POR ROGÉRIO PINHEIRO
Até 1889, a permissão para fazer o serviço de travessia entre Navegantes e Itajaí era de exclusividade da Câmara Municipal de Itajaí, onde o presidente do legislativo decidia quem tinha o direito de explorar o serviço público. Com a Proclamação da República em 1889, a autorização ficou sob a responsabilidade da Superintendência (Prefeitura) Municipal de Itajaí, que escolhia a proposta com o menor valor. A coluna “Outros quinhentos” contanesta edição como aconteceram as primeiras concessões do serviço de travessia.
Uma das primeiras concessões registradas é datada dadécada de 1860. Em 1899, a Superintendência Municipal de Itajaí lançou um novo edital para a travessia entre o então Arraial de Navegantes e onde hoje é o centro de Itajaí. Já a travessia entre os bairros São Domingos e Barra do Rio, em Itajaí, era feita por outro concessionário. Os passageiros viajavam em botes a vela ou remo. Já os veículos, carroças na sua maioria, em barcaças a vela.
Em 1915, a Superintendência Municipal de Itajaí abriu uma nova concessão para explorar a travessia. As propostas foram feitas por cartas fechadas endereçadas à Superintendência Municipal, que fez a seleção da proposta com o menor valor.
No dia 2 de abril de 1915, como noticiou o Jornal “O Pharol”, o comerciante João Pinto de Faria, após ser escolhido pela Superintendência Municipal, conseguiu a autorização da Capitania dos Portos de Itajaí para explorar o serviço. A novidade desta vez foi a utilização de botes a motor, que tornaria a travessia mais rápida e confortável.
O que se sabe da vida de João Pinto de Faria está registrado nos jornais da época. Ele, segundo o jornal “Progresso”, de 11 de março de 1899, começou seus negócios ao abrir uma casa de jogos na rua Hercílio Luz, em Itajaí. O comércio explorava a víspora, um jogo muito popular no final do século 19, que hoje é conhecido por bingo. Além de comerciante, João Pinto de Faria possuía uma frota de barcos pesqueiros e redes de arrasto.
O novo serviço de passagem foi inaugurado em um domingo, dia 11 de abril de 1915, com direito a passagens grátis para pedestres. Além de ter que fornecer botes, bateiras e barcaças, o concessionário era obrigado a contratar funcionários que atuavam nos dois lados do rio, algo que não aconteceu nas duas primeiras concessões.
O trecho da travessia em Navegantes ficava no trapiche do comerciante João Cardoso Sacavém. Já em Itajaí, os trapiches estavam localizados próximo ao antigo prédio da Fiscalização do Porto de Itajaí e outro na praça Marcos Konder, hoje a praça Vidal Ramos.
A travessia era gratuita para estudantes, professores, policiais, funcionários dos correios, funcionários públicos em serviço e menores de cinco anos. Nos botes e nas bateiras, os pedestres pagavam 100 réis. Na barcaça, cada carroça pagava 400 réis. O valor aumentava pela quantidade de cavalos atrelados. Um animal a mais cobrava 100 réis por cabeça. Já para fazer a travessia de automóvel o valor era 1.200 réis.
Quem transportava animais também pagava a mais. Para cada porco era cobrado 200 réis. Ovelha ou cabra cobravam uma taxa de 100 réis cada. Ainda era recebido 50 réis por saco transportado e 40 por couro seco. Já as caixas de querosene e aves (galinhas e patos), o valor era de 20 réis cada. Para ter uma ideia dos valores cobrados na época, um exemplar de um jornal semanal de Itajaí custava 100 réis.