Por Rogério Pinheiro
Após se emancipar de Itajaí no dia 26 de agosto de 1962, Navegantes começou uma corrida contra o tempo para que os partidos lançassem candidaturas para os cargos de prefeito e vereador. Em 1962, as eleições estavam marcadas para o dia 7 de outubro. Além do prefeito e vereador, o eleitor navegantino iria escolher naquele ano deputados federais, estaduais e senadores.
O Partido Social Democrático (PSD) e o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) lançaram candidatos a prefeito. Adílio Juvenal Mafra foi o candidato escolhido pelo PSD e Cirino Adolfo Cabral pelo PTB. Já a União Democrática Nacional (UDN) decidiu apoiar a candidatura de Cirino Cabral.
Sem santinhos ou publicidade em jornais, Cirino e Adílio fizeram suas campanhas de casa em casa. Em 1962, Navegantes tinha aproximadamente 10 mil habitantes, metade moravam na zona rural. Eleitores eram menos de 2 mil.
Segundo a professora Vilma Rebello Mafra, 73 anos, a primeira campanha foi tranquila, ao contrário das anteriores, sempre com discussões e brigas. Vilma é neta do primeiro prefeito de Navegantes, Athanázio Joaquim Rodrigues (PTB), nomeado pelo governador Celso Ramos (PSD) em 1962.
– Antes acontecia o comício da UDN, o pessoal do PSD atrapalhava. Vinha o comício do PSD e o pessoal da UDN acabava com tudo. Era briga de bate-boca, briga de se agredirem. Isso nas campanhas antes de 1962. Na primeira campanha não teve nada isso, era muito família. Fizeram uns palanques pequenos para os candidatos. A campanha foi tranquila. Quando visitavam as casas, eles falavam das propostas. Os projetos eram pequenos, por exemplo, iluminação pública que não tinha – lembra.
Mesmo sendo neta da principal liderança do PTB de Navegantes, Athanázio Joaquim Rodrigues, a família da dona Vilma votou no candidato do PSD, Adílio Mafra.
– O Cirino chegou a nos visitar, mas gostávamos mais do Adílio. O Adílio tinha mais expressão. Todo mundo se dava bem, mas meu pai e minha mãe votaram no Adílio – relata dona Vilma, que na época tinha 13 anos.
Ela contou que Athanázio Rodrigues desistiu de ser candidato a prefeito por causa das brigas no próprio partido, o PTB.
– Os próprios membros do partido começaram a brigar e meu avô não gostou disso. Ele preferiu não participar da eleição, ficou neutro. Não apoiou nenhum candidato e ele tinha peso para isso. Ele nunca mais voltou para a política – lamentou dona Vilma.
Eleição disputada
No domingo, 7 de outubro, a população de Navegantes saiu de casa em peso para eleger seu primeiro prefeito. A votação foi tranquila e sem incidentes. Depois da apuração, Cirino Adolfo Cabral (PTB) foi eleito prefeito de Navegantes com 842 votos. Adílio Mafra (PSD) foi o preferido de 733 eleitores. Votos em branco somaram 118 e os nulos apenas 11.
Além do prefeito, foram eleitos sete vereadores. Pela UDN, Arnoldo Bento Rodrigues, Manoel Durval Costa e Osório Gonçalves Viana. Pelo PSD se elegeram Manoel Antônio Coelho e Nereu Liberato Nunes. Já Onofre Joaquim Rodrigues e Gildo Batista foram os vereadores eleitos pelo PTB.
A diplomação do primeiro prefeito, bem como dos primeiros vereadores foi realizada no dia 27 de novembro de 1962 e noticiada pelo Jornal do Povo de 2 de dezembro daquele ano.
“Contando com a presença das mais destacadas personalidades itajaienses e sendo o ato presidido pelo doutor Osmundo Vieira Dutra, Juiz Eleitoral da Comarca, realizou-se na manhã do dia 27 findo, a cerimônia de diplomação do prefeito e vereadores da Câmara de Navegantes, o mais novo município do Estado de Santa Catarina.
Preliminarmente, o doutor Osmundo Vieira Dutra, que foi assessorado pelo senhor Arnou Teixeira de Mello, esforçado Escrivão Eleitoral, disse das finalidades daquela significativa cerimônia e convidou o senhor prefeito e senhores vereadores eleitos no dia 7 de outubro a receberem seus diplomas, que foram alvos de longos aplausos e vibrante salva de palmas.
Após a diplomação dos eleitos, usaram a palavra pela ordem o senhor Abdon Fóes, Presidente do Partido Trabalhista Brasileiro, Secção Itajaí, Padre Gilberto Gonzaga, senhor Eduardo Solon Cabral Canziani, prefeito de Itajaí e vereador Gildo Batista em nome da bancada do PTB. Encerrou a solene reunião o doutor Osmundo Vieira Dutra, que na oportunidade declarou que a posse dos diplomados se daria em 31 de janeiro de 1963.”
No dia 31 de janeiro de 1963, como previsto, aconteceu a posse do prefeito e dos vereadores de Navegantes. A primeira Câmara de Vereadores de Navegantes ficou assim constituída: presidente Osório Viana (UDN), vice-presidente Onofre Rodrigues Junior (PTB), 1º secretário Arnaldo Rodrigues (UDN) e 2º secretário Gildo Batista (PTB).
De acordo com a ata da primeira sessão, realizada no salão nobre da Prefeitura Municipal, Osório Gonçalves Viana foi empossado como presidente por ser o vereador mais idoso, acompanhado por Arnoldo Bento Rodrigues e Gildo Batista como primeiro e segundo secretários, respectivamente. O mandato para a legislatura seria válido até o mês de janeiro de 1967.
Durante a votação secreta, foram eleitos os membros da mesa diretora da Casa. Para presidente, Osório Gonçalves Viana recebeu cinco votos, contra dois a favor de Manoel Antônio Coelho. Na disputa para a vice-presidência, venceu Onofre Rodrigues Júnior depois de obter cinco votos. Como primeiro-secretário, a maioria ficou ao lado de Arnoldo Bento Rodrigues e Gildo Batista, com quatro votos válidos e dois em branco.
A primeira sede da Prefeitura Municipal de Navegantes foi uma casa de madeira na avenida João Sacavém, em frente da Colônia de Pescadores. A casa pertencia à filha de Athanázio Rodrigues. Em seguida, o prefeito Cirino Adolfo Cabral começou a despachar no casarão da professora Paulina Gaya. O mandato do prefeito de Navegantes que terminaria no dia 31 de janeiro de 1967 foi estendido até 1968 com a chegada dos militares ao poder em 1964, mas isso já são outros quinhentos.