Вишневый сад.
Nesta semana fez 120 anos da morte de Anton Tchékhov, médico, dramaturgo e escritor russo, que ficou mundialmente conhecido com suas obras : “o jardim das cerejeiras”, “Tio Vania”, “A ilha de Sacalina” , entre outras, e por conta desse fato, vou escrever sobre um dos temas abordados em o “jardim das cerejeiras”, peça teatral que li há muitos anos e que gosto bastante.
Para contextualizar é necessário esclarecer que o título guarda imenso simbolismo, uma vez que o “jardim das cerejeiras” era um lugar de contemplação e prazer para os personagens, era o “jardim de toda a Rússia” que representava (até o momento de ruptura), uma época frutífera e próspera para a aristocracia.
Ocorre que o mundo que Liuba e sua família conhecia, estava prestes a ruir, e por consequência o lugar que tanto prezavam seria desfeito, o jardim tão belo seria destruído para a construção de casas de temporada, destituindo os personagens do status conhecido, demonstrando a decadência daquela forma de vida.
Tchekhov em sua obra “antecipou” a Revolução Russa, afinal se encontrava na ambiência de preparação para a mesma, em um contexto de extrema “ebulição” na Rússia, com a libertação dos servos (que foi lenta e se estendeu em partes ainda depois da Revolução) o assassinato de Alexandre II, entre outros acontecimentos contundentes.
Assim a peça traz o retrato do fim de uma época, para dar início a uma nova ainda desconhecida, que se pretendia construir a partir do aniquilamento da anterior, sem deixar de observar o efeito de tal fato sobre o comportamento individual de cada um os personagens.
E o que trago para a reflexão é esse efeito que sofremos quando ocorre a ruptura de um ou de muitos aspectos conhecidos em nossas vidas, podemos ter diversas reações, entre elas a de Liuba, e de seu irmão: a de resistir a mudança.
Como descreve Antônio Gerin: “Os dois irmãos, e proprietários do jardim, Liuba e Gaiév, insistem em viver como se não estivessem falidos e, nutridos de uma falsa esperança, se agarram à possibilidade de que tudo vai se resolver magicamente e, assim, vão continuar a viver como sempre viveram no passado. O apego aos modos de vida que já não lhes pertence mais e a insistência em não ouvir os conselhos que lhes são dados à respeito do problema da hipoteca fazem com que a propriedade vá a leilão”
De modo geral, não queremos ser retirados da cena conhecida, somos apegados a nossas histórias, lugares, podemos ter reações semelhantes aos personagens citados, como o apego as cerejeiras que na verdade são o apego as lembranças que elas guardam.
É quase sempre sofrível romper com o previsto, aceitar que algo nos convida a sairmos de onde estamos, sem que possamos carregar tudo conosco, na maioria das vezes gostaríamos de carregar todo o cenário junto, porque é assim, como retratado na peça, imensamente doloroso sentar diante das “cerejeiras” que serão derrubadas.
Entretanto a vida esta sempre preparando transformações, sejam ela pequenas ou grandes, sociais ou pessoais, que nos convidam a nos mover.
Mas o passado pode ser difícil de soltar, ele parece nos enredar numa trama ilusória, tentando nos convencer de que deveríamos permanecer no mesmo lugar.
“…Silêncio em seguida, sendo que a única coisa que é escutada, em algum lugar longe, bem longe do jardim, são os Machados nas árvores”