Nesta sexta-feira (26) começa a 128ª edição da Festa de Nossa Senhora dos Navegantes. Desde 1896, Navegantes presta homenagem à santa padroeira do município. Muito além de uma festa religiosa, o culto à Nossa Senhora dos Navegantes faz parte da história da cidade, que nasceu e cresceu ligada à atividade marítima. A coluna “Outros quinhentos” conta como foram as primeiras edições da festa tendo como fonte os jornais da época.
Navegantes se tornou um município em 1962, mas a sua história é bem mais antiga. Existem registros de moradores no Pontal (bairro São Pedro) por volta da década de 1790. Com a fundação de Itajaí em 1860, o então arraial de Santo Amaro começou a crescer. Outros moradores de cidades vizinhas, por exemplo, Porto Belo e Camboriú, chegavam para trabalhar em Itajaí e por estar próximo da região central da cidade, optavam em morar em Navegantes.
Além do trabalho, os moradores do outro lado, como eram chamados os navegantinos, dependiam de Itajaí para tudo. Para comprar alimentos, consultar um médico e para solicitar algum serviço público era preciso atravessar o rio. Até mesmo a ajuda espiritual dependia de Itajaí. Os moradores frequentavam a Igreja Imaculada Conceição, fundada na década de 1820.
Em 1896, foi composta uma comissão com o objetivo de criar uma capela. Até aquele ano, o então bairro de Itajaí nem sequer tinha um nome oficial. Faziam parte da comissão Manoel Marques Brandão, Manoel Francisco de Oliveira (prático da barra), Manoel de Souza Cunha, Geraldo Pereira Gonçalves e João Gaya, que era devoto de Nossa Senhora dos Navegantes e um dos responsáveis pela festa em homenagem à santa padroeira de Navegantes.
A capela começou a ser construída em março de 1897 e quase um ano depois, no dia 2 de fevereiro de 1898, ela foi concluída. A imagem de Nossa Senhora dos Navegantes foi encomendada de um artesão de Vila Nova de Gaia (Portugal) e comprada na cidade do Rio de Janeiro, então capital do Brasil. No dia 3 dezembro de 1899, um domingo, foi realizada a primeira festa oficial. O registro foi publicado na edição do jornal Progresso de 9 de dezembro de 1899.
“Imponente e ostentando uma feição excepcional foi a solenidade de Nossa Senhora dos Navegantes, celebrada no dia 3 do corrente, e, que constitui e constituirá a primeira das festividades dessa cidade.”
A edição de 1899, segundo jornal de Itajaí, teve um público de mais de mil pessoas, um recorde para a época. O número de embarcações também surpreendeu, com 28 barcos. O horário da procissão fluvial era de manhã, ao invés do período da tarde como é habitual hoje. Outra curiosidade foi que a imagem da santa saiu da Igrejinha Imaculada Conceição de Itajaí e só voltou para a capela de Navegantes após a procissão pelo rio Itajaí-Açu.
“Pela manhã do referido dia efetuou-se a procissão fluvial, que teve uma concorrência extraordinária, superior a 1.000 pessoas, que tomaram lugar em vinte e oito embarcações rebocadas pelo vapor Blumenau, que se achava repleto. Translada da Matriz (Igrejinha Imaculada Conceição) para bordo de um elegante escaler (veleiro), vistosamente empavesado, a imagem da venerável Nossa Senhora dos Navegantes foi conduzida para a sua capela no outro lado do rio.”
Em 1899, o trajeto da procissão pelo rio Itajaí-Açu era diferente do atual.
“Foi deslumbrante o efeito produzido pela procissão fluvial, não só pelo número elevado das embarcações, que rebocadas pelo vapor Blumenau, desfilavam pelo nosso extenso rio, como longa serpente, como também pela aglomeração das senhoras, crianças e homens, todos os quais, com variedade dos trajes, concorriam para dar maior realce à solenidade. Saindo do trapiche da Alfândega a procissão percorreu o rio até a barra e dali até o porto da Coloninha, onde regressou para o trapiche da passagem do outro lado.”
O jornal Progresso citou também o movimento naquele domingo de dezembro de 1899. O transporte entre Itajaí e Navegantes não foi cobrado para que os moradores de Itajaí pudessem participar dos festejos.
“Após o desembarque teve lugar a missa, que esteve igualmente concorrida. À tarde efetuou-se um variado leilão. Durante o dia foi extraordinário o movimento de passageiros para o outro lado, sendo notável a ordem não somente no serviço de embarque e desembarque, como também em terra, o que prova a índole pacífica do nosso povo. O serviço de transporte de passageiros feito pelas embarcações da passagem de particulares foi gratuito.”
Seis anos depois, a Festa de Nossa Senhora dos Navegantes já era realizada em fevereiro, sendo o dia 2 dedicado à santa. A notícia é do jornal “O Pharol” de 4 de fevereiro de 1905. Mais uma vez o vapor Blumenau conduziu as embarcações.
“A festa de Nossa Senhora dos Navegantes foi imponente este ano. Desde ao alvorecer do dia 2, via-se as embarcações embandeiradas em arco, tendo nos mastros os emblemas da virgindade, ramos e buquês de flores. Das 8 horas em diante, os dois vapores, Blumenau e Janda deram passagem a inúmeros fiéis.”
A igrejinha de Nossa Senhora dos Navegantes ainda era denominada de Santo Amaro, primeiro nome do povoado que deu origem a Navegantes. Antes da festa em homenagem a Nossa Senhora dos Navegantes se consolidar entre a população, as festas em homenagem a Santo Amaro e São Sebastião eram muito populares no então bairro de Itajaí. Nesta edição, a procissão já era feita à tarde.
“As 9 e meia passaram os padres Ludovico Cocolo e Ernesto Consoni, começando a celebração da missa às 10 horas, pregando ao evangelho o padre Consoni, assistindo a maior parte dos fiéis do lado de fora da capela de Santo Amaro por não comportar a vigésima parte. Às 3 horas da tarde já extraordinária a concorrência a procissão e às 3 e meia saiu, sendo a imagem embarcada no iate Gertrudes que conduzia outras 35 embarcações, lindamente enfeitadas.”
Outra novidade naquele ano foi a apresentação da banda Guarany de Itajaí.
“À volta da procissão em frente a moradia do sr. Thieme avistou-se o paquete Rudi que vinha entrando embandeirado, deu fundo no ancoradouro, saudando com os sinais em arco e longo apito, produzindo belíssimo e imponente aspecto, seguindo até o Pontal para voltar ao ponto de partida, onde desembarcou a imagem em procissão até a capela. Finda a oração da entrada, começou o animado leilão até às 20 horas. Abrilhantou esta imponente festa a banda de música Guarany.”
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