a todos que haja inferioridade desses, em relação àqueles que estão exercendo o domínio. Era preciso difundir a ideia de que os colonizadores estavam prestando um favor ao civilizar um povo “selvagem”.
Na década de 1870, surge no Brasil a necessidade de estudar a sociedade brasileira (baseados em ideias evolucionistas, positivistas, materialistas) colocando em pauta as “três raças”: negros, índios e brancos. Obviamente os intelectuais da época, tinham concepções políticas que também influenciaram suas pesquisas.
Ademais, o pensamento racista emerge com a abolição da escravatura, onde o escravo passa a ser considerado “homem livre”, nesse contexto os referidos intelectuais da época como Nina Rodrigues, entendem que o negro deixa de ser visto como servo, para ser analisado como negro do ponto de vista “científico”.
Nina Rodrigues, em um de seus livros “Os africanos no Brasil”, defendia que o negro não pertencia a mesma fase do desenvolvimento intelectual e moral que o branco, em “As raças humanas e a responsabilidade penal no Brasil”, ele formula teorias de que uma ação considerada criminosa por uma raça poderia não ser considerada por outra.
Segundo o antropólogo Roberto da Matta (1986), viajantes que passaram pelo Brasil, cientistas e teóricos afirmavam que o atraso no desenvolvimento do Brasil residiria na mistura das “diferentes raças”, sendo o único caminho o “branqueamento” da população.
Mais tarde, com a publicação do livro “Casa Grande e Senzala” (1933) Gilberto Freyre ajudou a difundir a ideia de que no Brasil as diferentes etnias conviviam bem entre si, embora não negasse o racismo, perpassou esse equívoco: o “mito da democracia racial”.
Gláucia Murinelli, comenta que a atribuição do mito da democracia racial à obra de Freyre provém de sua interpretação de que a intensa miscigenação da população, em uma sociedade paternalista como a brasileira, resultou na constituição de uma sociedade na qual prevaleceram a empatia entre as raças e a amenidade das relações entre senhores e escravos. Fato que teria sido decisivo para uma convivência racial, se não harmônica, pelo menos acomodada entre os diferentes grupos sociais
Com alguns recortes da história pode-se notar, como a sociedade vai sendo concebida, com ideias que foram propagadas em livros que serviram como base de estudo para tantos, e que, portanto, foram também formadores para pensamentos racistas e equivocados.
Embora não seja possível demonstrar em apenas um texto, todos os fatos que serviram como base para construção de um povo com valores tão discriminatórios, alguns elementos apresentados podem servir para que tenhamos um olhar mais crítico sobre determinadas ações.
Quando ainda :”(…) podemos situar as pessoas pela cor da pele ou pelo dinheiro. Pelo poder que detêm ou pela ‘feiura de seus rostos’. Pelos seus pais e nome de família, ou … com o credo segundo o qual, dentro dele: “cada um sabe muito bem o seu lugar”…É mais do que evidente que a ideia de “superioridade” permanece em vigor determinando, inclusive, em quem votamos.
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