A artista plástica de cabelos coloridos, personalidade forte, com foco no reaproveitamento de recicláveis marcou seu nome em terras dengo-dengo.
POR MAILA SANTOS
Na semana em que muito se falou no Dia da Mulher, optamos em trazer uma matéria falando de uma mulher que é pura irreverência e uma figura muito conhecida na cidade. A artista plástica e bacharel em Turismo, Ilva Santos, que está prestes a completar 70 anos de idade, desses, 55 foram vividos em Navegantes e com uma grande contribuição, em especial, para o desenvolvimento da cultura no município.
Eis a Fundação Cultural
Poucas pessoas sabem, mas foi a partir de um movimento iniciado por ela, que foi implantada a Fundação Municipal de Cultura (FMC). Na verdade, o esposo Elson Renato dos Santos, o popular Jacaré, falecido em 2008, deu a entrada no processo, no ano 2000, e em 2001, a sonhada FMC saiu do papel, e a partir daí, iniciaria uma linda história no setor cultural de Navegantes.
Para Ilva, mineira de nascença e navegantina de coração, essa cidade é um verdadeiro celeiro de artistas, de artesãos, de gente que faz e que vive da sua arte, e que só precisava de políticas públicas que pudessem incentivar, valorizar, reconhecer e ajudar o artista a tirar o sustento através da sua arte. E para isso, era preciso que o Departamento de Cultura ganhasse vida própria e começasse a caminhar sozinho. Inclusive, ela comemora hoje, e se emociona cada vez que vai à Fundação Cultural de Navegantes, em ver que a mesma está sendo tão bem conduzida ao longo desses anos e que a sementinha floresceu.
Essa mulher, de cabelos coloridos, de personalidade forte e que tem em sua maior característica de artista, o reaproveitamento de material reciclável, deixou seu nome impresso em terras dengo-dengo, ao longo de todos esses anos. Funcionária pública concursada, ela trabalhou por vários anos na Fundação Cultural que tanto sonhou. Seu talento em transformar o que parecia ser lixo, em arte, ultrapassou limites e comprovou que a criatividade, aliada à sustentabilidade, pode sim, fazer bonito, com baixo investimento, principalmente quando se dispõe de poucos recursos.
Sua arte
Um de seus trabalhos de maior visibilidade foi realizado em parceria com outras mulheres de destaque, da Câmara da Mulher Empresária de Navegantes, há mais de 20 anos. A decoração de natal da cidade contou com mais de 20 mil garrafas pet transformadas em esculturas, para decoração das praças e vias públicas. Trabalho esse reconhecido a nível estadual, levando-a a dar cursos em cidades na região do alto vale para ensinar a técnica.
Ela também idealizou e realizou por muitos anos, um projeto de páscoa, chamado “Toca do Coelho”, onde criou um espaço lúdico e temático, atraindo mais de 10 mil crianças para a visitação.
Além disso, atuou em diversos outros projetos de decoração na cidade, decoração em eventos públicos e até como carnavalesca no Bloco D´Amizade por alguns anos, além do projeto “Arte na Pedra”, que reuniu artistas para pintar as pedras do molhe, foram alguns de seus trabalhos como artista.
O trabalho dela sempre foi feito com muito amor à causa, nunca quis assumir nenhum cargo político de alto escalão, nem encarar uma candidatura a nada, pois, ela faz questão de dizer que o seu trabalho é o de bastidores.
Embora seja impossível ela não aparecer, onde ela chega, por conta dos seus cabelos sempre muito coloridos e por ser uma pessoa “barulhenta”, fala alto e gesticula, brinca e faz piadas, Ilva sempre diz que funciona muito mais colocando a mão na massa, e que, cada mulher tem o seu talento e a sua habilidade. Para ela, o importante é que cada uma faça aquilo que a faz feliz. “Não existe lugar certo ou lugar errado, para a mulher, o lugar certo é onde ela quer estar!”
Seus carnavais
Atualmente, ela está aposentada de tudo, como ela mesma diz. Após o falecimento do esposo, o qual ela chama de parceiro de vida e durante a entrevista, fala nele como se ele estivesse na sala ao lado, ela se aposentou de tudo, e dedica o seu tempo exclusivamente à família. Seu passatempo predileto é cuidar dos netos. Ela ainda se mantem conectada à sua arte, mas em casa, “inventando moda” e produzindo apenas para os que estão em sua volta. O talento para as decorações hoje não estão nem estarão mais nas ruas, segundo ela, hoje ela enfeita a própria casa para o natal, para a páscoa, e assim por diante.
A participação no carnaval, que por um período da sua vida foi muito presente, para ela hoje é algo que sem a presença do “Velho Jaca”, não tem mais sentido, e que se transformou apenas em uma lembrança boa, mas que se resume em prestigiar o filho, músico profissional Maykow Santos, que montou uma banda em homenagem ao saudoso pai, a Banda do Jacarezinho e que é grande sucesso durante a folia de Momo.
Seus cabelos coloridos
Ilva sempre teve uma personalidade muito à frente de seu tempo. Usava biquínis quando a moda era usar maiô, usava mini saia e botas acima dos joelhos quando a moda trazia vestidos mais compridos para as moças, pintava os cabelos de roxo, na década de 60, quando a sociedade sugeria algumas mechas loiras como algo diferente. Vale ressaltar que o roxo, ela conseguia fazer porque descoloria o cabelo e usava violeta genciana para chegar ao tom. O vermelho vibrante era com mercúrio de usar em machucados. A criatividade sempre esteve presente em sua vida e a comprovação de que, quando uma mulher quer alguma coisa, ela dá um jeito e faz acontecer.
A mensagem que Ilva deixa para todas as mulheres nessa semana em que o tema esteve muito em alta é de que toda mulher tem sua própria beleza, tem um potencial incrível dentro de si e que merece ser respeitada, independentemente de suas escolhas.