Os práticos de Navegantes

Foto ilustrativa. Em 1945, Manoel Izidro manobrou um cargueiro norte-americano, que deu início à entrada de grandes navios no porto de Itajaí.

A coluna “Outros quinhentos” finaliza nesta edição a série sobre os primeiros práticos da barra do rio Itajaí-Açu. Nas duas primeiras edições, contei a história resumida dos primeiros práticos da barra do rio Itajaí, os portugueses Jacinto José dos Santos, Manoel Francisco de Oliveira e Manoel Moreira Maia. Agora é a vez dos práticos de Navegantes, Lindolfo Caetano Vieira e Manoel Pedro de Souza, o Manoel Izidro, este último responsável por dar início a entrada de grandes navios no porto de Itajaí.

Lindolfo Caetano Vieira nasceu em Navegantes, no dia 2 de junho de 1888, mas passou boa parte da sua vida em Itajaí, onde morou até o seu falecimento em 1963. Vieira começou sua carreira profissional como comandante de navios da Marinha Mercante. Ele era genro de Manoel Moreira Maia e entrou na praticagem na década de 1920.

Além de prático, Vieira também se aventurou na política. Ele se elegeu vereador por Itajaí em 1926, cargo que exerceu de 1927 a 1930. O prático ainda se candidatou outras vezes e o máximo que conseguiu foi ser suplente de vereador na década de 1940. Naquela época o vereador não recebia salário. Existem poucas informações da atividade do prático de Navegantes, que ainda nos anos 40 exercia a profissão.

Lindolfo com a família em Navegantes. Crédito: FGML/CDMH

Lindolfo teve uma morte trágica. Ele foi atropelado quando deixava a Igreja Imaculada Conceição, no centro de Itajaí, no final da tarde de uma sexta-feira, dia 4 de janeiro de 1963. Lindolfo ao passar por trás de um jeep para atravessar a rua foi atropelado por uma kombi. O prático sofreu múltiplas fraturas e foi levado para o Hospital Marieta Konder Bornhausen, mas faleceu ainda na noite do mesmo dia.

O desbravador Manoel Izidro

Filho de Pedro Antônio de Souza e Maria Izidora de Souza, Manoel Pedro de Souza, o Manoel Izidro, nasceu em Navegantes, no dia 29 de abril de 1900. Ele era casado com Mercedes Maria da Conceição. Manoel Izidro começou a trabalhar na estiva e antes de ser prático da barra fazia a medição de profundidade da barra. Na década de 1940, Izidro entrou para praticagem ao lado do também navegantino Lindolfo Caetano Vieira.

O ano que marca a carreira de Manoel Izidro na praticagem aconteceu em 1945, quando ele conduziu um cargueiro norte-americano da linha Moore Mccormack, de Nova Iorque, ao porto de Itajaí. José Tolentino da Silva em seu artigo “Manoel Izidro: Desbravador do Porto de Itajaí”, publicado no jornal “A Nação” de 15 de novembro de 1963, traz mais detalhes do feito do prático de Navegantes.

“Um dia, o doutor José Bonifácio Schmitt, sabendo estar fora da barra um grande navio americano, de seu agenciamento, interpelou o então prático da barra, o senhor Lindolfo Caetano Vieira, sobre a possibilidade de trazer para o estuário o aludido navio. A recusa foi imediata, criando um problema para uma firma, que afirmara no Rio, para a empresa proprietária, que em Itajaí o seu navio daria entrada na barra.

Praça ao lado da prefeitura levava o nome do prático Manoel Izidro. Crédito: FGML/CDMH

Foram solicitados os serviços do velho marinheiro Manoel Pedro de Souza, o Manoel Izidro, e o navio americano pode dar entrada no porto, sob intensa expectativa do povo que se postou em toda faixa litorânea do Itajaí-Açu.”

O feito de Izidro também foi registrado 13 anos antes de José Tolentino da Silva escrever seu artigo. Na reportagem “Animador o aumento do movimento de navios estrangeiros no Porto de Itajaí”, do jornal “A Nação” de 15 de novembro de 1950, o repórter Israel J. Costa destaca a importância do trabalho de Manoel Izidro na manobra do cargueiro em 1945.

“E é justo que se ressalte aqui que este fato se tornou possível, ou ao menos grandemente facilitado, pela perícia e coragem do prático Manoel Izidro, a quem a indústria e comércio itajaiense ficam a devem esse grande benefício.”

Manoel Izidro faleceu em 1950 e graças a sua coragem hoje os portos de Itajaí e Navegantes podem receber navios de grande porte. Izidro foi homenageado na sua cidade natal com um nome de rua e até a década de 1970 a praça do coreto, que fica ao lado da Prefeitura de Navegantes também levava seu nome.

One thought on “Os práticos de Navegantes

Comments are closed.


ATENÇÃO: Você não pode copiar o conteúdo
Direitos reservados ao Jornal nos Bairros