Em entrevista exclusiva, o superintendente do IAN, Marcos Zaleski de Matos, fala sobre as obras que irão marcar a Praia do Gravatá em Navegantes
Um sonho antigo de moradores e turistas que frequentam a praia do Gravatá, em Navegantes, está prestes a se concretizar. A prefeitura anunciou que as obras de alargamento da faixa de areia da praia estão previstas para iniciarem em 2024. A novidade, dada em primeira mão pelo superintendente do Instituto Ambiental de Navegantes – IAN, Marcos Zaleski de Matos, é que em 2024 também está prevista a obra de prolongamento do molhe na foz do Rio Gravatá.
De acordo com Zaleski, existiam algumas discussões no passado sobre a contratação de um projeto para a obra de engorda artificial da faixa de areia do Gravatá, mas nada havia sido executado. Então, quando o prefeito Liba Fronza (PSD) assumiu, foi iniciado do zero o projeto, foi feita a avaliação da jazida oceânica, toda a modelagem oceanográfica e todo o estudo ambiental para as licenças.
“Fizemos um termo de referência que contemplou todos os estudos ambientais e todas as anuências, por exemplo, da STU, da capitania, órgãos que também dependemos de autorização. O estudo ambiental trouxe esse complexo de documentação, para poder ser submetido ao IMA, que é o órgão licenciador. Esse processo já foi concluído, projeto que demorou, tivemos que estudar as jazidas oceânicas, verificar onde tem o sedimento compatível com o grão de areia aqui da praia de Navegantes. Esse sedimento tem que ter características muito similares, sendo contrário, pode fazer que o projeto não dê certo”, argumentou.
Os estudos, realizados pela empresa Prosul, apontaram que hoje a praia no Gravatá está totalmente descaracterizada, existe enrocamento de pedras, não tem perfil praial para lazer e nem para o eco sistema. Além disso, o estudo da jazida permitiu que se conseguisse um sedimento adequado para a alimentação artificial. A espessura do grão de areia no Gravatá é de 015 mm e a que foi encontrada na jazida localizada a 12 km da área do projeto é de 018 mm. A vantagem disso, segundo o superintendente, é que a praia vai ficar muito próxima do que era ao natural.
“O que nós vamos fazer é o que eu considero a maneira mais certa de caracterizar a obra, é uma recuperação de como a praia era, o engordamento é uma alimentação artificial de praia, mas hoje se fala muito em construir com a natureza, deixar a praia como a gente tinha, vai ser restaurada à forma inicial”, ressaltou.
Com o licenciamento ambiental em mãos (Licença IMA 4830/2023), o próximo passo será a licitação para contratação da empresa que irá realizar a obra em si. O IAN está elaborando o termo de referência, bastante detalhado, para poder contratar uma obra desse teor, com qualidade e segurança, seguindo os projetos para controle dos impactos ambientais que podem ocorrer durante as obras. Estão sendo utilizadas como exemplo as obras realizadas em Canavieiras, Ingleses, Balneário Camboriú, por exemplo, para fazer um mapeamento e trazer para Navegantes. Após a licitação, a empresa vencedora irá iniciar a obra já em 2024.
Vale ressaltar que ao jogar os sedimentos para formar a praia, antes dela estabilizar, a população deve ter a consciência que serão colocados 90 metros de areia, porém já com uma previsão técnica de perder 20 metros. Ela deve se estabilizar em 70m de largura, segundo apontamento do estudo técnico. Em alguns trechos com nenhuma metragem de areia, vai ganhar até 70 metros, como era a praia a cerca de 70 anos atrás.
Fases da obra:
1 mês de mobilização – ajuste das tubulações que são soldadas e colocadas no mar de forma que flutuem, conectadas nas cisternas; deslocamento da draga ate Navegantes.
3 meses de execução da obra de engordamento – a draga, uma embarcação que realiza a dragagem, armazenamento e transporte do material, irá até a jazida localizada há 12 km da costa, fará a dragagem por sucção, transportará esse material até a cisterna e a cisterna, por sua vez, bombeará o sedimento, por meio de seu sistema de tubulação, para o local previsto, formando a nova extensão de faixa de areia.
3 meses para a retirada dos equipamentos e ajustamentos finais
O valor da obra é em torno dos 27 milhões e os recursos já estão disponíveis para o município. O superintendente enfatiza, entretanto, que o engordamento é uma técnica que exige manutenção, devido ao fluxo de corrente na praia. Ele afirma que está prevista no projeto uma taxa de perda de sedimento após 5 ou 8 anos de conclusão da obra, havendo necessidade de reposição, não de maneira integral, mas para manter no nível inicial, como acontece em qualquer praia que recebe alimentação artificial.
Recuperação da restinga
Após a conclusão da obra, é previsto também o Programa de recuperação da restinga em cima do enrocamento ao lado do calçadão do Gravatá, em aproximadamente 14 metros. Nesse enrocamento será aplicada areia e plantada restinga.
Conforme Zaleski, a recuperação é ainda mais importante porque, recentemente, Navegantes recebeu uma certificação internacional, o Green Destination, pela recuperação da orla nos bairros Pontal, Centro e Meia Praia, “O projeto Restinga Preservada, Nossa Orla Protegida trouxe essa certificação internacional de grande relevância para o turismo sustentável, justamente pela qualidade ambiental. O único trecho que não tem restinga é o do Gravatá, por isso, estaremos desenvolvendo o projeto naquele trecho também”.
Além do programa de recuperação da restinga, outros programas devem ser realizados pelo município durante a execução da obras, como o Programa de controle ambiental das atividades de dragagem; Programa de comunicação social (com câmera ao vivo mostrando os trabalhos acontecendo); Programa de monitoramento da biota aquática (avaliação dos organismos afetados); Programa de monitoramento do perfil praial (largura e declividade que terá a praia) e Programa de monitoramento da qualidade da água (amostra e analise da água).
Molhe Norte
Paralelo à obra de engordamento, o município pretende realizar a obra de prolongamento do molhe na foz do Rio Gravatá, em 70 metros. O investimento previsto é de ate 10 milhões.
O prolongamento do molhe vai garantir que o sedimento do engordamento não se desloque para o leito do Rio Gravatá. Por isso, a intenção é lançar as duas obras próximas, até mesmo com possibilidade de licitação casada, cajá seja possível. E no canto sul, a modelagem prevê que as ilhas do Gravatá, a Pedra da Miraguaia e Ribeirão das Pedras, estabilizem os sedimentos.
Esse conjunto de obras irá favorecer a navegação, evitar o desassoreamento do Rio Gravatá, além de fazer Navegantes ganhar mais um ponto de contemplação para o turismo.