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O DIA EM QUE O AEROPORTO DE NAVEGANTES RECEBEU SEU PRIMEIRO AVIÃO

Rogerio Pinheiro

Começa hoje (10) a coluna “Outros quinhentos”, que contará nas próximas edições alguns dos principais acontecimentos que marcaram a política, economia, esporte, educação e cultura de Navegantes dos últimos 60 anos. As festas populares, os clubes que agitaram os anos 1980 e 1990, as equipes esportivas, as pessoas que contribuíram para a história do município e muito mais.

Passageiros da Varig no Aeroporto de Itajaí antes da sua transferência para Navegantes.
Créditos: Arquivo Público de Itajaí

Na sua estreia, a coluna traz os bastidores da inauguração do Aeroporto Internacional de Navegantes (Ministro Victor Konder), que no próximo sábado (12) completa 52 anos. Uma inauguração feita sem pompa e circunstância, já que nenhum jornal noticiou ou autoridade compareceu no evento.

Naquele domingo, 12 de março de 1970, por volta das 16h, o avião PP-VDT da Varig pousou em Navegantes. Os 30 passageiros, a tripulação e os funcionários que abasteceram a aeronave foram as únicas testemunhas da inauguração do aeroporto dengo-dengo.

O que aconteceu naquele 12 de março foi a transferência do aeroporto que já funcionava desde 1950 onde é hoje a sede da Celesc (Centrais Elétricas de Santa Catarina), no bairro Barra do Rio, em Itajaí, para Navegantes. Uma transferência que levou 8 anos para ser concluída e contou com muitos atrasos, principalmente para fazer as desapropriações. Apesar da mudança de cidade, o nome Aeroporto de Itajaí ainda foi usado até a década de 1990.

A Prefeitura de Navegantes fazia a manutenção do aeroporto com a ajuda de uma carroça.
Crédito da foto 02: Página Navegantes de Antigamente/Facebook

Naquele domingo ensolarado e quente, às 8 horas, o mesmo avião comercial PP-VDT da Varig decolou com destino a São Paulo. Foi o único e último voo no Aeroporto de Itajaí (Salgado Filho). Assim que a aeronave partiu para a capital paulista, começou a mudança para Navegantes. Tudo tinha que ficar pronto antes das 16h, horário previsto para o retorno do avião da Varig.

– Eu abasteci o avião às 8h, um Avro da Varig. Todo mundo foi avisado no dia anterior da mudança. Nós rebocamos tudo pela balsa para vir para cá. Porque aqui não tinha estrada, era tudo mato, banhado. Tinha uma pista asfaltada de 1.500 por 25 metros de largura, um asfalto bem precário. Ninguém fazia a manutenção – conta Vandeci Campos Barbosa, 83 anos, que na época era sócio de uma empresa que abastecia as aeronaves.

Segundo Vandeci, os passageiros que desembarcaram em Navegantes encontraram um aeroporto em condições precárias.

Não tinha estação de passageiros, não tinha torre, não tinha nada. Abasteci o avião às 8 horas em Itajaí e depois às 16 horas em Navegantes. O avião poderia pousar até 16h30 porque depois desse horário a pista ficava na direção do pôr do sol. Também não tinha luz e nem água – recorda.

Um aeroporto no meio do mato

Sem um terminal de passageiros, guichê para compra de passagens, escritórios e até mesmo torre de controle, o Aeroporto de Navegantes se resumia apenas a pista de 1.500 metros no meio do mato. O terminal aéreo navegantino não estava longe da realidade de muitos aeroportos do país, onde um funcionário ficava responsável para espantar bois e vacas que pastavam ao redor da pista.

Aeroporto foi transferido de Itajaí para Navegantes em 1970.
Créditos: Arquivo Público de Itajaí

– Não tinha cerca, o pessoal passava de espingarda por dentro do aeroporto para caçar. Um vigia era quem cuidava do aeroporto com um cachorro. Não tinha checklist, nada mesmo. Os passageiros desciam e iam embora. Ficou assim por cinco anos – disse.

Vandeci, que mora até hoje em Itajaí, lembra da dificuldade para ir trabalhar em Navegantes na década de 1970.

– Tinha que pegar a Pitangueira (ônibus) na praia. Viajava no meio de galinhas, peixes, até a balsa. O pessoal trazia de tudo, galinhas e até porco. Era uma catinga desgraçada. Depois eu comecei a ir trabalhar de bicicleta. No aeroporto, abastecia a aeronave às 6h e às 16h30 a gente voltava para casa. Assim que o avião pousava às 16h, abastecia e deixava tudo prontinho para o outro dia – conta.

Prefeito ajudava na manutenção

Antes da Infraero (Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária) assumir a administração do aeroporto, toda a manutenção ficava por conta da Prefeitura de Navegantes, que na época não recebia um tostão furado do Governo Federal. A Infraero só ficou responsável pelo terminal aéreo em 1980.

– Teve dois prefeitos que cuidavam do aeroporto. Era o Zuza (José Juvenal Mafra) e o Cirino Cabral (Cirino Adolfo Cabral). Aqui enchia tanto de água, que a vala do aeroporto entupia e ficava tudo no fundo. Até para o avião pousar era difícil. Um dia eu pedi para o Cirino limpar a vala. Ele disse: “pode deixar que vou mandar desentupir, vou lá pegar minha turma.” Depois de uma hora ele chegou e disse. “Olha eu vim desentupir a vala”. Cadê a turma, perguntei. A prefeitura só tinha um funcionário. Ele e o empregado foram para pista abrir a vala. Com aqueles garfos grandes, o prefeito tirava o mato de dentro da vala e o outro empregado colocava na carroça. Isso eu posso dizer porque eu vi. O Cirino andava ainda com uma perna de pau – lembra Vandeci. 

Em 1975, o aeroporto entrou em reforma para aumentar a pista. Por dois anos, os voos foram transferidos para Joinville. O terminal aéreo só foi reaberto em 1977. Um ano depois aconteceu a inauguração. A cerimônia teve a presença do presidente da República, Ernesto Geisel, a primeira de um chefe de Estado em Navegantes, mas isso já são outros quinhentos.


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