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Naufrágio e calmaria: o Pallas e o palas

ACADEMIA DE LETRAS DO BRASIL DE SANTA CATARINA – SECCIONAL NAVEGANTES – SC

Acadêmica Professora Bárbara Kristensen, cadeira n. 5

Que o mar de Navegantes é perigoso e bravo, todo mundo sabe. E isso, quando eu era criança, me causava muita tristeza porque não podia entrar nas águas sem total supervisão. Aliás, mesmo com meu pai sem tirar o olho, no Natal de 1992, com oito anos, fui levada pelas correntes junto com a minha prima, mas por sorte fomos salvas por alguns surfistas que nos colocaram em suas pranchas e nos ajudaram a voltar à terra com vida.

Sem poder me divertir no mar como gostaria (e traumatizada), ainda restava uma esperança: tomar banho ali no molhe, no rio, no “palas”. Nunca gostei muito de banho de rio (o lodo entre os dedos dos meus pés me causava muita agonia), mas era melhor do que não poder passar da água nas canelas e, além do mais, eu podia boiar – remansar nas águas tranquilas daquela pequena baía. Meu pai não gostava de me levar ali, mas minha irmã me levou algumas vezes, as quais guardo com muito carinho no coração. Na minha adolescência, costumava pescar siri ali, tarrafeando. Desse tempo e lugar, também guardei boas memórias.

Concentrada nas minhas lembranças, nunca tinha parado para pensar de onde vinha esse nome. Sendo um lugar do querido Bairro São Pedro, é de se imaginar que o topônimo traga consigo muitas histórias. E ele traz. O nome do lugar refere-se ao navio naufragado ali naquelas bandas no longínquo 1893: “Pallas”, um navio mercante inglês tomado pelos marinheiros contrários a Floriano Peixoto durante a Revolta da Armada. Embora o navio tenha sido identificado apenas em 2018, após uma vasta pesquisa, seu nome esteve ali, estampado na boca dos navegantinos esses anos todos.

Este ano, o Pallas está em evidência novamente, pois é considerado um problema para aumentar a capacidade da nova bacia de evolução do canal que dá acesso aos portos. Inclusive, já foi solicitada prioridade para a remoção do seu casco, do qual, indicam estudos, já não restou praticamente nada. Ainda não ouvi falar se vai haver alguma tentativa de recuperar alguma possível peça restante ou se ele vai ser apenas tratado como entulho. Reflito sobre isso, com um sorriso no rosto ao lembrar que, nascido no norte da Inglaterra, o navio acabou encontrando remanso nas águas do Itajaí-Açu, como eu, criança, também encontrei.


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