Há quase 70 anos, uma tragédia marcou a Festa de Nossa Senhora dos Navegantes. Em fevereiro de 1953, um barco pesqueiro colidiu com um rebocador da Cobrasil (empresa responsável pelas obras do porto e molhes da barra) durante a procissão no rio Itajaí-Açu. Nove pessoas, todas residentes em Canelinha, morreram no naufrágio, o pior que se tem registro no rio Itajaí-Açu até hoje.
A procissão aconteceu no dia 2 de fevereiro de 1953, uma quinta-feira. Dezenas de barcos enfeitados com bandeirinhas participaram do cortejo pelo rio Itajaí-Açu. Entre essas embarcações estava o Leonor, uma baleeira de Navegantes. O barco pesqueiro levava 15 pessoas, 13 delas residentes no centro do Moura, uma localidade de Canelinha. Na época, Canelinha fazia parte do município de Tijucas. Igual a Navegantes, Canelinha se emancipou também em 1962, mas em dezembro.
Segundo o livro Histórias de Itajaí, de autoria de Magru Floriano, “os romeiros saíram do Moura ainda de madrugada visando chegar a tempo de assistir missa matutina em homenagem à santa padroeira. Utilizavam um caminhão da família Reis, tendo sua carroceria adaptada com bancos para trinta pessoas e uma boa cobertura de lona. Chegando a Itajaí os romeiros utilizaram pequenas embarcações para promover a travessia do Rio Itajaí. Uma dessas embarcações, de propriedade dos irmãos Manoel e Júlio Bernardes, foi utilizada pela maioria dos romeiros do Moura.” (Floriano, Magru. Histórias de Itajaí. Itajaí: Brisa Utópica, 2020, p.46. Versão eletrônica.)
A tragédia
A procissão seguia tranquila com os devotos de Nossa Senhora dos Navegantes festejando, quando a tragédia aconteceu. O rebocador “João Felipe”, conduzido pelo mestre Deodato Germiniano da Silva, não conseguiu ver o Leonor que navegava na direção contrária e passou por cima. A baleeira foi partida ao meio e todos os tripulantes lançados ao rio Itajaí-Açu.
A edição do dia 8 de fevereiro de 1953 do Jornal do Povo de Itajaí relatou o desespero das pessoas que estavam na procissão fluvial.
“As cenas trágicas que se apresentaram na hora do acidente, fizeram com que muitas pessoas ficassem presas de crises nervosas e muitos que se achavam nas proximidades da ocorrência, atendendo aos pedidos de socorro, fizeram o que estava ao seu alcance para salvar os sinistrados.”
Mesmo com todos os esforços de quem participava da festa, morreram no naufrágio Rosa Marcelina Laus, Cássia Laus, Andriana Fagundes, Pedro Reis, Maria Castro Reis, Edésio Reis, Ari Amorim, Lúcia Amorim e Moisés Amorim.
Pedro Reis, segundo o jornal católico “O Apóstolo”, edição do dia 1º de março de 1953, era casado com Maria Reis e deixou seis filhos órfãos. O casal Ari e Lúcia Amorim tinham três filhos. Pedro, cunhado das irmãs Cássia e Rosa Laus, era comerciante no Moura e ajudou a construir a capela Nossa Senhora Aparecida. Já Moisés de Amorim, tinha 62 anos, 30 deles como capelão em Canelinha.
Os sobreviventes
Entre os sobreviventes do Leonor estavam a senhora Maria Laus, sogra de Edésio Reis e mãe de Cassia e Rosa Laus, Olga Reis, esposa do senhor Edésio Reis e Leonida dos Santos, todos moradores do centro do Moura, em Canelinha. Também se salvaram os proprietários da baleeira, os irmãos Manoel e Júlio Mamedes Bernardes, residentes em Navegantes. Segundo o Jornal do Povo, um morador de Itajaí, que não teve sua identidade revelada, também se salvou.
”Eu só consegui sobreviver porque cravei minhas unhas e dentes em um ponto da proa do rebocador. Fui arrastada por um bom tempo e depois içada para bordo através de cordas ”
Olga Reis sobrevivente
Outra testemunha ouvida por Magru Floriano foi Aleatar Reis, (83 anos), irmão de Pedro e Edésio Reis, que só escapou do naufrágio porque não pode mais entrar na baleeira Leonor, que estava lotada.
– Fui salvo pelo acaso e vi tudo acontecendo na minha frente.
Segundo Magru Floriano, depois da tragédia, os cunhados, Olga e Aleatar se casaram. Eles trocaram o Moura, em Canelinha, pelo bairro Barra do Rio, em Itajaí.
Investigação
A Marinha do Brasil foi responsável pela investigação do naufrágio que matou nove pessoas no rio Itajaí-Açu no dia 2 de fevereiro de 1953. O resultado do inquérito foi encaminhado para o Tribunal Marítimo no Rio de Janeiro, onde foi julgado no dia 9 de abril de 1957.
Presidida pelo almirante Raimundo de Arêa Leão, o Tribunal Marítimo condenou por unanimidade o mestre Deodato Germiniano da Silva. Para o tribunal, Silva foi responsável pela tragédia. Apesar das nove mortes que provocou, Deodato Germiniano da Silva foi condenado a pagar apenas uma multa. O relator do processo no caso foi o juiz Gérson Cruz.