Em Itajaí, fiscalização foi reforçada quanto à comercialização de cerol. Em Navegantes, faltas no código penal fazem crimes serem impunes.
TEXTO: LOUISE BENASSI SC 002880/JP
Nas últimas semanas, duas graves ocorrências envolvendo o uso de linha de cerol foram registradas nas cidades de Navegantes e Itajaí. A incidência abre um alerta sobre a brincadeira perigosa que virou soltar pipa.
O caso mais recente foi o do menino Fernando de Barros, de oito anos, que teve 70% do corpo queimado, após ser atingido por um fio de alta tensão, arrebentado por crianças que soltavam pipa com linha de cerol, no bairro São Vicente, em Itajaí, no dia 15 de março,
O menino foi encaminhado em estado grave ao Hospital Pequeno Anjo, em Itajaí, e, um dia depois, transferido para a ala de queimados do Hospital Infantil Joana de Gusmão, em Florianópolis.

Os pais da criança, Franklin de Barros, 43, e Eliane Batista de Jesus, 42, também se feriram. O pai da criança tentou socorrê-la, puxando o filho pelo braço, mas acabou também sendo atingido. Ele sofreu ferimentos no corpo e na cabeça. A mãe, que presenciou o ocorrido, tentou intervir e sofreu ferimentos nos pés.
Devido ao ocorrido, o Município de Itajaí intensificou a fiscalização no que diz respeito à comercialização do cerol em estabelecimentos da cidade. Na segunda-feira (17), fiscais da Vigilância Sanitária percorreram estabelecimentos que comercializam pipas e linhas. Em uma das lojas, foram apreendidas colas especiais para o preparo do material.
A prática perigosa e proibida por lei municipal desde 2003. A Lei n. 3895, promulgada em 25 de abril de 2003, proíbe o uso de cerol ou de qualquer outro material cortante em linhas ou fios usados para empinar pipas, bem como o uso de tais materiais na própria pipa e nas rabiolas.
A legislação municipal determina que o uso da mistura cortante de vidro moído e cola aplicada em linhas de pipas, quando identificado, resulta em multa de R$2.413,00. Quando se tratar de infrações praticadas por menores, os pais ou responsáveis assumirão as consequências dos atos. Em caso de produção, comercialização, ou armazenamento de cerol, a multa será de R$12,065,00. Quando há reincidência, o valor será aplicado em dobro.
Em Navegantes dois jovens morrem em menos de 4 anos
Em Navegantes, a lei municipal nº 2757, de 27 de agosto de 2013, também proíbe o uso e comercialização de cerol. Entretanto, a legislação não tem inibido a prática na cidade. Em menos de quatro anos, dois jovens foram vítimas fatais do cerol. Luís Eduardo Scloneski, 21, e Lucas de Barros, 24, perderam a vida no mesmo trecho da BR 470, no bairro São Paulo. Ali, a prática ilegal de soltar pipa utilizando linha de cerol é freqüente. Crianças e jovens são vistos empinando pipa à beira da rodovia, correndo riscos contra a própria vida e contra a vida dos outros.
Luis Eduardo, morto no dia 1º de março, havia casado há poucos meses. A esposa, na garupa da motocicleta que ele dirigia, presenciou tudo. As imagens da câmera de monitoramento mostram o momento do acidente. Três crianças brincam juntas e uma delas, vestindo camiseta branca, vai até o acostamento da via para soltar a linha da pipa presa. Um primeiro motociclista passa e, por pouco, ele não é atingido. Na sequência, passa Luis Eduardo, que não consegue desviar da linha de cerol e acaba morrendo na hora.

A polícia civil interrogou a mãe dos gêmeos de 8 anos, identificados nas imagens. Eles estariam com um amigo de 11 anos, ainda não identificado pelas autoridades. A mãe disse que as crianças estavam na casa de um familiar e, de lá, teriam saído para brincar com vizinhos. Os familiares falaram que achavam que eles estavam perto de casa, mas, na verdade, eles acabaram indo para as margens da rodovia BR 470.
Segundo a polícia, a linha de cerol foi comprada em um mercado próximo da casa onde eles estavam.
De acordo com o delegado, Dr. Osney Valdir, não cabe processo criminal aos pais dessas crianças, apenas podendo serem processados na esfera civil.
Vários leitores do Jornal nos Bairros escreveram nos comentários das matérias sobre o caso que também já foram cortados por linha de cerol enquanto dirigiam por esse trecho da rodovia e até de quase atropelamento dessas crianças que se colocam em risco correndo na beira da rodovia.
“Três anos atrás, eu também quase fui degolada ali na 470 no bairro São Paulo, a sorte que eu estava com uma jaqueta bem grossa de gola alta, cortou a jaqueta, a corda do capacete e um corte pequeno no meu pescoço, era pra ter fiscalização ali”, falou uma leitora.
“Quase passei por cima de dois moleques mais cedo. Ficam pulando o muro central da BR sem olhar para os lados, correndo atrás de pipa. Quando alguém matar uma criança vai pedir justiça, agora educar uma criança e fazer entender que é perigoso, ninguém faz”, falou outro leitor.