Foto: Time do Navemar na década de 1980. Clube começou com o nome de Vai ou Racha em 1958Crédito: Álbum Família/Sueco
Por Rogério Pinheiro
Em 1974, Navegantes estava muito longe de ser a cidade em desenvolvimento de hoje. Até mesmo muitas de suas ruas e avenidas não existiam. A avenida Nereu Liberato Nunes, por exemplo, não passava de um caminho rodeado por mato que dava acesso ao aeroporto. Era lá que o senhor Leopoldo Cândido Couto tinha terras. Naquela época ele queria comprar uma vaca, mas faltava grana.
A sorte dele mudou quando três jovens convenceram o senhor Guilherme José Palumbo a emprestar 4 mil cruzeiros para comprar um dos seus terrenos. Leopoldo não perdeu a oportunidade, vendeu o terreno e comprou a vaquinha que tanto sonhava. Já os amigos ficaram com o terreno e começaram a limpá-lo. Nascia assim um dos mais tradicionais clubes de Navegantes, o Navemar.
– Isso aconteceu em setembro de 1974. Foi em um sábado chuvoso. Vieram até na minha casa o Nélio José Bento (In memoriam), Leopoldo Gaya e o Odécio Adriano. Eles pediriam um dinheiro para comprar o terreno, 4 mil cruzeiros – conta a esposa do senhor Guilherme, Eunice Coelho Palumbo, 75 anos.
A história do Grêmio Esportivo de Praia e Campo Navemar começa bem antes da compra do terreno e com um time de futebol. Em 1958, jovens navegantinos criaram o “Vai ou Racha”. O time surgiu por iniciativa do irmão da dona Eunice, Eurico João Coelho, 79 anos.
– Eu que fundei, eu e mais três: Pedro Paulo da Luz (in memoriam), Orlando César Araújo e José Manoel Reiser. No dia seguinte veio a turma e fizemos um time de futebol. Logo em seguida compramos as camisas, que era azul e branco. Era um time muito bom mesmo – recorda.
Depois da compra do terreno, começou o trabalho de limpeza, que era realizado nos fins de semana.
– A primeira coisa que fizemos foi ir no sábado para lá para cortar o mato. Abrimos o terreno e logo em seguida começaram a alargar a rua que era um caminho. Foi batalhado para fazer a sede, haja dinheiro. A estrutura começou bem devagar porque não tinha dinheiro suficiente. Quem ajudou muito mesmo foi o Cirino (Cirino Adolfo Cabral) no tempo que ele foi prefeito. Ajudou com barro, com máquina, tudo isso – completa.
Com o tempo, o clube ganhou um salão para festas, casamentos e eventos como o tradicional baile de carnaval “Azul e Branco”, que quase não aconteceu devido à ameaça de interdição do salão.
– Os bailes de carnaval marcaram muito. Quando nós fomos para lá e dissemos vamos fazer, quiseram interditar o salão. Aí veio o nosso engenheiro e disse: “eu sou o responsável e vamos fazer”. Fizemos o baile no dia seguinte e quando terminou o baile começamos a fazer toda a estrutura novamente – relata.
Eurico não concorda com algumas mudanças que aconteceram no Navemar nos últimos anos, principalmente a retirada da placa com os nomes dos fundadores.
– Acabaram com algumas coisas lá. Quando foi tirado o futebol de salão dali da frente para fazer o estacionamento nós não gostamos. Derrubaram até a placa dos fundadores – lamenta.
Outro jogador do “Vai ou Racha”, Manoel Stalin Fernandes, 77 anos, lembra de um jogo em Curitiba que inspirou a criação do Navemar.
– Eu jogava atrás, era lateral direito. Nós ganhamos. Até o Pedro Paulo, nosso amigo que não está mais aí, fez o gol. Foi lá que saiu a ideia de construir a sociedade. Aí voltamos e chegando aqui procuramos um terreno – conta.
Segundo Stalin, o terreno não tinha estrutura alguma e tudo foi feito do zero.
– Era tudo aberto, vala, água, pedra, era um banhadão. Era difícil até para localizar o terreno. Tinha moradores só na rua geral. Tivemos muita ajuda da Prefeitura de Itajaí. Não tinha luz, não tinha estrada, não tinha nada – lembra.
Para o navegantino, o clube precisar fazer algumas mudanças com urgência.
– O Navemar hoje tem que mudar toda a estrutura. O esporte não tem problema, mas a sede social tem que ter outros objetivos. Baile não se faz mais, a debutante não quer mais debutar, quer passear. Tem que fazer para casamento, para evento, para poder ajudar nas despesas. Manter os campos, os campos estão se acabando. A sede tem que oferecer um evento. Se você quer que a Prefeitura ajude, ofereça para a Prefeitura para fazer uma escolinha de futebol – argumenta o sócio-fundador.
Clube tenta recomeçar após pandemia
Com 264 sócios titulares, o Navemar tenta voltar ao mesmo patamar de antes da pandemia, quando chegou a ter 570 sócios, como conta o presidente Renan Valmor Baldança, 36 anos.
– Com a pandemia ficou 264 titulares, mas não 264 pagantes. Nós chegamos a ter mês na pandemia com 40 pagantes. A gente conseguiu caminhar e fazer uma parceria boa com o Fort Atacadista ao lado. Nós locamos para eles o nosso terreno da frente e isso deu uma renda que ajudou a manter as pontas – explica.
Mesmo criticado, Renan defende o aluguel do terreno do clube para a rede de supermercados.
– Se fez necessário a locação daquele terreno, porque numa pandemia, durante oito meses os sócios não podiam entrar, alguns continuaram contribuindo, mas a grande maioria não. Inclusive não tiro a razão deles, eles perderam emprego, perderam renda, suas empresas quebraram. A nossa despesa com folha de pagamento, despeja fixa do clube não sai por menos de R$ 15 mil – desabafa.
Segundo o presidente, algumas medidas já foram tomadas para aumentar o número de sócios e melhorar a estrutura do clube.
– Hoje temos um fotógrafo que está fazendo a cobertura para divulgar e compartilhar nas nossas redes sociais, alguns jogos estão sendo transmitidos pelo YouTube. Agora estamos fazendo uma reforma no nosso salão social, uma grande reforma com acessibilidade que hoje não tem. A gente vai voltar a fazer os eventos no salão, inclusive as locações para o pessoal fazer casamentos, formaturas, fora os eventos próprios – conta.
Outra mudança é a recolocação da placa com os nomes dos fundadores do Navemar.
– A gente tem um projeto pronto que é fazer um hall de entrada, colocando lá o nome de todos os fundadores. O projeto está pronto, só que o primeiro passo, optamos para fazer a reforma do salão porque isso vai gerar uma receita maior, questão de formatura, locações – concluiu o presidente do clube.