Um acontecimento no trânsito, aparentemente corriqueiro, me fez refletir e escrever sobre o comportamento humano em condições semelhantes, e o quanto uma atitude é capaz de influenciar outras no mesmo sentido.
Explico: Em uma fila parada de carros, um motorista resolve (mesmo com o risco de colidir com outros carros) “furar a fila” e ultrapassa, de qualquer forma, os demais veículos que ali estavam. Alguns vendo a cena, ao invés de reprová-lo, fazem a mesma coisa, cometem a mesma imprudência, gerando um caos ainda maior do que o já existente.
Seja por pressa, impaciência ou egoísmo, muitos não conseguem respeitar minimamente as regras de trânsito, mas não respeitam também as outras pessoas que esperam na mesma fila, para que ela avance.
Infelizmente a situação apresentada como exemplo, não se manifesta apenas nesse contexto, mas em muitas outras esferas da sociedade, caracterizando o que se denomina como “comportamento de manada ou de rebanho” (um fenômeno psicológico que se caracteriza pela tendência das pessoas de seguirem a opinião ou ação de um grupo sem questionar ou analisar as informações com atenção).
Ou seja, segue-se a ação ou pessoas, sem a mínima reflexão individual, basta que aquela “figura” represente aquilo que gostariam de “ser”, ter ou manifestar.
Se tal pessoa aparentemente bem-sucedida escolheu seguir uma conduta, logo se conclui que seja a adequada, acredita-se equivocadamente (na maioria das vezes) que aquela seja a melhor escolha, eximindo-se de pensar sobre o assunto.
Vimos essa síndrome se proliferar com as redes sociais, “um vai com a opinião do outro”, onde inúmeros conteúdos falsos se espalham por todos os cantos facilmente e ganham uma força incontrolável de replicações.
Ainda que o que se propague seja uma mentira, ela acaba adquirindo uma “roupagem” de verdade, afinal se uma grande parcela de pessoas compartilha o fato, muitos são levados a crer que se trata de algo verdadeiro.
Como explica Fabrício Benevuto, professor da UFMG: “Se muitas pessoas compartilham uma ideia, outros tendem a segui-las. É semelhante à escolha de um restaurante quando você não tem informação. Você vê que um está vazio e que o outro tem três casais. Escolhe qual? O que tem gente. Você acredita que, se outros já escolheram, deve ter algum fundamento nisso.
Sabemos ou deveríamos saber o quanto alguns políticos se beneficiam de notícias e perfis falsos, para obterem seguidores e consequentemente votos. Eles transmitem uma noção de maioria, ainda que fictícia, e essa “maioria” arrebata os que querem “pertencer” a esse grupo.
Assim, como ensina Yasodara Córdova (pesquisadora de Harvard): “Se três amigos seus falam que um carro de uma determinada marca não é bom, aquilo entra na sua cabeça como um conhecimento”.