Por Daniele Lisandro
Há tempos forjamos o simples, deixamos de admirar pequenos acontecimentos, estamos sempre esperando grandes acontecimentos para causar “impacto” em nossas redes e seguidores…
O belo que reside nas pequenas coisas do cotidiano, é relegado pela imagem desejada e postada pelo outro, perdemos o sorriso de uma criança, perdemos coisas sutis.
O nascer do sol só é válido e apreciado se for em Mykonos, esquecemos de apreciar a beleza que nos cerca, aquela que está acessível no momento.
Na esperança de que um dia melhor virá para desfruta-lo com todos os prazeres que idealizamos, perdemos todos os outros que passam sem que vejamos. Somente lá, naquele lugar “instagramavel” poderemos ser felizes , viveremos o grande momento.
Nos tornamos todos reféns de “likes”, olhando para telas frias, ansiosos por instantes grandiosos o suficiente para gerarem “curtidas”. (já escrevi muito sobre)
Deixamos de perceber a vida com toda a sua magnitude, presente nas coisas simples, como poder colocar o pé na areia, ouvir o canto de um pássaro, caminhar em um bosque, ler um poema.
Como escreveu Nietzsche (…) essas pequenas coisas-alimentação, lugar, clima, distração (…) são inconcebivelmente mais importantes do que tudo o que até agora tornou-se importante”.
Existe um pé de pitanga no meu quintal, eu olho sempre pra ela com imensa afeição, porque sempre “vejo” o meu avô ali se deliciando com as frutas de uma árvore que um dia ele plantou. (ele faleceu há muitos anos) mas a árvore é uma forma de sentir ele por perto.
Ironicamente todas as coisas que são aparentemente bobas se tornam muito valiosas quando as perdemos.
Em busca de uma “grandeza” idealizada, minamos aquelas que são importantes para desfrutarmos de uma vida de completude, já que ela está sempre nos surpreendendo mesmo nos pequenos detalhes.
Mesmo em nossas relações, quando estamos diante do outro, não percebemos o olhar, não escutamos o que nos é dito, estamos distraídos demais pata usufruir as cia de alguém.
Os filhos nos convidam a brincar, mas brincamos com o olho no celular, na maioria das vezes não estamos entregues a brincadeira , afinal estamos cansados e consumidos por outros assuntos.
Ignorando o mundo “real” , em busca de algo imaginável e pouco palpável, acabamos desprezando as coisas fundamentais da vida, bem como o tempo, que passa sempre demasiado rápido.
“…Entendo bem o sotaque das águas.
Dou respeito às coisas desimportantes
e aos seres desimportantes… Eu fui aparelhado para gostar de passarinhos…Meu quintal é maior do que o mundo…” Manoel de Barros.