Coluna Outros Quinhentos
Por Rogério Pinheiro
Quem visita hoje os molhes e vê a movimentação de navios nos portos de Navegantes e Itajaí, talvez não saiba dos riscos para entrar e sair da barra antigamente. As embarcações enfrentavam bancos de areia, pedras, correntezas, tempestades e ressacas marítimas. Com uma pequena canoa, o prático garantia a entrada e saída dos navios com segurança. A coluna “Outros quinhentos” conta a partir desta edição a história dos primeiros práticos da barra do rio Itajaí-Açu, a maioria deles moradores de Navegantes.
A praticagem na barra do rio Itajaí começou com os portugueses Jacinto José dos Santos, Manoel Francisco de Oliveira e Manoel Moreira Maia. Depois vieram José Maria do Couto, Joaquim Fernandes, Manoel Pereira da Silva, Manoel Bruno Vieira, Lindolfo Caetano Vieira, José Paulo e Manoel Pedro de Souza, conhecido por Manoel Izidro. O primeiro registro de um prático na barra do rio é de Jacinto José dos Santos, em 1861.
Com a sua pequena canoa a remo, Jacinto garantia a entrada e saída das embarcações no porto de Itajaí. Naquela época, a boca da barra era mais estreita e só ganhou os contornos atuais depois da enchente de 1911. O relatório do presidente da Província de Santa Catarina, Francisco Carlos de Araújo Brusque, publicado no jornal “Correio Oficial”, edição de 15 de junho de 1861, fornece mais detalhes da atividade exercida pelo prático.
“Em consequência incumbi desse serviço a Jacinto José dos Santos que ali se achava, a expensas de alguns particulares, encarregado de dirigir a saída e a entrada de certos navios. Deu-se-lhe uma coleção dos sinais para guiar as embarcações que procurarão aquela barra. Carece, porém uma pequena embarcação completamente tripulada que se empregue naquele serviço. Por agora, o encarregado desta praticagem serve-se de uma canoa de sua propriedade, que não preenche os fins a que deve ter em vista. A falta de crédito para estas despesas obrigou-me a tomar somente aquelas providências. Conto, que declarei uma quantia, para a satisfação desta necessidade, reclamada pelo florescente comércio, e navegação daquele rio.”
Na sua canoa a remo, Jacinto ia até o navio fundeado próximo à barra, entrava no navio por uma escada lateral, assumia o comando do navio até a atracação no porto. Além disso, ele precisava ter conhecimento de profundidade, correntes marítimas, ventos e estar familiarizado com todos os obstáculos, principalmente os bancos de areia que se formavam após uma enchente.
Ainda em 1861, o capitão do porto de Itajaí autorizou a compra de uma baleeira para auxiliar o serviço de praticagem. O pedido foi feito por Jacinto em maio daquele ano. Com o aumento na movimentação de navios, o prático que até então trabalhava sozinho, precisou contratar dois funcionários por conta própria. Para pagar os remadores, ele teve seu salário acrescido de 20 para 30 mil réis mensais. O decreto que aumentou o salário do prático foi publicado no dia 28 de setembro de 1864.
Hoje, a praticagem é regulamentada pela Marinha do Brasil. A legislação brasileira estabelece os requisitos para o exercício da profissão. Quando Jacinto começou a trabalhar, ele precisava apenas ter um número de matrícula na Capitania dos Portos. A partir de 1881, a Capitania começou a exigir que os práticos fizessem exames periódicos e cursos na área de navegação.
Jacinto ficou como 1º prático da barra do rio Itajaí-Açu até 16 de novembro de 1868, quando pediu para sair. No registro da sua exoneração não consta o motivo de seu afastamento. O navegantino José Maria do Couto o substituiu. Jacinto retornou à praticagem em 1870, após o falecimento de José do Couto.
Existem poucas referências sobre a atividade exercida por Jacinto nessa época e também sobre a sua vida pessoal. O último registro dele como prático é de 1878, quando foi acusado de insultar e ameaçar o capataz do porto de Itajaí.
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