A HISTÓRIA DO PRIMEIRO HOSPITAL DE REFERÊNCIA DA REGIÃO

Na rua Deputado Francisco Evaristo Canziani, que dá acesso à praia de Cabeçudas, em Itajaí, as ruínas de uma antiga escadaria tomada pelo mato chama a atenção de quem passa. A escadaria pertenceu ao primeiro hospital de Itajaí, que por mais de 70 anos atendeu a população de Navegantes e outras cidades do litoral. A coluna “Outros quinhentos” conta a história do primeiro hospital de referência da região, o Santa Beatriz.  

A história do hospital começa no ano de 1878, quando os irmãos Antônio e Pedro Lopes de Mello doaram o terreno à Câmara Municipal de Itajaí para a construção da unidade de saúde. O terreno tinha 27 metros de largura por 54 metros de extensão. Além das terras, os irmãos contribuíram também com barro, areia e pedras para edificação do hospital público. Pedro de Mello, conhecido por “Pedrinho da Fazenda”, fez parte da comissão que dirigia o hospital Santa Beatriz.

Sem recursos em caixa, a Câmara Municipal, que administrava Itajaí na época do Império, precisou criar um imposto sobre a madeira exportada pelo Porto de Itajaí. A madeira era o principal produto exportado pelo porto itajaiense e foi com o dinheiro do tributo que o hospital começou a ser erguido.

A grande enchente de 1881, considerada até hoje a maior que o Vale do Itajaí enfrentou, atrasou as obras, que só foram retomadas em 1886, ano em que foi lançada a pedra fundamental. O projeto do hospital foi elaborado pelo engenheiro Octaviano da Rocha. Já as obras foram comandadas pelo mestre alemão Guilherme Müller e vários pedreiros da região. No dia 3 de janeiro de 1887, uma segunda-feira, às 16 horas, com a presença do governador da Província de Santa Catarina, Francisco José da Rocha e centenas de moradores de Itajaí e Navegantes, o hospital Santa Beatriz foi inaugurado.

O primeiro diretor do hospital foi o médico baiano Pedro Ferreira e Silva, que foi prefeito de Itajaí entre 1895 e 1907. Com 75 leitos, a unidade de saúde atendia pacientes de Itajaí, Navegantes, Camboriú, Penha e outras cidades da região. O hospital era administrado por uma comissão comunitária com seus membros nomeados pelo presidente da Província de Santa Catarina.

 Com a inauguração do Hospital e Maternidade Marieta Konder Bornhausen no dia 28 de janeiro de 1956, o hospital Santa Beatriz passou a ser administrado pela Sociedade Beneficente dos Trabalhadores de Santa Catarina. Em 1962, o Santa Beatriz se transformou em sanatório para tratar pacientes com tuberculose. Os pacientes moravam em residências anexas ao hospital.

A descoberta da cura da tuberculose fez com que o tratamento se tornasse ambulatorial. Com o uso de antibióticos, o paciente já não precisava se internar por vários meses em uma unidade de saúde. Isso contribuiu para que o sanatório fosse desativado na década de 1970.

Em 1977, a Prefeitura de Itajaí buscou transformar o local em um hospital psiquiátrico. O projeto encontrou resistência na Câmara de Vereadores. Outra possibilidade era arrendar o Santa Beatriz para o hospital Santa Inês, de Balneário Camboriú, para transformá-lo em uma clínica geral.

Sem uma solução, o hospital Santa Beatriz foi abandonado. Durante a década de 1980, o local foi utilizado como sede do Departamento de Saúde de Itajaí, almoxarifado da Farmácia Municipal e por fim uma clínica de reabilitação. Ainda nos anos 80, no governo do prefeito João Omar Macagnan, foi cogitado a instalação de um empreendimento hoteleiro no local, que também não saiu do papel.

Depois de muitos anos de abandono ou uso improvisado de suas instalações, o hospital Santa Beatriz virou pó literalmente. Em 1989, 102 anos após ser inaugurado, o hospital público foi demolido. O que restou do Santa Beatriz são as escadarias e alguns blocos de concreto onde foi edificado o hospital. Seus móveis e equipamentos médicos podem ser conferidos hoje no Museu Histórico de Itajaí.