O Ano Novo está chegando, e com ele a mudança na “folha” no calendário traz sempre consigo a esperança de um ano melhor, e isso se repete nas diferentes partes do mundo.
Mas existe algo que esse ano me impede de vibrar ansiosamente por essa “virada” pois a dor alheia, me causa indignação, assombro e comoção, ainda que ocorra a milhares de quilômetros de onde eu esteja.
Sofro um incômodo quando assisto atrocidades, de tal forma que perco o sono e me espanto em perceber que o massacre de um povo é naturalmente aceito.
Assistir a morte, a fome, o desespero de um ser humano é algo inaceitável na minha concepção de mundo, mas que parece ser contra a corrente do comum.
Afinal, a vida perdida de algumas pessoas ou até de um povo é relativizada, esses “corpos” são desprezados como peças descartáveis no “jogo” dos colonizadores sobre os colonizados.
Nem sempre é perceptível, acredito que raramente seja, a ordem estabelecida que segue uma sociedade, na maioria das vezes as pessoas seguem manipuladas, sem se perceberem ao lado de algozes.
Entretanto, guardo a crença , embora não pareça, de que o ser humano possa vir a despertar a consciência para a necessidade de perceber que o mal perpetrado sobre uma povo, jamais deve ser concebido.
Talvez, o comportamento de menosprezar e aplaudir a desgraça do outro, advenha da manipulação que mencionei, quase imperceptível, de colocar determinados povos, grupos, tribos, abaixo daquilo que se tem como humano.
O outro, nessa toada, foi “coisificado” , criou-se uma história desprezível sobre aqueles que não pertencem a “classe”, a cultura e o meio que “eu” pertenço, portanto pode ser eliminado.
Sem grandes pesares, o “diferente” pode ser varrido do mapa ( como os palestinos), além do mais se fugir a ideia dominante religiosa , ou a ordem do Capital, num sistema imperialista, que subjuga e corrompe.
Apesar de todos os horrores dos últimos tempos, eu quero crer profundamente que o próximo ano será melhor, quem sabe se a maioria despertar desse transe que reduz a capacidade de reflexão e especialmente de compaixão.
Como leciona o filósofo Alain Badiou no documentário “ A Questão do Amor “ ,” o amor é o caminho mais poderoso conhecido pela humanidade…ele coloca você em um estado de dependência pelo outro. Que é algo fundamental contrário ao individualismo moderno” .
Amplificando a ideia, o amor precisa ser trazido como motivo para ação humana, a ponto de transpor os interesses egoísticos e individuais.
Ainda que aparente uma ideia ultrapassada, o amor inserido no humano, não permitiria com tanta naturalidade a eliminação de quem quer que fosse.
“ A verdade do mundo é de fato sustentada pela multiplicidade, não pelo átomo que você é por si mesmo” .
Boas festas!
Feliz Ano Novo a todos!! Paz, saúde , compaixão e Amor!!!