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A FAMÍLIA QUE REVOLUCIONOU O CARNAVAL DE NAVEGANTES

 A coluna “Outros quinhentos” segue com as histórias dos blocos carnavalescos de Navegantes. Nesta edição, é a vez do Acadêmicos de São Domingos, que antes de se transformar em um bloco de carnaval foi uma escola de samba, a primeira de Navegantes. A história do São Domingos começa em 1978 e inspirado em um bloco da cidade de Santos (SP).

Na década de 1970, Vilma de Souza Dias, 74 anos e o esposo Claudiner Pinto Dias (in memoriam) moravam em Santos. Na cidade do litoral paulista era tradicional um bloco chamado “Dona Doroteia, vamos furar aquela onda”. Em uma viagem de férias para visitar a família de dona Vilma em Navegantes, surgiu a ideia de fazer um bloco igual ao de Santos.

A coluna “Outros quinhentos” segue com as histórias dos blocos carnavalescos de Navegantes.
Bloco da Doroteia que deu origem ao Navegay foi o pontapé inicial para fundação da primeira escola de samba de Navegantes em 1980

– A gente veio passear aqui em Navegantes e não tinha nada. Meu marido, meu irmão, uma turminha se reuniu e decidimos fazer um bloco para sair na segunda-feira. Em Santos, saía o bloco da dona Doroteia. Então fizeram um bloco só com homem vestido de mulher, mas mulher com roupas de pessoas de idade, lenço na cabeça – explica a navegantina Vilma.

Nos primeiros anos, o bloco desfilava nas segundas-feiras de carnaval em Itajaí. Devido ao excesso de alguns foliões, o bloco voltou para Navegantes e mudou de nome. O Doroteia se transformou em Navegay e a família Souza fundou a primeira escola de samba de Navegantes, a Unidos de São Domingos.

– O pessoal começou a mexer nas lojas. A nossa turma recuou e ficou essa turma fazendo o Navegay. Depois da Doroteia, nos reunimos para fundar a escola de samba Unidos de São Domingos. Foram os fundadores Osair, Manoel, Maria do Carmo de Souza, Jadir, Valdir, o filho do Valdir, o Flávio, Tinha o Afonso que era parente. Todos da família Souza. Nós chegamos a ter mais de 300 pessoas desfilando e entre quatro a cinco carros alegóricos – conta.

Escola de samba Unidos de São Domingos conquistou oito título seguidos no carnaval de Itajaí 

A escola de samba surgiu na casa do pai de Vilma, Manoel Pedro de Souza, no bairro São Domingos, em 1980. Ainda nos anos 80, a escola de samba de Navegantes conquistou oito títulos seguidos no carnaval de Itajaí.

– Ele fazia os carros alegóricos, fazia tudo. Meu pai gostava de carnaval. A gente fazia os carros nos fundos da casa e o telhado atrapalhava. Meu pai precisava serrar a ponta da casa para o carro passar. A gente começava em setembro, ia para São Paulo comprar as coisas para começar a fazer, era muito gostoso – recorda.

Por 25 anos, Vilma de Souza Dias, foi  a porta-bandeira do carnaval navegantino

Vilma disse também que na falta de dinheiro, eles usavam bolas para árvore de natal, que eram trituradas no liquidificador e viravam purpurina. Outra lembrança foi o ano que o marido ganhou do cantor Agnaldo Rayol em Itajaí.

– Teve um ano que meu marido puxou um samba lá e o São João trouxe o Agnaldo Rayol. O meu marido ganhou de melhor puxador. Ainda tiraram sarro porque trouxeram o Agnaldo Rayol e perderam. Para ser puxador não precisa ter aquela voz, basta interpretar legal – reforça.

Vilma acredita que o segredo do sucesso do Unidos de São Domingos ter conquistado oito títulos seguidos em Itajaí deve-se ao fato da escola de samba ter sido a única de Navegantes no começo da década de 1980.

Família Souza fundou a primeira escola de samba de Navegantes

– Naquela época não tinha Estrelinha, não tinha Amizade ou Cara e Coragem. A turma do Centro saía toda aqui e saía enorme. Era uma escola de samba representando Navegantes e tinha criatividade. Depois que surgiram os outros blocos ficou dividido, a gente não ganhava tanto. Teve um ano que saímos sozinho e isso não foi bom – lamenta.

Na década de 1990, aconteceu uma nova mudança. Para acompanhar os outros blocos que surgiram nos anos 80, o São Domingos também virou um bloco com o nome de Acadêmicos de São Domingos. Uma coisa que nunca mudou foi o amor de Vilma pelo carnaval. Durante muitos anos, além de costureira, ela foi a porta-bandeira oficial da escola de samba e depois do bloco.

– Eu sempre achei bonito o pessoal do Rio de Janeiro e até hoje se deixarem eu desfilo, devagar, mas desfilo. No começo meu filho era mestre-sala, ele era menorzinho. Depois foi meu sobrinho e meu irmão. Contando os anos que saí no Amizade, foram 25 anos como porta-bandeira. A primeira experiência foi 1983 – relata.

O advogado Osair Manoel de Souza foi o grande nome da escola e depois do bloco Acadêmicos de São Domingos

O que marcou Vilma nesses mais de 30 anos de carnaval navegantino foi a homenagem que recebeu quando completou 25 anos como porta-bandeira. O desfile foi no bloco D´Amizade, em 2008.

– O que me marcou foi quando recebi essa homenagem de 25 anos. Aqui na nossa casa nós tivemos muitos problemas e muitas mortes. A gente chorava até na avenida, mas aquele amor pelo carnaval nunca deixou de existir. Meu pai faleceu e mesmo assim a gente continuou. A gente fazia as roupas e escondia. Tinha espião para ver o que a gente estava fazendo, era muito bom. Tenho saudade de uma época em que as pessoas se envolviam com carnaval e com amor – desabafa.

Vilma também lembra com saudade do irmão, o advogado Osair Manoel de Souza, que faleceu aos 76 anos, em agosto de 2022, e foi o grande nome do Unidos de São Domingos.

– Ele chegou a ser mestre de bateria, era o nosso compositor, o nosso presidente, ele era tudo isso. O Osair foi uma pessoa marcante no nosso bloco. Ele escrevia os sambas. Nós temos umas letras muito bonitas. O Osair não ficou até o final, mas acompanhava o bloco – conta.

Ela lamenta a falta de reconhecimento pela história da família Souza com o carnaval de Navegantes.

– Eu acho que a nossa família fez muito por Navegantes. Nós levamos o nome de Navegantes longe, mas nunca fomos homenageados, a família Souza. Fomos a primeira escola de samba de Navegantes e deveria ter um destaque no carnaval. A gente fica sentida. Nós fizemos o carnaval. Navegantes tem um nome hoje por causa da nossa família – ressalta.

O último desfile do bloco aconteceu em 2015. O São Domingos chegou a ser convidado para desfilar este ano, mas motivos particulares impediram o retorno. A porta-bandeira acredita que a história do bloco Acadêmicos de São Domingos ainda não terminou.

– Está nas mãos desta juventude. Eu espero que um dia o São Domingos volte – concluiu a dona Vilma.


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