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Mais de 6 mil brasileiros que nunca fumaram podem receber o diagnóstico de câncer de pulmão em 2024

Embora o tabagismo seja a principal causa de câncer de pulmão, duas entre dez pessoas que desenvolvem a doença nunca consumiram cigarro. Entre as causas para tumores pulmonares em não fumantes estão a exposição ao gás radônio, fumo passivo, poluição do ar, exposição ocupacional (amianto, fumaça de diesel e outros produtos químicos), fatores genéticos, doenças pulmonares prévias e cigarro eletrônico

O câncer de pulmão é a principal causa de morte por tumores malignos, tendo o fumo do tabaco como o agente cancerígeno mais determinante. Por sua vez, alerta o Grupo Brasileiro de Oncologia Torácica (GBOT), estudos epidemiológicos sugerem que 20% a 25% dos casos de câncer de pulmão podem não ser atribuíveis ao tabagismo. Em todo o mundo, segundo o Observatório Global de Câncer da Agência Internacional par Pesquisa do Câncer (IARC) são registrados mais de 2,4 milhões de casos de câncer de pulmão e a doença responde por 1,8 milhão de mortes anuais. (1). 

Ao menos 360 mil destas mortes por câncer de pulmão são de pessoas que nunca fumaram. No Brasil, os dados do Instituto Nacional de Câncer (INCA) apontam que 32 mil pessoas devem receber o diagnóstico de câncer de pulmão em 2024. Considerando a estimativa de ao menos dois entre dez casos serem em não tabagistas, a expectativa é que ao menos 6 mil brasileiros, que nunca fumaram, sejam diagnosticados com a doença este ano. (2). 

O câncer de pulmão em quem nunca fumou (lung cancer in never smokers/LCINS) é o sétimo contribuinte para morte por câncer. São diversas as etiologias (causas) para o câncer de pulmão em não tabagistas. Pensando nisso, em alusão ao Agosto Branco de 2024, o GBOT busca aumentar a conscientização sobre os fatores de risco do câncer de pulmão em não fumantes. “Esta iniciativa tem como objetivo educar o público geral sobre as causas menos conhecidas do câncer de pulmão, que muitas vezes é uma doença erroneamente associada apenas aos fumantes. Ampliar essa informação é crucial, com potencial de promover diagnóstico precoce e salvar vidas”, ressalta a oncologista clínica Clarissa Baldotto, presidente do GBOT. 

O GBOT listou os principais fatores de risco para câncer em não fumantes.

1 – Exposição ao Gás Radônio: O radônio é um gás radioativo natural que pode infiltrar-se em casas através de rachaduras na fundação. A exposição prolongada a altos níveis de radônio pode aumentar significativamente o risco de câncer de pulmão. Testar e mitigar os níveis de radônio nas casas pode reduzir esse risco.

2 – Fumo Passivo: Não fumantes que são regularmente expostos ao fumo passivo têm um risco maior de desenvolver câncer de pulmão. Isso inclui viver com fumantes ou frequentar ambientes onde o fumo é comum. Defender ambientes livres de fumaça pode ajudar a proteger contra esse risco.

3 – Poluição do Ar: A exposição prolongada à poluição do ar, incluindo emissões de veículos, processos industriais e usinas de energia, é um fator de risco conhecido para o câncer de pulmão. Apoiar políticas que visam reduzir a poluição do ar e promover energia limpa pode mitigar esse risco.

4 – Exposição Ocupacional: Certas ocupações expõem os trabalhadores a carcinógenos como amianto, fumaça de diesel e alguns produtos químicos usados na fabricação. Garantir medidas de segurança adequadas e equipamentos de proteção nos locais de trabalho pode reduzir a incidência de câncer de pulmão entre não fumantes. A exposição ao carbono negro (fuligem), comum no tráfego de automóveis, também aumenta o risco. 

5 – Fatores Genéticos:  Um histórico familiar de câncer de pulmão pode aumentar o risco de uma pessoa, mesmo que ela não fume. Incentivar as pessoas a discutirem seu histórico médico familiar com seus médicos pode levar a estratégias de rastreamento e detecção precoce mais personalizadas.

6 – Doenças Pulmonares Prévias: Condições como a doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) ou fibrose pulmonar podem aumentar o risco de câncer de pulmão. O diagnóstico e manejo precoces dessas condições são essenciais para reduzir esse risco.

7 – Uso de Cigarros Eletrônicos (Vape): Embora os cigarros eletrônicos (vapes) frequentemente sejam vistos como uma alternativa mais segura ao fumo tradicional, o uso desses dispositivos ainda apresenta riscos, mesmo sem a presença de nicotina. Os líquidos de vape contêm várias substâncias químicas que podem ser inaladas profundamente nos pulmões. Estudos preliminares sugerem que alguns destes produtos químicos podem ser prejudiciais e potencialmente aumentar o risco de câncer de pulmão e outras doenças pulmonares. Promover a conscientização sobre os riscos associados ao uso de vapes, mesmo sem nicotina, é crucial.

Câncer de pulmão em não fumantes: doença diferente e tratamento personalizado

O câncer de pulmão em pessoas que nunca fumaram, biologicamente, é uma doença diferente do câncer de pulmão causado pelo tabagismo. Além das causas ambientais não serem as mesmas, há também uma importante diferenciação genética. “Por conta disso tem sido fundamental o avanço proporcionado pela revolução genômica. Hoje, não é suficiente saber que um determinado paciente tem um tumor maligno diagnosticado no pulmão. É fundamental definir a classificação molecular da doença. Assim como saber se o paciente tem ou não histórico pessoal de tabagismo”, ressalta o oncologista clínico Vladmir Cordeiro de Lima, presidente eleito do GBOT. 

Em outras palavras, é válido saber se determinado tumor é, por exemplo, um adenocarcinoma pulmonar com mutação no gene EGFR. Esta informação, é essencial para oferecer ao paciente um acompanhamento individualizado e tratamento personalizado. É a chamada Oncologia de Precisão, que tem no câncer de pulmão o exemplo mais efetivo de evidências consolidadas, que alteraram a história natural da doença. 

Um estudo brasileiro, publicado na revista científica The Oncologist, investigou a biologia do câncer de pulmão em pacientes que nunca fumaram. Foi avaliado o status de mutações e fusões gênicas em 119 adenocarcinomas pulmonares de pacientes que nunca fumaram e realizou-se o sequenciamento genético de nova geração (NGS), seguido de imuno-histoquímica (exame realizado pelo patologista). Os resultados apontam que o gene mutado com mais frequência foi o EGFR (49,6%), seguido por TP53 (39,5%), ALK (12,6%), ERBB2 (7,6%), KRAS (5,9%), PIK3CA (1,7%) e menos de 1 % de alterações em RET, NTRK1, PDGFRA e BRAF. Exceto TP53 e PIK3CA, todas as outras alterações foram mutuamente exclusivas. A análise da ascendência genética revelou uma predominância de europeus (71,1%), e uma maior ascendência africana foi associada a mutações TP53. A boa notícia é que 73% desses pacientes apresentam alterações genéticas que contam com medicamentos personalizados, que atuam na inibição destas mutações genéticas. (3).

Na prática, o diagnóstico molecular consiste em identificar mutações genéticas específicas presentes nas células cancerígenas, permitindo um tratamento personalizado e mais eficaz para os pacientes. “Com o diagnóstico molecular, podemos selecionar as terapias direcionadas e inovadoras, aumentando as chances de sucesso e melhorando a qualidade de vida dos pacientes. Essas terapias personalizadas aumentaram a sobrevida dos pacientes com câncer de pulmão na última década”, reforça Clarissa Baldotto.

O QUE A CIÊNCIA SABE HOJE SOBRE CÂNCER DE PULMÃO – São duas as categorias principais de câncer de pulmão. A mais comum é a de não pequenas células (NSCLC), que responde por cerca de 85% dos casos de câncer de pulmão. Há vários subtipos de câncer de pulmão de não pequenas células que levam em consideração o tipo de célula epitelial onde a doença começa, incluindo o adenocarcinoma, carcinoma de células escamosas e carcinoma de grandes células. A segunda, que responde pelos outros cerca de 15% dos cânceres de pulmão, são do tipo de células pequenas (SCLC), doença que geralmente cresce e se espalha rapidamente para outras partes do corpo, incluindo os gânglios linfáticos. 

O estágio do câncer no momento do diagnóstico é um dos determinantes para a eficácia das opções de tratamento. De acordo com o levantamento SEERs, do National Cancer Institute, dos Estados Unidos, quando o câncer de pulmão está restrito ao órgão (estadio 1) as chances de cura (o paciente estar vivo cinco anos após o tratamento, é de 63,7%). Em casos de metástase (estádio 4), as chances de cura são inferiores a 10%. (4).

SINTOMAS – Os sintomas do câncer de pulmão variam de pessoa para pessoa. Muitas vezes, os sintomas são facilmente confundidos com doenças respiratórias comuns, como bronquite ou pneumonia, atrasando um diagnóstico preciso. Os sintomas mais comuns do câncer de pulmão incluem:

– Tosse que não desaparece e piora com o tempo
– Dor no peito constante e muitas vezes agravada pela respiração profunda, tosse ou riso
– Dor no braço ou ombro
– Tosse com sangue ou catarro cor de ferrugem
– Falta de ar
– Chiado
– Rouquidão
– Infecções como pneumonia ou bronquite que não desaparecem ou que voltam com frequência
– Inchaço do pescoço e rosto
– Perda de apetite e/ou perda de peso
– Sentir-se fraco ou cansado
– Alargamento das pontas dos dedos e leito ungueal também conhecido como “baqueteamento digital”

Se o câncer de pulmão se espalhar para outras partes do corpo, pode causar:
– Dor no osso
– Fraqueza no Braço ou dormência na perna
– Dor de cabeça, tontura ou convulsão
– Problemas de equilíbrio ou uma marcha instável
– Icterícia (coloração amarela) da pele e dos olhos
– Gânglios linfáticos inchados no pescoço ou ombro


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