Dona Ema Zucco Fagundes, 82 anos, é exemplo de mãe.
No Dia das Mães, comemorado no domingo (8), o Jornal nos Bairros presta uma homenagem à Dona Ema Zucco Fagundes, 82 anos, muito estimada em Navegantes por sua história de luta e dedicação aos oito filhos – seis deles especiais. Tristezas e alegrias fizeram parte de sua trajetória, mas sempre enfrentou tudo com paciência e fé.
Natural do município de Luiz Alves, com 25 anos, veio para Navegantes trabalhar para o falecido ex-prefeito Cirino Adolfo Cabral. Em 1959, casou-se com Mozart Fagundes, que possuía uma deficiência intelectual, e, um ano depois, nascia o primeiro filho do casal. Ela é mãe de José Carlos de 56 anos, Luiz Cláudio (Zinho) de 52, Sandro de 50, Vandelino de 49, Marcos (Marquinhos) já falecido com 47; João Edson de 46 e Gerson de 45. Dona Ema também teve uma menina, Maria de Fátima, sua segunda gravidez, mas a criança veio a falecer aos oito anos de idade.
A criação dos filhos foi com dificuldade. Sofreu muito preconceito até por parte de alguns familiares, que se incomodavam pelo simples fato dos cinco meninos que possuíam um atraso mental andarem livres pela cidade. Mas Dona Ema não dá importância para os preconceitos. Como toda mãe coruja, ela defende as crias. “Eles sempre me compreenderam, me atendiam. Tudo que eu dizia, eles escutavam. Uma vez o meu pai fez uma gamela (vasilha de madeira), eu fazia o pirão de feijão na panela, colocava uma bola aqui, ali, ou era linguiça ou ovo, picava, um dizia que queria mais, outro dizia que não podia, daí eu falava: não briga, não discute, olha lá, o anjinho está chorando. O Zinho dizia: ‘É, Sandro, tu não briga, porque o anjinho está chorando lá no céu’. Eu não batia nos meus filhos, eu tinha pena porque eles tinham problema”, relembrou.
Incentivadora da APAE em Navegantes
Já cansada e com dificuldade de deslocar-se até o município vizinho, Itajaí, para acompanhar os filhos especiais na Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) – fato que vinha fazendo há 17 anos – Dona Ema solicitou ao então prefeito João José Fagundes que fundasse uma APAE em Navegantes. A 1ª Dama do município na época, Vera Fagundes, então se reuniu a um grupo de senhoras e formou, no dia 21 de julho de 1980, a primeira diretoria da APAE de Navegantes. Naquele mesmo mês, iniciava-se o atendimento aos alunos especiais, em uma sala na Colônia dos Pescadores.
Com sua atitude, ajudou e ajuda muitas mães que buscam por educação especial para seus filhos, mas ela não se gaba disso. “Quiseram intitular com o meu nome a APAE, mas eu não quis, falei deixa só APAE de Navegantes”, comentou com modéstia.
Morte do filho com câncer
Em 2004, o esposo Mozart faleceu em decorrência de um derrame e, 11 anos depois, mais um fato triste marca a vida dessa mãe. Em 29 de abril de 2015, morre seu filho Marquinhos, de um câncer no estômago. “Foi dolorido, foi um choque. Ele não queria morrer, ele queria ficar. Ele trabalhava doente. Foi embora um pedacinho da minha vida”, contou com as lágrimas nos olhos.
Ela lembra que o filho estava sempre na igreja, dava lugar para os outros sentarem. Menos de 15 dias antes de morrer, ele foi ao “Terço dos Homens”, na paróquia de São Domingos, e cumprimentou um a um. Na véspera da morte dele, em uma terça-feira, dona Ema lembra que aconteceu o terço da Nossa Sra. da Rosa Mística. Na ocasião, o padre Marcos, do Santuário, chegou ao quarto dele, conversou, fez a oração dos enfermos e falou para rezar um Pai Nosso.
“O Marquinhos levantou a mão, o padre deu tchau e ele ficou olhando, não sei se ele viu uma luz ou viu um anjo. Quando eles foram embora, eu fui me deitar e ele falou: ´Só hoje, mãe, me deixa deitar do teu lado para você fazer aquela massagem´, ele estava com muita dor, tossiu até as 04h30. De manhã ele teve fome e tomou um copo de Sustagem e pensei que bom, ele vai melhorar. Eu fui levar a garrafa e ele me chamou no quarto e ele morreu, junto comigo. A missa de sétimo dia estava tão lotada que o padre se admirou: ´Meu xará, não sabia que você era tão querido pelo teu povo´.
Alegria ao falar dos filhos
Mas não é só de tristezas a vida dessa mãe, ao contrário, ela se alegra em falar dos filhos. “Todos são muito trabalhadores. Zé Carlos é Fluminense, em dia que o time ganha ele está todo feliz. Domingo depois do almoço, ele já pega a louça, arruma tudo no lugar e diz: `Mãe, vai descansa´, ele que lava a louça toda para mim. Já o Zinho é agitado, tem que saber levar ele. Se falar alto com ele, ele fala mais alto. O Sandro puxou ao Mozart, é músico, nasceu bem moreno, eu achei que não era meu filho, mas ele puxou o meu pai, moreno de olhos verdes. Vandelino é o atleta, gosta de correr. O João Edson eu queria que fosse padre, ele foi para o seminário, mas o padre o pegou falando com uma menina e o mandou embora, hoje ele é professor. O Gerson mamou até os dois anos e dois meses, por isso que ele é forte, também é um educador”, falou sorrindo.
Mensagem para as mães
“Eu tenho que louvar a Deus, porque ele me deu forças e paciência, afinal não é fácil lidar com cinco filhos com deficiência. Eu ia quase toda a semana, além de levar eles para a escola, eu tinha reunião. O que eu digo às mães é que tenham amor e paciência com os filhos, hoje têm tantos filhos que não obedecem mais os pais, andam no vício, gastam o que a mãe e o pai têm, roubam dentro de casa, nisso eu tenho que louvar a Deus, meus filhos nunca me incomodaram, são muito amados por Deus e pela família”, finalizou.