A inspiração humana na literatura em tempos de Inteligência Artificial

ACADEMIA DE LETRAS DO BRASIL DE SANTA CATARINA SECCIONAL NAVEGANTES

ACADÊMICA: JORNALISTA MAILA SANTOS, CADEIRA NÚMERO 15

Talvez, daqui a alguns poucos anos, este artigo seja lido como algo do passado, assim como quando falamos da época em que os jornais eram escritos à máquina de escrever, diagramados em pestap e, para se ter acesso à notícia, era preciso esperar o impresso chegar no dia, na semana ou na quinzena seguinte.

Parece que estamos falando de um tempo distante, mas, ao olharmos para trás, está logo ali. Talvez, muitos que leem este texto agora tenham vivido esse momento.

Hoje, além de termos notícias em tempo real, vivemos a era da Inteligência Artificial (IA). A tecnologia pode e deve ser usada como ferramenta, desde que com senso crítico e responsabilidade.

Na escrita, para muitos autores, a IA tem funcionado como uma espécie de coautora silenciosa. Ela não escreve por conta própria, mas oferece ideias, aponta caminhos e ajuda a destravar a mente em momentos de bloqueio criativo. Funciona quase como uma conversa com um editor paciente, sempre disponível para dar sugestões, sem fazer julgamentos.

Além disso, programas de IA conseguem identificar problemas estruturais em textos, corrigir erros gramaticais e propor melhorias estilísticas. Outro ponto a ser considerado é a acessibilidade. Com essas ferramentas, pessoas sem formação literária encontram uma maneira de dar forma às suas ideias e publicá-las, democratizando o acesso à escrita e à publicação.

Nem tudo são flores

Mas, como nem tudo são flores, apesar do entusiasmo inicial, o uso da IA na literatura também levanta questões delicadas. Uma das principais é o risco de perda de autenticidade por parte do escritor. O desafio de encontrar o ponto exato da conexão do coração humano com a mente artificial.

Nos últimos anos, escritores profissionais, amadores e até editoras têm utilizado sistemas de IA para gerar ideias, revisar textos, sugerir enredos e até produzir obras inteiras. Sem fazer juízo de valor, esse avanço, embora fascinante, levanta questões importantes sobre autoria, originalidade e o papel do ser humano no processo criativo.

Como a IA trabalha com dados extraídos de uma vasta base de textos já existentes, há o risco de que os resultados soem genéricos, reciclados ou sem a marca pessoal do autor humano. Isso pode enfraquecer a autenticidade literária.

Ela é uma excelente opção de apoio porque oferece oportunidades valiosas de suporte criativo, revisão e desenvolvimento de ideias, além da otimização do tempo.

No entanto, quando os escritores passam a confiar demais na IA, podem comprometer seu próprio desenvolvimento criativo. A prática da escrita, como qualquer arte, depende do exercício constante da sensibilidade, da observação e da reflexão, ou seja, capacidades humanas que nenhuma máquina pode substituir completamente.

A chave, como em tudo na vida, está no equilíbrio. A IA pode sim ser uma grande aliada, desde que seja vista como ferramenta de apoio, e não como substituta do talento e da sensibilidade do escritor. Afinal, para o autor, poucas recompensas são maiores do que ver sua obra reconhecida, quando alguém lê seu texto e, pelo estilo e pela narrativa, identifica sua autoria. É uma satisfação profunda e pessoal.

Contudo, no fim das contas, a literatura continua sendo um reflexo da experiência humana. E, por mais inteligente que seja, a máquina ainda não conhece o mundo com os olhos de quem o vive.

One thought on “A inspiração humana na literatura em tempos de Inteligência Artificial

Comments are closed.


ATENÇÃO: Você não pode copiar o conteúdo
Direitos reservados ao Jornal nos Bairros