FRANCISCUS:

POR DANIELE LISANDRO

Formada em Direito pela Universidade do Vale do Itajaí

(O Jornal não tem responsabilidade pelos textos escritos pelos colunistas)

Jorge Mario Bergoglio, escolheu o nome de Francisco, ao se tornar papa, para homenagear São Francisco de Assis, (santo que renunciou a riqueza, abandonou os bens materiais para se dedicar a oração, caridade e seguir os ensinamentos de Jesus).

Francisco que partiu na segunda-feira santa, regressou o quanto pôde para a simplicidade do evangelho, se aproximou de uma vida mais simples e da humildade condizente com o nome que carregava.

Dispensou, dentro dos limites da instituição, as pompas que considerou desnecessárias, escolheu residir na casa de hóspedes ao invés dos aposentos papais, continuou a usar o crucifixo que usava antes do papado, usava sapatos pretos comuns, entre outros elementos que significaram a destituição do luxo.

Um papa que desejou incluir TODOS, que incluía e acolhia com seus gestos àqueles que estavam à margem da sociedade, os que antes não eram vistos pela igreja, nem pela cúria Romana.

Com suas falas de inclusão, causou revolta em certos líderes religiosos e até mesmo dentro da própria igreja, foi visto como um papa “comunista” por alguns, por querer incluir os marginalizados, os pobres, as pessoas LGBTQIA+.

Mas seguiu firme, enfrentando as tempestades causadas por aqueles que deveriam admirá-lo, uma vez que suas ações condiziam com os preceitos do evangelho de Jesus, e que os cristãos também deveriam seguir.

Francisco abraçou os doentes, defendeu os migrantes, lavou os pés dos refugiados, visitou os presos, escutou as pessoas de diferentes partes do mundo, de diferentes camadas sociais e os excluídos.

Disseminou o amor o quanto conseguiu, teve um “coração sem fronteiras”, capaz de vencer as barreiras impostas pelas distâncias, ou até pela religião, assim como aquele que o inspirava, como descreve em sua encíclica “fratelli tutti”: “É impressionante que, há oitocentos anos, Francisco recomende evitar toda a forma de agressão ou contenda e também viver uma «submissão» humilde e fraterna, mesmo com quem não partilhasse a sua fé”.

Tentou construir pontes ao invés de muros, pregou a conciliação num mundo tão cheio de conflitos e dividido por egos inflados, um mundo em que muitos não se importam com a morte daqueles que estão à margem.

Francisco foi na contramão do individualismo (daqueles que desconsideram o outro) do preconceito, da discriminação, do fascismo que insiste em retornar, enfrentou temas difíceis, mantendo a docilidade, o sorriso e a brincadeira. 

Conquistou milhares de corações que agora ficam órfãos do seu carinho, dos seus gestos, das suas falas, mas que ficam como suas preciosas lições, entre outras, que deveriam ser seguidas, disse: “juntos no amor, nós, cristãos podemos mudar o mundo, podemos mudar nós mesmos, porque Deus é o amor”.  

Termino o texto com a passagem que Francisco cita em “fratelli tutti” e que expressa resumidamente o que ele tentou seguir com suas ações, dedicar seu tempo aos outros, escutá-los e curar suas feridas: 

Conta Jesus que havia um homem ferido, estendido por terra no caminho, que fora assaltado. Passaram vários ao seu lado, mas… foram-se, não pararam. Eram pessoas com funções importantes na sociedade, que não tinham no coração o amor pelo bem comum. Não foram capazes de perder uns minutos para cuidar do ferido ou, pelo menos, procurar ajuda. Um parou, ofereceu-lhe proximidade, curou-o com as próprias mãos, pôs também dinheiro do seu bolso e ocupou-se dele. Sobretudo deu-lhe algo que, neste mundo apressado, regateamos tanto: deu-lhe o seu tempo. Tinha certamente os seus planos para aproveitar aquele dia a bem das suas necessidades, compromissos ou desejos. Mas conseguiu deixar tudo de lado à vista do ferido e, sem o conhecer, considerou-o digno de lhe dedicar o seu tempo.


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