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UMA POLÊMICA TRAVESSIA

Ferry Boat paralisa atividades

 COLUNA: Outros Quinhentos – Por Rogério Pinheiro

Moradores de Navegantes sofrem para atravessar o rio Itajaí-Açu há mais de 100 anos 

“Embarcações arcaicas, sem conforto, uma morosidade capaz de enervar até o bicho preguiça, em completo desacordo com o movimento de passageiros e com os nossos foros de cidade progressista, levam-nos a pedir por misericórdia, uma reforma geral nesse serviço”. O desabafo de um morador de Navegantes sobre o serviço de travessia entre Itajaí e Navegantes parece até atual, mas foi feito há 86 anos. A queixa do morador foi publicada na edição do dia 5 de outubro de 1937, do Jornal Reação e não foi a primeira.

A coluna “Outros quinhentos” retorna para contar a história conturbada da travessia entre Itajaí e Navegantes. Uma história que começa ainda no século 19 com o transporte improvisado por pequenos barcos dos próprios moradores. Com o crescimento do então bairro de Itajaí, a necessidade de fazer a travessia se tornou vital. Moradores de Navegantes dependiam de Itajaí para tudo, trabalho, serviços e principalmente atendimento médico.

A reclamação de 1937 não foi a primeira. O Jornal Typographo, de 7 de setembro de 1911, criticou a demora para fazer a travessia. Na época, não existia ferry boat entre Itajaí e Navegantes e sim um serviço de passagem.

“Não tem qualificativo possível a péssima administração que está tendo a passagem sobre o rio Itajaí. Para se conseguir atravessar o rio é necessário a pessoa revestir-se de uma paciência sem limites”.

Outra reclamação constante era a falta de um abrigo para os passageiros. De tanto pedir, a Prefeitura de Itajaí construiu um abrigo em Navegantes. O Jornal do Povo, de 20 de abril de 1958, noticiou a novidade.

“Terá lugar hoje, às 11 horas, a inauguração do Abrigo da Passagem, construído na rampa que atende ao serviço de transporte de passageiros, por embarcações entre Itajaí e o bairro de Navegantes. Mandado construir pela Prefeitura, veio essa obra inegavelmente, preencher uma necessidade, a de dar abrigo, durante os dias de chuva e de sol causticante, aos que residem em Navegantes.”

Serviço de ferry boat começou a operar em 1979 depois de nove anos de adiamentos. Crédito: Arquivo Público de Itajaí

A novela do ferry boat

Aos trancos e barrancos o serviço de travessia entre Itajaí e Navegantes seguiu com as reclamações habituais. Um sinal de esperança surgiu no começo de 1970. No dia 18 de abril daquele ano, o Jornal do Povo anunciou que uma empresa operaria um serviço de ferry boat.

“Segundo informações obtidas, uma firma particular mandou construir um ferry boat para colocar no serviço de transporte de veículos entre Itajaí e Navegantes.”

O tempo passou e o projeto do ferry boat não saiu do papel, segundo informações do Jornal do Povo, de 7 de janeiro de 1978. Em maio do mesmo ano, a Associação Empresarial de Itajaí (ACII) cobrou da empresa responsável o motivo do atraso.

No dia 23 de setembro de 1978, o Jornal do Povo publicou uma nota sobre a inauguração do serviço do ferry boat, que deveria operar em outubro daquele ano.

“Está previsto para fins de outubro a inauguração do ferry boat, que ligará Itajaí e Navegantes, na travessia do rio Itajaí-Açu. Com capacidade para transportar a cada viagem 18 automóveis e 500 pessoas, esse sistema de navegação fluvial possui 23 metros de comprimento por 11 metros de largura e virá atender antiga aspiração dessas duas comunidades.”

A nota do jornal não foi o último capítulo da novela. Embora anunciado, o ferry boat não saiu mais uma vez no prazo, conforme nota publicada na coluna Gente/Notícia, do Jornal do Povo, de 3 de fevereiro de 1979.

“E o ferry boat que ligará Itajaí e Navegantes ainda não tem data prevista para seu funcionamento. Os Navegantinos já não acreditam nas promessas de inauguração.”

Depois de nove anos do primeiro anúncio, o ferry boat foi finalmente inaugurado. A informação é do Jornal do Povo, de 8 de dezembro de 1979. Com a inauguração vieram também as novas tarifas, alvos de novas queixas anos mais tarde.

Mesmo com o ferry boat, a insatisfação continuou entre seus usuários, já que a qualidade do serviço prestado não melhorou como prometido. A coluna Painel do Jornal do Povo, de 2 de março de 1985, publicou uma nota a respeito.

“Alguém num belo dia e num passado não muito distante, prometeu uma série de vantagens ao pessoal que se utiliza dos serviços da travessia entre Itajaí e Navegantes. Na realidade o que houve foram exageros aumentos para os veículos e operários.”

Travessia em 1982. Crédito: Arquivo Público de Itajaí 

Gratuidade

Apesar do serviço precário, uma boa notícia para quem usava o ferry boat na década de 1980 foi a gratuidade para pedestres. Na década de 1990, pedestres e ciclistas também não pagavam passagem. A informação é do Jornal do Povo, edição de 25 de maio de 1985.

“As passagens para pedestres no ferry boat que liga Itajaí a Navegantes poderão ser tornadas gratuitas em caráter definitivo, disse o secretário dos Transportes e Obras, Marcos Rovaris.”  

Licitação

 A falta de concorrência pública sempre foi um obstáculo para que o serviço de travessia entre Itajaí e Navegantes melhorasse. Operando em caráter emergencial, a empresa que administra o serviço nunca teve compromisso de oferecer facilidades para seus usuários, por exemplo, a forma de pagamento para fazer a travessia. A NGI Sul até hoje não aceita pix ou qualquer tipo de cartão.

Em setembro deste ano, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) restabeleceu decisão que obriga o Estado de Santa Catarina a realizar licitação para a concessão do serviço de ferry boat. A Constituição Federal determina, em seu artigo 175, que os serviços que o poder público optar por não prestar diretamente deverão ser prestados sob o regime de concessão ou permissão, sempre por licitação. Dessa forma, o Estado está obrigado judicialmente a licitar o serviço, que é público, no prazo de 60 dias.

Contraponto   

Durante uma audiência pública realizada na Câmara de Vereadores de Navegantes em agosto deste ano, um representante da NGI Sul explicou a razão pela qual a empresa não aceita cartões de crédito ou pix nas embarcações. Segundo ele, o pagamento só é aceito em dinheiro, tendo em vista a instabilidade de sinal das máquinas de cartões.

A coluna “Outros quinhentos” questionou a NGI Sul sobre a audiência pública realizada em Navegantes e a decisão do STJ a respeito da licitação. Até o fechamento da coluna, a assessoria de imprensa da empresa não tinha enviado resposta alguma.


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