fbpx

O AVIÃO DE GUERRA QUE CAIU NO PONTAL HÁ MAIS DE 100 ANOS

 Na tarde do dia 17 de novembro de 2022, um avião de pequeno porte fez um pouso de emergência na praia do Pontal, bairro São Pedro, em Navegantes. O monomotor que levava dois tripulantes apresentou problemas e caiu no mar, próximo à praia. Os dois tripulantes foram salvos por banhistas. Apesar do susto, eles não se feriram.

O acidente aéreo não foi o primeiro registrado na praia do Pontal. Há mais de 100 anos, outro acidente com características parecidas aconteceu no mesmo local e quase na mesma hora. Na tarde do dia 31 de maio de 1921, um avião de pequeno porte precisou fazer um pouso de emergência. O monomotor também levava dois tripulantes e pousou na areia da praia, que naquele dia estava vazia.

”Monomotor que caiu no Pontal em 1921 era um Breguet, avião de guerra francês que foi usado na Primeira Guerra Mundial. 

Reprodução/Arquivo Público de Itajaí

A aeronave que fez o pouso de emergência na praia do Pontal em 1921 era um Breguet, um avião francês produzido em larga escala para a Primeira Guerra Mundial. Comprado pela Escola de Aviação Militar, um ramo do Exército Brasileiro, o Breguet participava no dia do acidente de um “raid aéreo” ou missão militar.

O primeiro “raid aéreo” aconteceu em 1916 e a missão do piloto era atravessar a Baía da Guanabara, no Rio de Janeiro. A aeronave quebrou no meio do caminho e o piloto não conseguiu fazer o voo. Depois dessa primeira tentativa, outros raids foram realizados, principalmente na cidade do Rio de Janeiro.

Igual a 2022, o pouso forçado da aeronave em 1921 também foi destaque na imprensa, no caso no jornal “O Pharol”. 

O avião de guerra que pousou na praia de Navegantes em 1921 fazia o raid aéreo entre as cidades do Rio de Janeiro e Porto Alegre, a maior distância de voo até aquele ano. Com nove metros de comprimento, o Breguet tinha autonomia para voar durante dez horas. Os raids foram importantes para a aviação comercial nas décadas seguintes.

A viagem

O Breguet decolou do Campo dos Afonsos, no dia 30 de maio de 1921, uma segunda-feira, às 8h25. Com o motor de 300 cavalos e velocidade máxima de 160 km/h, o avião de guerra era pilotado pelo tenente Fernando Miguel Pacheco Chaves. Na aeronave, estava também o mecânico Josimo Oliveira, ambos diplomados pela Escola de Aviação Militar.

Depois de uma parada para abastecer no Paraná, a viagem seguiu tranquila e sem incidentes até chegar em Itajaí na tarde do dia 31 de maio de 1921. Ao sobrevoar a cidade, muitos moradores correram para a rua e tentaram ver o avião, que naquele momento voava baixo.

Por volta das 14h, o Breguet desceu ainda mais para o espanto dos moradores. Ao passar pelo centro de Itajaí, algumas pessoas ouviram um barulho estranho no motor da aeronave, que atravessou o rio Itajaí-Açu e seguiu em direção à praia do Pontal, em Navegantes. Com problema no radiador da aeronave, o piloto Pacheco Chaves fez um pouso forçado na areia da praia.

A aterrissagem não foi tranquila. Ao tocar na areia em alta velocidade, o avião de guerra capotou. O choque fez levantar uma densa nuvem de areia. Quem chegou à praia minutos depois acreditou que o avião de guerra tinha explodido com o impacto. Segundo o jornal “O Pharol” do dia 5 de junho de 1921, moradores de Itajaí atravessaram o rio para o ver o acidente.

“Para o local do sinistro formou-se verdadeira romaria. Embarcações eram disputadas para atravessar o rio, e, em pouco tempo, estava repleto de gente. Os primeiros a chegar ali já encontraram os dois aviadores fora do aparelho, estando, porém, o mecânico Josimo Oliveira gravemente ferido e o tenente Pacheco Chaves ileso, não obstante, ter rastejado, preso ao aparelho, a cabeça pela areia.

Assim mesmo o tenente mostrava-se prazenteiro e, antes de limpar o rosto mascarado, coberto de areia, sacando do bolso um pacote de chocolate, saboreava avidamente, demonstrando apetite, enquanto o mecânico, sem fala, fora carregado em braços, para a Pharmacia Brasil para os curativos, sendo após conduzido para o Hospital Santa Beatriz. Todos os presentes, mesmo os mais céticos, mostraram-se pesarosos pelo desastre e comentavam de uma e de outra forma o ocorrido, sendo o aparelho, grandemente inutilizado, objeto da máxima atenção de todos.”

O superintendente (prefeito) de Itajaí Marcos Konder, do Partido Republicano Catarinense, foi até o local do acidente. Ele providenciou a guarda do que sobrou do Breguet e o transporte do tenente Pacheco Chaves, que foi levado ao Palace Hotel, em Itajaí, onde ficou hospedado por conta do município.

No dia seguinte, começou a desmontagem do aparelho. De Florianópolis, vieram diversos mecânicos para fazer o serviço. Depois de desmontados, os destroços do Breguet foram embarcados no vapor Sírio para o Rio de Janeiro. No mesmo dia, o tenente Pacheco Chaves também retornou para o Rio de Janeiro no paquete (navio) Anna, enquanto o mecânico Josimo Oliveira se recuperava do acidente e ficou apenas à espera da alta médica.

Antes de embarcar no paquete Anna, o tenente Fernando Miguel Pacheco Chaves visitou o hospital Santa Beatriz, onde fez uma doação de 20 mil réis. A mesma quantia foi doada para a população carente. A notícia é também da edição do jornal “O Pharol” do dia 5 de junho de 1921.

“O tenente-aviador Pacheco Chaves, antes de partir para o Rio de Janeiro fez o donativo de 200$000 para o Hospital Santa Beatriz e por intermédio do senhor Heitor Liberato, mandou-nos 20$000 para ser distribuído aos pobres, o que fizemos hoje”.


ATENÇÃO: Você não pode copiar o conteúdo
Direitos reservados ao Jornal nos Bairros