FOTO: O português Manoel Moreira Maia com a família em Navegantes. Crédito: FGML/CDMH
A coluna “Outros quinhentos” segue com a série sobre os primeiros práticos da barra do rio Itajaí. Nesta edição, a coluna conta a história dos portugueses Manoel Francisco de Oliveira e Manoel Moreira Maia. Os dois foram práticos no período mais perigoso da barra, com um canal mais estreito do que o atual, bancos de areia, além de pedras, correntezas, tempestades e ressacas marítimas.
Diferente do seu compatriota, Jacinto José dos Santos, que em 1861 utilizava uma canoa, Manoel Francisco de Oliveira fazia o trabalho com uma catraia também a remo em 1873. Naquela época, Manoel era o 1º prático, enquanto Jacinto ficou no posto de 2º prático. Eles contavam ainda com a ajuda de 5 remadores.
Com a catraia, Manoel Francisco de Oliveira entrava no navio por uma escada lateral feita de cordas e madeira, assumia o comando do navio até a atracação no porto. Sem a tecnologia atual, por exemplo, GPS, o prático usava o seu conhecimento técnico de profundidade, correntes marítimas, ventos e tinha que saber com precisão onde estavam os bancos de areia que se formavam após uma enchente.
O trabalho do prático português era tão reconhecido entre os comandantes de navios, que alguns deles organizaram um abaixo-assinado após um mestre de embarcação fazer uma queixa à Capitania dos Portos de Florianópolis. No documento publicado no jornal Regeneração em 21 de dezembro de 1873, 14 comandantes elogiam a “apitidão, zelo e assiduidade e energia, no desempenho de tão espinhoso cargo.”
Em 1875, o jornal O Conservador, edição de 12 de maio, destacou a perícia do prático, que mesmo debaixo de um temporal conseguiu fazer a manobra de saída da barra do vapor São Lourenço. A embarcação seguiu para Florianópolis, onde o comandante fez questão de elogiar a habilidade do português.
Manoel Moreira Maia
Oliveira teve ajuda de Jacinto José dos Santos até 1883, quando ele foi substituído por Sebastião Thomaz de Siqueira. O 2º prático seguiu até o final da década de 1880. No dia 4 de junho de 1891, Manoel Moreira Maia foi nomeado para exercer o cargo de 2º prático. Durante mais de dez anos Maia foi companheiro de praticagem de Manoel Francisco de Oliveira.
Nem sempre o trabalho do prático tinha êxito. Com muitos bancos de areia, qualquer erro poderia comprometer a manobra da embarcação. Foi o que aconteceu no dia 22 de maio de 1901, quando o patacho “Joana” naufragou na praia do Pontal. Naquele ano, a praticagem já possuía um rebocador para fazer o serviço, como noticiou o jornal Progresso, de 25 de maio de 1901. O patacho transportava 380 toneladas de sal para a cidade de Pelotas (RS).
“Tinha o navio a seu bordo, na ocasião que se deu o naufrágio, o 2º prático da barra Manoel Maia, enquanto no rebocador tinha o governo o 1º prático Manoel Francisco de Oliveira. Justamente ao sair do canal arrebentaram-se as espias do reboque, dando o navio com a popa no banco (de areia) do pontal, abrindo água imediatamente.”
Maia tinha uma personalidade forte e não levava desaforo para casa. O trabalho do prático português, morador de Navegantes, foi contestado por um artigo publicado no jornal Correio do Povo, de 27 de maio de 1904. Assinado apenas pelas iniciais M. R., o prático contestou o artigo e a resposta afiada saiu na edição de 12 de junho de 1904, do jornal Novidades.
“A praticagem é livre, pode, portanto, o tal senhor M. R. prestar um serviço ao comércio desta praça, já que se mostra tão interessado em protegê-o: tire a carta de prático e mesmo a despeito de barra grossa, temporal etc, pratique a entrada ou saída de qualquer embarcação e mais nada.”
Manoel Moreira Maia nasceu no dia 16 de janeiro na cidade de Vila do Conde, Portugal. Ele faleceu em 28 de abril de 1918, em Navegantes. Maia era casado com Maria José Rodrigues da Silva e teve 10 filhos.
Existem poucas referências da vida pessoal de Manoel Francisco de Oliveira, que além de um excelente prático, também se distinguiu por um ato de heroísmo. Durante uma enchente em 1880, Oliveira salvou muitas famílias de Itajaí. Por sua atitude, ele recebeu uma medalha de 1ª classe, concedida pelo imperador Dom Pedro II.
One thought on “COLUNA: OS PRÁTICOS PORTUGUESES”
Comments are closed.