Em novembro de 2022, um avião de pequeno porte fez um pouso de emergência na praia do Pontal. O monomotor que levava dois tripulantes apresentou problemas e caiu no mar, próximo à praia. Os dois tripulantes foram salvos por banhistas. Em mais de 100 anos, a praia de Navegantes registrou outros e até trágicos acidentes. A coluna “Outros quinhentos” conta a história de alguns deles.
O primeiro acidente aéreo que se tem notícia em Navegantes aconteceu em 1921. Na tarde de uma terça-feira, dia 31 de maio de 1921, um avião também de pequeno porte precisou fazer um pouso de emergência na praia do Pontal. O monomotor levava dois tripulantes e pousou na areia da praia, que naquele dia estava vazia. O piloto não se feriu, mas o mecânico foi levado para o hospital Santa Beatriz, em Itajaí.
A aeronave que fez o pouso de emergência na praia do Pontal em 1921 era um Breguet, um avião produzido em larga escala para a Primeira Guerra Mundial. Pertencente à Escola de Aviação Militar, um ramo do Exército Brasileiro, o Breguet participava de um “raid aéreo” ou missão militar.
O avião de guerra que pousou na praia de Navegantes em 1921 fazia o raid aéreo entre Rio de Janeiro e Porto Alegre. Com nove metros de comprimento, o Breguet tinha autonomia para voar durante dez horas e atingia uma velocidade de 160 km/h. O jornal “O Pharol” do dia 5 de junho de 1921 publicou uma reportagem sobre o acidente e o espanto que provocou entre os moradores, que assistiram atônitos, o pouso forçado da aeronave na praia do Pontal na tarde daquela terça-feira.
“Para o local do sinistro formou-se verdadeira romaria. Embarcações eram disputadas para atravessar o rio, e, em pouco tempo, estava repleto de gente. Os primeiros a chegar ali já encontraram os dois aviadores fora do aparelho, estando porem o mecânico Josimo Oliveira ferido e o tenente Pacheco Chaves ileso.”
O AVIÃO DO CORREIO AÉREO
Oito anos depois do acidente com o Breguet da Escola de Aviação Militar, o Pontal foi mais uma vez cenário de um pouso de emergência. Desta vez foi a aeronave que fazia o transporte de correspondências entre a cidade de Natal (RN) e a capital argentina Buenos Aires. O piloto e mais três tripulantes não se feriram. A notícia foi publicada pelo jornal “O Pharol”, de 1º de novembro de 1929.
O avião Laté, da companhia francesa “Generale Aeropostale”, decolou de Santos (SP) na tarde de um domingo, dia 27 de outubro de 1929, com destino a Florianópolis. O avião francês foi fabricado pela antiga companhia Latécoère, que foi adquirida na década de 1940 pela Air France. Antoine de Saint-Exupéry, autor do livro “O Pequeno Príncipe”, foi um dos pilotos da Latécoère.
Na noite daquele dia, a aeronave que fazia o serviço aéreo entre Natal e Buenos Aires pegou uma tempestade quando passava pelo litoral catarinense. A chuva e a cerração impediram o piloto de continuar a viagem até o aeroporto de Florianópolis, que em 1929 ficava no bairro Campeche.
O piloto sobrevoou Itajaí e Navegantes na esperança de encontrar um lugar para pousar. Até existia uma pista próximo onde é hoje a Universidade do Vale do Itajaí (Univali), mas sem iluminação e com as condições atmosféricas adversas o piloto não conseguiria pousar mesmo se localizasse a pista. Ele decidiu retornar para a praia de Navegantes, conhecida na época como praia de Itajaí, para fazer o pouso de emergência.
Ao avistar a areia da praia do Pontal, o piloto aterrissou por volta das 22h. Por conta da chuva, a areia não estava consistente para que a aeronave pousasse com segurança. O Laté da Generale Aeropostale capotou, ficando a parte dianteira enterrada na areia e a hélice inutilizada.
Assim que souberam do acidente do avião do correio aéreo, moradores de Itajaí e Navegantes correram em direção à praia do Pontal para ver a aeronave e prestar os primeiros socorros aos tripulantes. As cartas que estavam no Laté da Generale Aeropostale foram transportadas de automóvel na mesma noite para Florianópolis.
O ACIDENTE DA FAMÍLIA MAEDA
O pior acidente aéreo de Navegantes aconteceu no começo da década de 1990. A queda de um avião de pequeno porte próximo à praia Central deixou quatro mortos. O bimotor se chocou no mar a dois quilômetros da praia. A aeronave ficou dois meses desaparecida até ser encontrada por um barco de pesca. Além do piloto e copiloto, faleceram no acidente dois integrantes da família Maeda, proprietária na época do maior grupo algodoeiro do Brasil.
O bimotor decolou de Itumbiara, no interior de Goiás, com destino a Blumenau, na madrugada do dia 18 de junho de 1992, uma quinta-feira. O avião de propriedade da família Maeda ainda fez uma escala em Ituverava-SP (SP), cidade natal dos irmãos Maeda. Por volta das 10h, a aeronave chegou em Blumenau, mas as condições meteorológicas durante a descida eram desfavoráveis devido ao mau tempo.
A tripulação optou pelo pouso no aeroporto mais próximo, no caso Navegantes. Ao se aproximar do Aeroporto Victor Konder, às 10h08, para fazer a aterrissagem, o piloto arremeteu devido à chuva e a neblina. Segundo testemunhas, a aeronave virou à esquerda, à baixa altura, e depois reverteu a curva para a direita. Em seguida, o bimotor colidiu com o mar. Partes da fuselagem apareceram na praia no mesmo dia.
No avião estavam o vice-presidente do Grupo Maeda, Francisco Maeda, e seu irmão Celso, diretor do Grupo, além do piloto Wilson José da Silva, e do copiloto, Hélio Lourenço Almenara. O bimotor seguia para Blumenau, onde os empresários tinham uma reunião marcada na manhã daquela quinta-feira na empresa Hering.
O avião levou dois meses para ser localizado. A família Maeda não poupou dinheiro na montagem de uma estrutura de resgate que tinha aviões, navios com sonares, mergulhadores, helicópteros e até uma vidente. Para o local, a família enviou um avião UTI, já que as informações da vidente era que todos estavam vivos.
No final da tarde de uma sexta-feira, dia 28 de agosto de 1992, um barco pesqueiro tocou com o espinhel (linha com anzol) em um objeto no fundo do mar e comunicou a Marinha que localizou a aeronave. No mesmo dia foram resgatados os corpos do piloto, Wilson José da Silva, e do copiloto, Hélio Lourenço Almenara, que já se encontravam em um avançado estado de decomposição. Os corpos dos irmãos Celso e Francisco Maeda foram retirados do bimotor em seguida.