fbpx

COLUNA: DE ENGRAXATE A DEPUTADO

Pouco lembrado, Elias Adaime teve uma participação importante na emancipação de Navegantes em 1962. Crédito: Centro de Documentação e Memória histórica de Itajaí

A trajetória do filho de libanês que redigiu a lei que emancipou Navegantes

Coluna Outros Quinhentos por Rogério Pinheiro

Quando o assunto é a emancipação político-administrativa de Navegantes, muito se escreveu sobre os navegantinos que lideram a comissão que criou o município em 1962. Pouco se sabe dos outros personagens também importantes. Um deles é o ex-deputado federal Elias Adaime. Foi na máquina de escrever dele que saiu a lei, aprovada pela Assembleia Legislativa de Santa Catarina, que emancipou Navegantes de Itajaí.      

Filho do libanês Elias Brick Adaime e de Domingas Perotto Adaime, Elias nasceu no dia 30 de janeiro de 1923, em São Francisco do Sul. A família se mudou para Curitiba e desde cedo Elias precisou trabalhar para sobreviver. Ainda criança, engraxou sapatos na rua XV de Novembro em Curitiba e também trabalhou como bilheteiro de cinema na cidade do Rio de Janeiro.

Além de advogado, Elias Adaime também era jornalista e foi proprietário do jornal Correio. Na foto, Elias discursa na posse do 1º Presidente do Clube de Imprensa de Itajaí, em 1981. Crédito: Centro de Documentação e Memória histórica de Itajaí 

Esforçado, Elias Adaime estudou no Ginásio Marista em Curitiba e concluiu a Faculdade de Direito de Porto Alegre em 1952. Exerceu atividades advocatícias e foi assistente técnico da Presidência do Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Industriários (IAPI).

Adaime trabalhou como assessor particular do presidente Getúlio Vargas para assuntos da Previdência Social. Foi também assessor de João Goulart no Ministério do Trabalho, Viação e Obras Públicas. Em 1953, ele participou da organização do Congresso Brasileiro de Previdência Social, no Rio de Janeiro, com a participação de 1.200 sindicatos.

O trabalho como advogado pela causa da Previdência Social e sua liderança abriram caminho na política. Em 1954, Adaime se candidatou a vaga de deputado federal pelo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB). Ele recebeu 8.981 votos e ficou na segunda suplência. Adaime assumiu efetivamente o mandato em fevereiro de 1955 para a 40ª Legislatura (1955-1959).

No Parlamento, liderou a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investigou as condições insalubres de trabalho dos mineiros no sul de Santa Catarina. Adaime também investigou irregularidades no Fundo Sindical, sendo seu relator. Defendeu todas as causas relacionadas à Previdência Social e aos direitos dos trabalhadores.

Adaime recebe cumprimentos em um encontro na cidade de São Paulo, 1980. Crédito: Centro de Documentação e Memória histórica de Itajaí
Adaime recebe cumprimentos em um encontro na cidade de São Paulo, 1980. Crédito: Centro de Documentação e Memória histórica de Itajaí

Em 1958, agora pelo Partido Social Democrático (PSD), foi o segundo deputado federal mais votado, perdendo apenas para o futuro governador de Santa Catarina, Antônio Carlos Konder Reis. Em 1960, Elias Adaime denunciou no plenário da Câmara dos Deputados, irregularidades na construção de Brasília. Segundo o deputado, o Governo Federal usou recursos dos institutos responsáveis pelo pagamento de aposentados e pensionistas, que gerou atrasos nos salários dos beneficiários. Os recursos foram usados para a construção dos apartamentos funcionais dos deputados e senadores.

Ainda em 1960, Adaime licenciou-se das funções parlamentares e assumiu a Secretaria de Segurança Pública de Santa Catarina, no governo de Heriberto Hülse (1958-1961), onde ficou de junho de 1960 a janeiro de 1961. Depois, retornou à Câmara dos Deputados e completou o mandato.

Além de deputado federal e lutar pela causa da Previdência Social, Elias Adaime fundou o Jockey Club e o Clube Sírio Libanês de Brasília, sendo o seu primeiro presidente. Uma das realizações do deputado foi a criação do Sistema Cooperativo Integrado de Farmácias, conhecido em Itajaí como Farmácia Popular, que até hoje funciona na cidade.

 Em 1962, pela União Democrática Nacional (UDN), Elias tentou a reeleição de Deputado Federal, recebeu 6.779 votos, ficou na quinta suplência e não foi convocado.   

A emancipação de Navegantes

Navegantes se tornou um município no dia 26 de agosto de 1962. Mas antes de se emancipar, houve uma grande mobilização por parte de políticos e lideranças comunitárias do então bairro de Itajaí para reivindicar seus direitos. Uma comissão formada por moradores foi criada para discutir o assunto. O primeiro passo foi organizar um abaixo-assinado para obter apoio da população.

O abaixo-assinado contou com a participação de aproximadamente mil moradores de Navegantes. O documento foi entregue na Câmara de Vereadores de Itajaí em abril de 1962. No mês de maio a emancipação começou a ser discutida pelos 13 vereadores, entre eles um morador de Navegantes, Cyro de Freitas.

Elias Adaime entra na história de Navegantes quando é convidado pela comissão para redigir a lei que seria enviada para a Câmara de Vereadores de Itajaí pelo então vereador Nilton Kucker. Na sessão do dia 14 de maio de 1962, os vereadores entraram em consenso e o projeto de criação do município de Navegantes é aprovado por unanimidade.

Para valer, o projeto teria ainda que ser votado e aprovado pela Assembleia Legislativa de Santa Catarina. Quando Osório Gonçalves Viana, um dos integrantes da comissão de moradores para emancipação escreveu o primeiro livro sobre a história de Navegantes, em 1975, Adaime, que produziu o seu prefácio, citou a lei redigida em 1962.

Athanázio Rodrigues e o governador Celso Ramos durante a cerimônia de instalação do município de Navegantes no dia 26 de agosto de 1962. Crédito: Centro de Documentação e Memória histórica de Itajaí 
Athanázio Rodrigues e o governador Celso Ramos durante a cerimônia de instalação do município de Navegantes no dia 26 de agosto de 1962. Crédito: Centro de Documentação e Memória histórica de Itajaí 

“Duas coincidências devem ser mencionadas como fato pitoresco. A Lei Estadual 838, de 30 de maio de 1962, que criou o município de Navegantes, teve seu projeto redigido e datilografado pelo autor do presente prefácio, e, precisamente, com a mesma máquina datilográfica.

Doze anos depois, novamente se encontraram, o idealizador da campanha de emancipação e o mentor político da gestão junto à Assembleia Legislativa de Santa Catarina, na época deputado federal. Um escrevendo a história e o outro o seu prefácio.”

Na década de 1970, Elias Adaime se fixou em definitivo em Itajaí. Na cidade, ele fundou o jornal “O Correio” no dia 12 de outubro de 1973, que tinha entre seus colaboradores o também advogado Dalmo Vieira, fundador do jornal Diário do Litoral, o Diarinho. O jornal chegou a ser censurado pelo Regime Militar devido às críticas que fazia aos governos Estadual e Federal.

Em Itajaí, Adaime foi ainda assessor do prefeito Arnaldo Schmitt Júnior (PMDB) na década de 1980. Elias Adaime era casado com Maria Nadir Nöthen, com quem teve dois filhos. Ele faleceu no dia 5 de março de 1983, em Blumenau, aos 60 anos.


ATENÇÃO: Você não pode copiar o conteúdo
Direitos reservados ao Jornal nos Bairros