Com a proximidade do dia dos namorados, decidi escrever sobre o amor, ou sobre a ausência deste sentimento cada vez mais raro de encontrar na sociedade atual, constituída por relações instantâneas e superficiais.
A cada momento surgem novas “configurações” e títulos para tudo que não seja amor, para tudo que tem aparência de afeto, mas que esconde o medo do verdadeiro encontro com o outro.
Fazemos parte de uma geração que é capaz de experimentar o quase, mas não o todo com a sua alteridade, suas dificuldades e obstáculos que podem surgir quando pisamos em “terreno” alheio.
O outro que se apresenta na maioria das vezes, não corresponderá as expectativas simples, muito menos complexas, que estão “impostas” subliminarmente pela “modernidade líquida”, como já apontava Bauman.
Absortos pelo poder de “trocar” rapidamente e anestesiados pelas telas que nos fazem pular de uma opção a outra, somos forjados a não “mergulhar” em nenhuma relação de fato.
Desbravar o “universo” que o outro tem a oferecer, requer tempo, espaço, compreensão, sensibilidade… Algo impossível de experienciar quando não quebramos o ciclo da momentaneidade da qual nos acostumamos.
Quando nosso ideal de parceiro se baseia no que as redes nos oferecem, submetidos a um mundo propenso a mudar instantaneamente, é pouco provável que consigamos estabelecer algo além do que está posto.
Ademais, transcender meu “narcísico” requer trabalho, é necessário compreender que o sujeito não se adequará as minhas expectativas, que ele não foi um ser “moldado” para se encontrar comigo e realizar meus anseios.
Como menciona o psicanalista Christian Dunkerpara que o amor seja verdadeiro, o sujeito precisa ser verdadeiro, e para ser verdadeiro, ele não pode estar amando de tal jeito, só porque “eu” pedi para ser amado daquele jeito. Ele precisa amar espontaneamente: do seu jeito, da sua forma, dentro da própria gramática, amar. Mas quando isso ocorre, o ser “amado” não entende tal ato como amor, porque não reflete seu “narcísico”.
Assim, o sujeito guarda desejos próprios, suas próprias angústias e dramas. É um ser composto por infinidades de sentimentos, e que na maioria das vezes irá nos confrontar, revolvendo lugares sutis da nossa psiquê.
Diante de uma “prateleira” de múltiplas opções, estamos perdendo a habilidade de sentir, de se dispor a atravessar um campo cheio de oscilações e incertezas, vamos optando pelo mais conveniente, “menos trabalhoso” mais fugaz.
Talvez o amor seja uma interpretação, como proposto por Roland Barthes, uma experiência fragmentária, uma aventura semiológica, palimpsêstica, com seus diversos códigos e signos.
Talvez, o amor só esteja disponível para quem tenhacoragem de “explora-lo” (algo a ser descoberto), com carinho, cuidado, atenção. Criando um caminho para chegar até o outro, com disposição de compartilhar a jornada, as experiências, os sonhos, a vida.
De uma forma ou de outra , ele requer disponibilidade.