O que pode ser considerado normal, ou quem se enquadraria nesse conceito Com a pergunta inicio o artigo da semana, para perturbar ou tentar instigar a busca por uma análise que nos retire de um entendimento limitado.
Gabor Maté (médico e escritor), cita em seu livro “o mito do normal” um exemplo de individuo considerado “normal” diante de análises psiquiátricas: “Antes de seu julgamento por crimes de guerra o tenente coronel da SS Adolf Eichmann foi certificado como normal por vários psiquiatras (…) outro psiquiatra relatou haver descoberto ‘que a perspectiva inteira de Eichmann, incluindo esposa e filhos, sua mãe e pai, irmãos e irmãs, e amigos não eram apenas normais, mas muito desejáveis”.
Diante do histórico apresentado, como questiona Maté, que diabos seria o “normal”?, nossa ideia esta muito interligada ao que estamos habituados, aquilo que consideramos natural, saudável, bem aceito, sofre alterações conforme o contexto em que estamos inseridos.
Ademais os critérios utilizados são diversos, e portanto utilizam-se parâmetros bastante confusos para tal, de forma que dentro da psicopatologia o conceito de saúde e de normalidade é uma questão de grande controvérsia, como cita a professora Carolina Brum:” Estabelece-se arbitrariamente uma norma ideal do que é supostamente sadio. Norma socialmente construída e referendada, com base em critérios socioculturais e ideológicos arbitrários”.
Para que consigamos extirpar preconceitos, é necessário desnudar nossas próprias limitações acerca do tema, algo que por vezes não nos é conveniente e nem agradável. Afinal, nossas concepções de mundo e de ideais são influenciadas pelo meio que vivemos, o que recebemos em nossas criações, como nossos pais enxergavam determinadas situações e comportamentos, e a partir disso muitas vezes vamos carregando as mesmas percepções para nossas vidas, criando “bolhas” que dificultam e impedem a convivência com os demais.
Temos um arranjo supostamente pronto e ideal de como as pessoas deveriam ser e se comportar, e que por consequência nos levam a enxergar o outro com essas “lentes”, limitando tanto nosso espaço quanto o alheio e limitando interações que poderiam enriquecer nossas vidas.
Ainda, fazer suposições sobre seres humanos, sobre como e quem somos no contexto da sociedade atual, como preleciona Maté, “é como tirar conclusões sobre um elefante no zoológico (…) Em muito divorciado de nossas origens naturais”, uma vez que estamos mergulhados numa sociedade adoecida, com uma cultura tóxica.
Assim, a diversidade deveria ser respeitada, mas também melhor cultivada, deveríamos olvidar de qualquer ideia preconcebida que carregamos e nos dispusermos a conhecer mais sobre o “mundo” do outro, o que o outro tem a ensinar com os seus potenciais e suas fragilidades, tão imensas quanto as nossas, que apenas se apresentam de modo diverso.
Quantas pessoas com algum nível de deficiência sofrem diversas barreiras param que consigam ter uma participação plena na sociedade, seja por conta de obstáculos físicos (ambientais) que dificultam a acessibilidade, ou aqueles “ocultos”, quase imperceptíveis pela maioria, incluindo preconceitos, e atitudes discriminatórias. De modo geral não aprendemos a lidar com o diverso, não aprendemos a noscomunicar de maneira adequada, e não nos disponibilizamos a aprender, ainda que tenha havido algum avanço em acolher, estamos muito àquem nessa via de compreender do outro.
Dessa maneira, vivemos com a falsa equação do que é normal, saudável e natural, menosprezando as necessidades genuínas que temos como seres humanos, ficando cada vez mais adoecidos e isolados, Como ensina Bessel Van Der Kolk: “Ser capaz de se sentir seguro com outras pessoas é provavelmente o aspecto mais importante da saúde mental; conexões seguras são fundamentais para vidas significativas e satisfatórias”. Que consigamos portanto vencer as barreiras que limitam nossas relações com o diferente.