Portonave começou do zero para se transformar no segundo maior porto em movimentação de contêineres do Brasil e mudar a economia de Navegantes.
A coluna “Outros quinhentos” conta a partir desta edição a história da Portonave, que saiu do zero para ser o segundo maior terminal portuário em movimentação de contêineres do Brasil e transformar a economia de Navegantes. Nas próximas edições, o leitor poderá conhecer como foram os primeiros anos, os obstáculos enfrentados, os fatos que marcaram e muitas curiosidades a respeito do lugar que abriga hoje o Porto de Navegantes.
A ideia de criar um porto em Navegantes é antiga e surgiu após a emancipação em 1962. No entanto, o projeto só saiu do papel na administração do prefeito Luiz Gaya (in memoriam) em 1997. Em entrevista para o livro “Notícias de Navegantes”, de autoria de Vera Estork, publicado em 2018, o ex-secretário de Desenvolvimento Econômico de Navegantes, Carlos Fernando Priess, falou sobre o projeto.
– A ideia começou quando trabalhava na Prefeitura de Itajaí, junto com o Luiz Gaya. A gente conversava sempre sobre a possibilidade de criar um porto em Navegantes. Quando o Luiz Gaya assumiu a Prefeitura de Navegantes, me convidou para trabalhar com ele e colocamos o projeto em prática. Eu acompanhei o Porto de Navegantes só quando era secretário do Luiz Gaya. O Porto hoje superou a minha expectativa. Ficou muito além do que nós planejamos – disse.
Em 1997, Agostinho Leão, um dos proprietários do chá Matte Leão, se interessou pelo projeto e comprou terras na Ponta da Divineia. Em 1999, a empresa liderada por Leão obteve a Licença Ambiental Prévia (LAP) para instalação do terminal. Em seguida, o Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e o Relatório de Impacto Ambiental (Rima) foram aprovados pela Fundação do Meio Ambiente de Santa Catarina (Fatma), atual Instituto do Meio Ambiente (IMA).
Em maio de 2001, foi assinado o contrato de adesão com o Ministério dos Transportes, que habilitou a Portonave como operador de um terminal de uso privativo (TUP). O diretor-superintendente da Portonave, Osmari de Castilho Ribas, acompanhou os primeiros anos de estruturação do porto.
– Eu acompanhei a partir de 2001 quando foi a autorização. Nesse período (2000 e 2001), o Leão foi quem iniciou a história, ele começou a estruturar o negócio. Até então era uma empresa do Leão. Em 2001, ele vendeu a participação para duas outras empresas, Triunfo e Ivair Engenharia, e aí se formou a Portonave. Em 2001, se obteve a autorização para o início de um projeto de um terminal de uso privado, o TUP, como se chama. A partir daí é que começou a se estruturar o negócio na obtenção das licenças ambientais, estruturar um plano de negócios, de viabilidade econômica financeira e buscar a financiabilidade desse projeto – explica.
Em 2005, começou a construção do porto. Depois de dois anos de muito trabalho, a Portonave inaugurou o primeiro terminal portuário privado de contêineres do Brasil.
– Os terminais de outras áreas de mineração já existiam há bastante tempo, mas eram terminais voltados para seu próprio negócio. A Vale tinha a mineração e tinha outro para exportar esse minério. Em 2007, nós terminamos e começamos a operação efetivamente – lembra.
Segundo Castilho, o processo de instalação do porto foi marcado por muitas dificuldades.
– Teve as dificuldades de regulação, de cumprir a regulação, como a legislação estava mudando, tinha algumas dúvidas ainda com relação a isso. Tinha uma discussão da carga própria, como essa carga própria deveria ser, depois mudou só em 2013. No começo houve um processo de adaptação, uma discussão na utilização ou não da mão de obra do trabalhador portuário avulso. Nós decidimos por utilizar mão de obra própria, manter o nosso quadro. Houve um certo conflito de ajustes para as operações, mas hoje temos isso integrado – reforça.
Para o diretor-superintendente, o sucesso da Portonave deve-se á busca incessante por qualidade e a relação com a cidade.
– Nós buscamos certificações para termos uma empresa de qualidade. Hoje, já temos cinco certificações. Fizemos ISPS CODE, depois o Operador Econômico Autorizado. Então fizemos toda a estrutura para termos qualidade no nosso desenvolvimento. Nós saímos de zero para um milhão e duzentos mil TEUs (medida equivalente a um contêiner de 20 pés), de zero para 1.100 trabalhadores hoje. Nós temos uma equipe excelente, uma qualidade excelente que nos garante este nível de segurança e de eficiência. Somos reconhecidos pelo padrão de eficiência. A relação com a cidade de Navegantes é muito boa. A comunidade nos recebe muito bem. Acho que isso é um grande diferencial – esclarece.
Outro fator importante para o sucesso da Portonave foi a construção da via portuária.
– A Portonave fez um investimento na via portuária e doou. O governo fez a parte das desapropriações e a Portonave fez a obra. Isso ajudou muito. Hoje, temos aqui na Portonave em média 1.700 caminhões por dia. Já chegamos ao pico aqui de 2.800 caminhões em um dia e com uma operação perto de 30 minutos para entrada e saída do terminal. Então é muito rápido. Nós temos evitado este gargalo muito em função da via portuária. Mas se você olhar de uma maneira geral dos portos que têm dificuldades de acesso, o nosso acesso hoje é muito bom. O que garante uma segurança com relação ao trânsito normal da cidade. Não temos grandes problemas com isso – salienta.
Um dos desafios da Portonave para os próximos 15 anos é o aumento da bacia de evolução do rio Itajaí-Açu.
– Nós ainda temos projeções de crescimento, nós não estamos no nosso limite. Os grandes desafios serão: bacia de evolução segunda fase, que é uma das discussões que nós temos. Precisamos receber navios maiores. Nós enxergamos um mercado ainda crescendo e com perspectiva. Também vemos uma competição cada vez maior. Então nós achamos que o desenvolvimento do setor de contêineres do país ainda vai crescer, ainda vai exigir muito investimento e nós esperamos estar entre os principais terminais de contêineres daqui há 15 anos – concluiu o diretor-superintendente da Portonave.